Apenas nos primeiros 12 dias de
agosto, o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal recebeu 424 chamadas
de combate a focos de incêndio florestal. Ou seja, mais de 35 por
dia. Ontem, foram registrados 37. A baixa umidade relativa do ar,
alerta a corporação, agrava a situação, que pode ser amenizada
com ajuda da população. “As pessoas, infelizmente, continuam
sendo os principais causadores de incêndios. Muitas vezes, os
chacareiros vão limpar os lotes, queimando resíduos, e perdem o
controle das chamas”, explica o supervisor de Serviço Ambiental
dos Bombeiros, tenente Elmar Chaves da Silva.
No mesmo período do ano passado,
foram mais de 1,4 mil focos atendidos. “Esta época do ano é
sempre muito corrida para a gente. A maioria dos incêndios é de
pequeno e médio porte, mas, mesmo assim, dá trabalho”, ressalta o
supervisor de Serviço Ambiental. Até ontem, aproximadamente 3 mil
hectares de área verde foram queimados. Em 2013, até o fim do mês
de agosto, o número ultrapassou 4,9 mil hectares. “Acredito que
esse número deve ser ultrapassado este ano. Digo isso pela
quantidade de atendimentos que estamos fazendo”, diz o tenente.
Ainda segundo o Corpo de
Bombeiros, no mês passado foram 638 focos de incêndio registrados,
com mais de mil hectares queimados. Em julho de 2013, o número de
incêndios chegou a 841 com 1,3 mil hectares queimados. Do início do
ano até agora, as ocorrências somam quase 1,6 mil. Com tantos
incêndios, a corporação recebe reforço nesta época do ano. “A
quantidade de homens depende do grau de especialização dos mesmos,
assim como o que se considera um incêndio de grandes proporções”,
avalia Elmar.
Nesta época do ano, são
necessários aproximadamente 200 homens empregados exclusivamente
para o serviço de combate a incêndios florestais. “Nosso esforço
é redobrado”, salienta o tenente. Ainda de acordo com a
corporação, para o serviço, muitas vezes são necessários
helicópteros; caminhões tanque; aviões; viaturas; queimadores para
incêndios controlados; abafadores; GPS e outros equipamentos.
Combinação desagradável
piora clima
Outro fator que eleva a
quantidade de incêndios florestais é a combinação da seca com a
baixa umidade do ar. Segundo o Corpo de Bombeiros do DF, o clima
proporciona a secagem rápida da vegetação, aumentando muito o
risco de queimadas. A situação preocupa, inclusive, a Secretaria de
Defesa Civil do DF. Na segunda-feira, o órgão informou que a região
continua em estado de atenção. Nas próximas 72 horas, a pasta
divulgará nova avaliação quanto ao estado de atenção e a
necessidade de novas medidas.
“A temperatura está elevada,
e a umidade do ar vem baixando nos últimos dias, o que pode
ocasionar problemas de saúde à população. Por isso, decidimos,
estabelecer o estado de atenção, como medida preventiva",
explicou o secretário de Defesa Civil, coronel Luiz Carlos Ribeiro.
A decisão foi tomada após o órgão acompanhar as variações
climáticas quanto à umidade relativa do ar dos últimos dias.
O índice chegou a 20% nas horas
mais quentes de ontem, segundo o Centro de Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos. De acordo com informações do Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), o problema deve se prolongar até
setembro na região do DF.
Aquela sensação de
desconforto
Os brasilienses já sentem os
efeitos da seca. “Dá para perceber que está bem seco. A gente
caminha e logo sente sede. Se você for praticar esportes às 16h,
por exemplo, seu corpo não reage como em dias normais, sem estiagem.
É uma sensação de desconforto o tempo todo”, afirma a engenheira
mecânica Tammy Inglez, 26 anos. A jovem acredita também que há
mais focos de incêndio espalhados na região neste ano. “Eu viajei
de carro no último fim de semana e vi muita queimada acontecendo. Eu
moro no Lago Sul e ontem mesmo teve uma”, lembra.
