O Projeto Cão-Guia de Cegos do Distrito Federal é desenvolvido pela
Associação Brasiliense de Ações Humanitárias (ABA), uma ONG que
funciona no complexo da Academia do Corpo de Bombeiros Militar do
Distrito Federal. Em entrevista, a senhora Lúcia Campos,
coordenadora do projeto, falou sobre o funcionamento e do que um
portador de deficiência visual precisa para participar.
INTEGRA - ABA
A Associação Brasiliense de Ações Humanitárias é presidida pela
senhora Lúcia Bittar e foi criada em 1999. Já foi conhecida como
Instituto de Integração Social e de Promoção da Cidadania
(INTEGRA) e, hoje como ABA, é regulamentada pelo Decreto nº 30.785,
de 04 de setembro de 2009, que a qualifica como Organização Social
para projeto de execução de governo. Em 2005 foi sancionada a Lei
nº 11.126, de 27 de junho de 2005, que dispõe sobre o direito do
portador de deficiência visual de ingressar e permanecer em
ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.
OS CÃES
O projeto trabalha com cães da raça Retriever do Labrador devido a
seu temperamento dócil e à facilidade no cuidado. Até o ano de
2005 a instituição recebia doações de cães, mas destes somente
de 20% a 30% eram aproveitados nos treinamentos devido às condições
de saúde e comportamentais. Um Marley (referência ao filme “Marley
e eu”) não seria um bom cão-guia, disse Lúcia Campos. A partir
de 2006 o projeto passou a criar, procriar e educar os labradores
para a formação do cão-guia e o aproveitamento subiu e ficou entre
70% e 80% das ninhadas. Atualmente são utilizados os cães
denominados de “chapa A” ou “chapa B”, conceitos para saúde
ótima e muito boa respectivamente.
O TREINAMENTO
Socialização – Treinamento – Hospedagem (curso de adaptação)
– Ambientação.
Os filhotes nascidos no centro passam por uma avaliação de saúde e
os selecionados são encaminhados para a Socialização. Nesta fase o
cão é levado por uma família previamente selecionada pela ABA,
denominada “família hospedeira” (seleção em
caoguia.voluntariado@gmail.com), que recebe ração, material
específico, assistência veterinária e técnica, medicações e o
que mais se fizer necessário. A família hospedeira recebe o filhote
com cerca de 2 meses e permanece com ele até aproximadamente 1 ano e
meio. Ela tem a responsabilidade de levar os cães aos mais diversos
locais para que eles conheçam o mundo no qual estarão inseridos ao
guiar os portadores de deficiência visual. Os cãezinhos são
levados a shoppings, restaurantes, ônibus, metrô, praças, escolas,
faculdades, etc. e tem o direito de acesso garantido pela Lei nº
11.126, acima mencionada.
Para se tornar uma família hospedeira é necessário que o principal
responsável pelo cão tenha mais do que 18 anos, more em casa, goste
de cães, tenha disposição e paciência para colaborar e aprender
além de tempo disponível para as atividades de socialização. Após
o período de socialização o cão volta ao centro, passa por uma
série de avaliações, quando apto é iniciado o treinamento
específico com a equipe de treinadores de cães-guias.
O treinamento com cada cão dura de 6 a 8 meses e acontece nas
instalações do centro, espaço cedido pelo CBMDF. É realizado
pelos bombeiros do Distrito Federal, são 5 militares no total. Os
primeiros bombeiros envolvidos no projeto fizeram o curso no
Fondation MIRA, no Canadá (http://www.mira.ca/) e repassam os
conhecimentos para os próximos treinadores, todos militares do
CBMDF. A duração do curso completo para os treinadores é de cerca
de 2 anos, porque para adquirir este título é necessário formar 5
cães-guia. E para se tornar um instrutor é necessário formar 8
duplas (cão-guia + cego adaptado). Cada treinador pode formar até 2
cães-guias por vez. Estes números são determinados pelo Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO).
HOSPEDAGEM
Trata-se do processo no qual o cego selecionado pelo projeto se
hospeda no centro por 15 dias para a interação com o cão. Este é
um período para ver se o perfil de ambos é compatível e treinar o
usuário para os desafios diários que ele terá com o cão em casa,
na rua e nos lugares para onde eles forem. Este processo tem um custo
para o cego, porque o centro providencia a hospedagem, a alimentação,
o treinamento e o equipamento do animal. Entretanto não há custo
para a aquisição do cão que é cedido por meio de contrato. Assim
são estabelecidos os direitos e deveres do treinador, do animal, do
cego e se garante o bem-estar do cão.
Para ser beneficiada pelo projeto, a família deve preencher a ficha
de inscrição (solicitar a ficha via e-mail
(caoguia.cadastro@gmail.com). Porém não são feitos novos
cadastros, desde 2013, porque ainda não foi suprida a demanda dos
anos anteriores.
AMBIENTAÇÃO
Nesta etapa o treinador acompanha o usuário em seu ambiente
domiciliar para a adaptação da dupla (cego + cão-guia) e tem a
duração de 3 a 7 dias.
Atualmente o projeto conta com 49 cães, sendo que 16 deles estão em
treinamento. Foram formadas 42 duplas desde 2002, destas 25 estão
ativas e 16 fora do Distrito Federal. Tiveram também um cão famoso,
o labadror Quartz participou da telenovela América, Rede Globo
(2004/2005), como cão-guia da personagem Jatobá.
Os cães que se aposentam , com cerca de 8 a 10 anos, são postos
para adoção. Os interessados pelos cães participam de um processo
seletivo simples, composto de questionário e visita domiciliar.
Basta mandar um e-mail para caoguia.voluntariado@gmail.com e aguardar
o contato do projeto.
Fonte: CBMDF
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