Os seis
ministros peemedebistas serão orientados a entregar seus cargos.
Saída do PMDB pode desencadear desembarque de outras siglas aliadas.
O Diretório Nacional do PMDB decidiu nesta terça-feira
(29), por aclamação, romper oficialmente com o governo da presidente Dilma
Rousseff. Na reunião, a cúpula peemedebista também determinou que os seis
ministros do partido e os filiados que ocupam outros postos no Executivo
federal entreguem seus cargos.
O vice-presidente da República e presidente nacional do
PMDB, Michel Temer, não participou da reunião que oficializou a ruptura com o
governo. O encontro partidário foi realizado em um dos plenários de comissões
da Câmara dos Deputados.
A decisão do PMDB aumenta a crise política do governo e é
vista como fator importante no processo de impeachment de Dilma. Há a
expectativa de que, diante da saída do principal sócio do PT no governo
federal, outros partidos da base aliada também desembarquem da gestão petista.
Atualmente, o PMDB detém a maior bancada na Câmara, com
68 deputados federais. O apoio ao governo, porém, nunca foi unânime dentro da
sigla e as críticas se intensificaram com a crise econômica e a deflagração do
processo de afastamento da presidente da República.
Na reunião desta terça, os peemedebistas decidiram que
todos os seis ministros da legenda terão que deixar os cargos. Quem descumprir
a medida poderá sofrer sanções. Nesta segunda (28), o então ministro do Turismo
Henrique Eduardo Alves, sétimo ministro da legenda, entregou o cargo à
presidente Dilma.
O vice-presidente da República, Michel Temer, não
compareceu à reunião, sob o argumento de que não desejava “influenciar” a
decisão. No entanto, ele teve participação ativa na mobilização pelo
desembarque do partido e passou toda a segunda-feira em reuniões com
parlamentares e ministros do PMDB, em busca de uma decisão “unânime”.
Dilma também lançou mão dos últimos esforços para tentar
resgatar o apoio do partido. Na manhã de segunda, ela chamou ao seu gabinete no
Palácio do Planalto seis dos sete ministros do PMDB para avaliar o cenário. No
entanto, no fim do dia, Henrique Alves, um dos presentes ao encontro,
apresentou a sua carta de renúncia.
Apesar do desembarque, Temer continuará na
Vice-Presidência da República sob o argumento de que foi eleito pela população
na chapa de Dilma e de que não ocupa, portanto, cargo de submissão à
presidente.
Afastamento
A decisão de afastamento já estava tomada, mas o PMDB
decidiu dar uma espécie de “aviso prévio” ao governo. Reunião da convenção
nacional do PMDB no dia 12 de março foi marcada por discursos em defesa do
impeachment de Dilma e do rompimento com o governo.
Na ocasião, ficou decidido que o partido anunciaria em 30
dias se desembarcaria ou não do governo. Também ficou estabelecido que o PMDB
não assumiria novos ministérios até que o fosse definido se haveria o
rompimento.
No entanto, dias depois, a presidente Dilma ignorou a
decisão e empossou o deputado licenciado Mauro Lopes (PMDB-MG) como ministro da
Secretaria de Aviação Civil. A nomeação foi vista como uma afronta pelo
partido, que abriu um processo no seu Conselho de Ética para expulsá-lo da
legenda. O episódio ajudou a agravar a crise e acelerou a decisão do partido.
Escalada da crise
A relação do PMDB com o governo do PT tem se deteriorado
nos últimos anos. Quando Dilma se preparava para disputar o segundo mandato, o
partido deu mostras claras de que estava rachado quanto ao apoio à petista.
Na época, em junho de 2014, a manutenção da aliança foi
aprovada pela convenção nacional do PMDB, mas recebeu mais de 40,8% de votos
contrários. A ala dissidente reclamava que o partido não era ouvido pelo
governo federal e que os ministros da legenda não tinham real poder de comando.
Ao longo do primeiro ano do segundo mandato de Dilma, a
crise se agravou. O primeiro embate entre PT e PMDB ocorreu na disputa pela
presidência da Câmara, quando o governo federal iniciou uma campanha ostensiva
para que Arlindo Chinaglia (PT-SP) vencesse a eleição e derrotasse o candidato
peemedebista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se elegeu em primeiro turno.
Sob o comando Cunha, a Câmara derrotou o Planalto em
diversas ocasiões neste ano, com a votação de matérias desfavoráveis ao
governo. Além disso, no ano passado, houve na Casa a instalação da CPI da
Petrobras, para investigar o escândalo de corrupção na estatal.
Para tentar conter a rebelião na base, a presidente
promoveu, em 2015, uma reforma ministerial para ampliar o espaço do PMDB no
governo, que chegou a ter sete ministérios. No entanto, a estratégia não foi
bem sucedida.
Para agradar os parlamentares na Câmara, o governo
entregou ao líder da bancada, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), a incumbência de
indicar nomes para duas pastas, incluindo a da Saúde, com o maior orçamento da
Esplanada. Essa aproximação descontentou ainda mais a ala rebelde do partido,
que se voltou contra Picciani quando ele indicou integrantes menos críticos a
Dilma para a comissão do impeachment.
Ele chegou a ser destituído do posto em dezembro por oito
dias em uma articulação patrocinada diretamente por Temer e Cunha, mas
conseguiu reaver o posto com o apoio da maioria.
Para ser reeleito neste ano, foi preciso uma atuação
direta do Planalto para garantir a ele votos suficientes, inclusive com a
exoneração temporária do ministro da Saúde, Marcelo Castro, para reassumir como
deputado e votar a favor de Picciani.
Apesar da entrega de cargos, a ala do PMDB descontente
com o governo ganhou força com a queda continuada de popularidade da presidente,
agravada pela escalada de denúncias relacionadas à Operação Lava Jato.
Fonte: Nathalia Passarinho e Fernanda Calgaro – Do G1, em
Brasília (Foto internet)
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