Tammy e a irmã, Thais, de 28
anos, estavam andando de patins no Parque da Cidade no final da tarde
de ontem e tiveram de interromper o exercício para tomar água e
molhar o cachorro de estimação da família. “Quem mais sofre com
todo esse calor e seca é o Biscoito (nome do cão). Aí, temos que,
literalmente, molhar o Biscoito, porque ele sofre muito. Já a gente
toma muita água e procura sair nos horários em que o sol está mais
ameno”, salientam as jovens.
Segundo a Defesa Civil, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que a umidade relativa
do ar ideal é de 60%. A OMS recomenda decretar estado de atenção
quando os índices ficam entre 20% e 30%.
Recomendações
Por isso, nos dias mais secos, a
orientação é que a população consuma bastante água, procure
locais protegidos do sol, especialmente áreas arborizadas, e evite
fazer exercícios físicos ao ar livre nas horas mais quentes. Além
disso, os locais com aglomerações e aparelhos de ar-condicionado,
que retiram ainda mais a umidade dos ambientes, também devem ser
evitados.
“Eu procuro praticar
exercícios só depois das 16h, mas, mesmo assim, estou sentindo
muito a seca deste ano. Meus lábios estão até rasgando. Isso não
aconteceu nos outros anos”, diz o jovem estudante Pedro Quinhones,
de 16 anos. Para ele, os focos de incêndio também estão mais
perceptíveis. “Acho que as queimadas aumentaram. Como ando muito
de ônibus, volta e meia enxergo pontos de incêndio na cidade. É um
período de atenção mesmo”, completa.
Atenção com crianças
Segundo a Secretaria de Defesa
Civil do DF, as crianças merecem cuidados ainda mais especiais, pois
têm a pele mais sensível e vulnerável. A hidratação é
essencial, principalmente de dentro para fora, com a ingestão de
bastante líquido. Os pais precisam redobrar os cuidados para
garantir que os pequenos estejam sempre bem hidratados. Os idosos,
suscetíveis a problemas respiratórios, também exigem atenção.
Ainda segundo a Defesa Civil,
deve-se ter atenção especial para as escolas, onde os bebedouros,
inclusive de emergência (potes e garrafas) devem ser oferecidos aos
alunos em número acima dos já existentes, com boas condições de
higiene e qualidade da água. O órgão também recomenda, entre
outros pontos, a perguntar com frequência (a cada 20 minutos) se
algum estudante está com vontade de beber água.
Além disso, deve-se estar
atentos aos alunos com ânimo abatido ou queda rápida de rendimento
e comunicar a direção da escola. As salas de aula precisam de
máxima ventilação possível. Para a merenda, o melhor são
alimentos mais úmidos e leves, e, pelo menos uma vez no período, é
bom criar oportunidade para que as crianças umedeçam as narinas e a
face.
Meio ambiente
Um fator que contribui para a
seca é a forte massa de ar seco que atinge a região neste momento,
inibindo a formação de nuvens e facilitando a queima das matas.
Para evitar os incêndios, com os consequentes prejuízos à fauna e
à flora, os brasilienses são orientados a não jogarem pontas de
cigarros nas ruas e nem fumar em locais onde houver vegetação.
Se algum incêndio for
identificado, é recomendado o contato com Corpo de Bombeiros
(telefone 193) ou com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Dicas
Não jogar pontas de cigarro pela
janela do carro e nem fumar em locais com vegetação densa.
Em acampamentos, evitar fazer
fogueiras, mas se forrealmente necessário, vigiar sempre e apagar
totalmente antes de se afastar do local.
Orientar e monitorar as crianças
para não brincarem com isqueiros e fósforos, principalmente próximo
a vegetações.
Memória
Em 2011, o Distrito Federal ficou
em estado de alerta por conta da estiagem. Foram mais de 100 dias sem
chuvas. Na época, era comum a capital da República amanhecer com o
céu encoberto pela fumaça dos incêndios.
Por conta disso, cerca de 500
militares foram escalados para conter queimadas, com o apoio de 17
viaturas e dois helicópteros.
Naquele ano, a Secretaria de
Defesa Civil chegou a recomendar às instituições públicas e
privadas que suspendessem suas atividades quando eram percebidos
sinais de graves danos para a saúde ou quando focos de incêndio
afetavam as atividades nos ambientes de trabalho ou escolas.
Fonte: Da redação do Jornal de
Brasília
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