Na semana mundial de
Conscientização do Autismo o CBMDF pôde realizar o sonho de um
garotinho autista de voar num helicóptero. O Dia Mundial de
Conscientização do Autismo, celebrado anualmente em 2 de abril, foi
criado pela Organização das Nações Unidas em 18 de Dezembro de
2007 para a conscientização acerca dessa questão.
Os militares do Grupamento de
Aviação Operacional (GAVOP) precisaram fazer um voo de treinamento
e um destes militares, o Major Victor, aproveitou esta feliz
oportunidade para entrar em contato com a família de um garoto muito
especial, o Francisco.
Segue o depoimento da Raquel
Boing, mãe do Francisco.
"Quando Francisco tinha 7
anos, disse que queria andar de helicóptero. Primeiro desconversei e
expliquei que era muito difícil. Mas ele continuou insistindo e,
então, prometi que, quando ele fizesse 10 anos, iríamos fazer o tal
passeio. Pensei que fosse esquecer, mas crianças autistas, mais do
que as outras, não esquecem, nos mínimos detalhes, uma promessa
feita (isso inclui a circunstância, a data, a roupa...). Quando fui
me informar sobre o tour não havia mais o serviço disponível na
cidade. Acabamos fazendo um passeio de ônibus panorâmico e outro de
barco mas o helicóptero permaneceu no sonho, sempre que algum era
avistado no céu.
Eis que agora, justamente na
semana de conscientização do autismo, Francisco recebeu um enorme
presente: um passeio com os Bombeiros do DF!!! Foi lindo ver a sua
emoção a cada movimento da aeronave: as palmas, o sorriso largo e o
olhar atento, identificando os prédios e as ruas da cidade.
Ao chegar em casa, quis
imediatamente escrever no diário. Transcrevo aqui uma parte: “O
dia que andei de helicóptero. Não teve medo do helicóptero. Fiquei
bem tranquilo. Fiquei feliz. Não precisou dar a mão. O helicóptero
levantou. A subida foi super legal. O comandante dirigiu o
helicóptero. Coloquei o fone de ouvido. Depois sai e deu tchau para
o comandante”.
Não temos palavras para
agradecer o carinho e o cuidado que toda a equipe dos Bombeiros teve
com Francisco e conosco. Foi uma tarde inesquecível! Obrigada Victor
Spagnolo que lembrou do sonho do Francisco e proporcionou que a magia
acontecesse."
A história de Francisco
Francisco Boing Marinucci. Tem 11
anos. Foi diagnosticado com TEA (transtorno do espectro autista)
entre 3 e 4 anos.
Parece que foi outro dia que
Roberto e eu pegamos o teste positivo da presença de Francisco em
nossa vida. Era o dia 20 de dezembro de 2002. A médica havia nos
pedido para fazer os exames no próprio hospital para que ela pudesse
olhar e ver se estava tudo certinho. Alguns meses antes, naquela
mesma sala, tínhamos recebido a confirmação de um aborto... então
a espera era ainda mais cheia de ansiedade. Acho que, de tão
visível, o enfermeiro - que tinha nos atendido meses antes - nem
deixou que víssemos primeiro o resultado e já foi logo dizendo,
feliz, que estávamos novamente grávidos!!
Entre a alegria e o medo de
passar por tudo de novo, resolvemos não contar para ninguém e
partimos para a viagem de Natal já programada com todos os cuidados
do mundo. Por três vezes pensávamos tê-lo perdido. Mas o
coraçãozinho ficou sempre forte, mostrando-se presente! Foi uma
gestação cuidada, amada e acompanhada por muitos - desde alunos,
colegas de trabalho, amigos de perto e de longe, além de nossas
famílias. No dia 9 de abril descobrimos que nosso bebê seria um
menino e logo decidimos que se chamaria Francisco. Cada vez mais vejo
como a escolha do nome foi acertada, pois sua presença em nossa vida
é um constante ensinamento da oração de S. Francisco.
Seu nascimento não ocorreu da
forma como havíamos planejado e nos preparado, mas hoje temos a
certeza de que foi a decisão mais acertada. Os dez primeiros dias de
vida foram complicados e tivemos a ajuda de muitas pessoas,
especialmente tia Ida, tia Ana e Telma.
Nos meses que se seguiram, vimos
um menino crescendo feliz, que já batia palmas aos quatro meses de
idade, gostava de fazer filas com seus brinquedos, corria ao redor
das outras crianças sentadas, via infinitas vezes o desenho Boo!,
adorava embalagens e cantar jingles de propagandas. Falava pouco
espontaneamente, mas pensávamos ser uma conseqüência dos dois
idiomas falados em casa.
Quase aos três anos, percebemos
que as diferenças no desenvolvimento, gostos e hábitos em relação
a outras crianças eram muito fortes. E o submetemos a uma maratona
de investigações médicas, psicológicas e neuromotoras... Foi
difícil aceitar que todos caminhavam para o mesmo diagnóstico do
autismo - até porque não sabíamos quase nada sobre o assunto.
Como Roberto costuma dizer, os
filhos sempre nascem gêmeos: um está na imaginação dos pais e o
outro é o filho real. Foi preciso viver o luto do primeiro para
poder lutar pela vida do segundo.
Nesses anos todos em que temos
convivido com Francisco temos aprendido muito. Por muitas vezes não
foi e não é fácil: choros, gritos, hematomas, dentes quebrados, o
cuidado de planejar a seqüência de cada dia.. Ao mesmo tempo, sua
pureza e seu sorriso sincero, a felicidade expressada pelas pequenas
coisas me fazem ver o mundo por prismas diferentes.
Hoje, ao se sentar pela primeira
vez no banco da frente do carro, meu mocinho de dez anos não
conseguia conter a alegria!! E foi cantando suas músicas preferidas
até chegar à escola (aliás, um repertório variado com clássicos
da MPM, do rock e música sacra). E lá, ao deixá-lo feliz com os
coleguinhas, fiquei pensando que a primeira década passou, de fato,
rápido. Muitos obstáculos já foram ultrapassados!!Sei que ainda
teremos muitos desafios e esperamos - batalhamos - por um mundo em
que as diferenças sejam compreendidas e valorizadas.
E que venham as próximas
décadas!!
Raquel Boing Marinucci
Fonte: CBMDF
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