Em julho do ano passado, uma equipe do Corpo de
Bombeiros, responsável pela área de Taguatinga, recebeu uma ocorrência por meio
do telefone 193. Ao chegar ao local, havia um homem com crise convulsiva e, ao
lado, um cachorro de nome Spike. O animal perseguiu a viatura por mais de 2km
até que os militares permitissem que ele subisse no veículo. O sargento
Celiomar Ferreira Couto, 42 anos, registrou a cena. O Correio conversou com o bombeiro que fez as
gravações. Tamanha a repercussão, o vídeo é o mais visto do jornal, no canal do
YouTube, com quase 1 milhão de visualizações.
Celiomar, que trabalha há quase 20 anos na corporação,
contou que nunca atendeu um caso como este. A ocorrência chegou pela manhã e,
na descrição, um homem teria caído e batido a cabeça, próximo ao posto de
atendimento do Departamento de Trânsito (Detran-DF), em Taguatinga. “Quando
chegamos ao local, a vítima — dono do Spike — sofria uma crise convulsiva. Um
amigo e o cachorro estavam ao lado e acompanharam os primeiros procedimentos. Quando
colocamos o rapaz na ambulância, percebi que Spike manifestaria a vontade de ir
junto, então pedi ao colega da vítima que segurasse o cão.”
Mas Spike não se deu por vencido. Fugiu e correu atrás
da ambulância. Quando a equipe percebeu que o cachorro os seguia, o carro havia
percorrido quase 2km de distância do local da ocorrência. Celiomar pegou o
celular de outro sargento e começou a gravar. “Em determinado momento, o
semáforo fechou, o animal emparelhou com o carro e tentou subir na viatura,
aparentemente cansado, com a língua para fora. Como eu era o chefe da equipe
naquele dia, pedi aos outros colegas para deixarem ele entrar na ambulância.”
Em seguida, a vítima foi levada ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT).
Como o fiel animal de estimação que se mostrou até
aquele momento, Spike continuou acompanhando o dono. Ele entrou no hospital e
ficou ao lado da maca até o dia seguinte, quando a vítima recebeu alta. Depois
disso, ninguém mais soube do paradeiro do animal ou do dono, que é morador de
rua.
O sargento e a família criam um poodle, Tomy, há 14
anos. Todos na casa consideram o cachorro um integrante do lar. O militar
argumentou que, no momento em que viu Spike, lembrou do animalzinho de
estimação dele: “A amizade do Tomy por mim deve ser a mesma que o Spike tem
pelo dono. Impossível não me colocar naquela situação”.
O bombeiro lembra que, no dia seguinte à divulgação das
imagens na rede social, o número de pedidos de amizade e mensagens triplicou.
Não apenas de Brasília, mas de vários lugares do Brasil e do mundo: “Recebi
mensagens de parabéns em diversas línguas. Foram tantas que não dava para
responder a todas.” No canal do Correio no YouTube, o vídeo recebeu mais de mil
curtidas e vários comentários. Várias pessoas ligaram no Batalhão de Taguatinga
com interesse em adotar o Spike e ajudar o dono do cachorro. “Pessoas de outros
estados entraram em contato, veículos de imprensa do Japão, dos EUA, da China.
Não imaginei que o vídeo tomaria essa proporção”.
Por mais que o bombeiro entenda a relação de amor entre
Spike e o dono, ele se surpreendeu. “Em todos estes anos de corporação,
presenciei vários casos em que a vítima está com seis, sete familiares ao lado
e, mesmo assim, é difícil convencer algum deles a acompanhar a pessoa na
viatura até o hospital. O cachorro, às vezes, é mais companheiro do que muita
gente”, acredita Celiomar.
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