O
patrimônio mais valioso da Campanha Paz no Trânsito está nas vidas
salvas a partir de agosto de 1996, com a redução dos acidentes
fatais e de mortos e feridos no Distrito Federal. Mas houve ganhos
também para o Brasil. O projeto de lei que reformou o Código de
Trânsito Brasileiro (CTB) mofava havia três anos na Câmara dos
Deputados. Acabou desengavetado quando Brasília parou para exigir
providências. O respeito à faixa de pedestres começou pela capital
e ainda é exemplo para o resto do país. Mas outras conquistas, como
o placar da vida, se perderam com o tempo.
Na
edição de ontem, o Correio mostrou que 25 mil pessoas ocuparam o
Eixão para pedir paz no trânsito, há 20 anos. À época, o
deputado federal Augusto Carvalho acompanhou os trâmites para a
aprovação do CTB. “Naquele momento, quando os números de mortos
refletiam estatísticas macabras, o Correio deu início ao movimento
que representava o sentimento da opinião pública. Sem esse
trabalho, certamente, a aprovação (do CTB) teria demorado ainda
mais”, ressalta o político, de volta à Câmara dos Deputados pelo
SD-DF. Os parlamentares aprovaram o CTB quatro anos, quatro meses e
três dias após a primeira leitura em plenário.
A
sistematização das informações sobre acidentes e vítimas por
parte do Departamento de Trânsito do DF (Detran) é outro legado da
Paz no Trânsito. Assim como o investimento em carros e pessoal para
a fiscalização. “Sabíamos que tínhamos um problema, mas não
tínhamos como provar. Faltavam números”, lembra Luís Miúra,
diretor do Detran à época do início da campanha.
Em
1996, o Detran tinha 50 agentes. Já no fim de 1998, esse número
dobrou, assim como a quantidade de viaturas, que saltou de 25 para
50. Algumas das medidas anunciadas sequer saíram do papel, como a
divulgação dos nomes dos infratores nos jornais e a aplicação de
multas a motoristas que ultrapassassem agentes de trânsito cujos
carros estivessem com a placa indicando o limite de velocidade da via
(veja quadro). Hoje, o Detran tem 612 agentes de fiscalização.
Tragédia
Ao
fim de três anos, de 1996 a 1999, o número de mortos caiu de 704
para 431: 38,7%. O engenheiro Antônio Carlos Lins e a mulher dele,
Vanda Maria Dias Lins, acompanhavam as transformações no trânsito,
em 11 de junho de 1999, quando foram arrastados para uma tragédia. O
filho mais velho, Carlos Augusto Dias Lins, 17 anos, pedalava na QI
10 do Lago Sul quando foi atingido por um motorista que disputava
racha. Kadu, como era conhecido, morreu sete dias depois.
Superar
a dor passou a ser um desafio. A busca por justiça, uma meta.
Antônio prestou vestibular para direito. Tornou-se advogado e atuou
como assistente de acusação da promotoria no caso do filho. Nos
seis dias de julgamento, não verteu uma lágrima. Vanda apegou-se à
fé. Ingressou em grupos da igreja e fazia trabalhos voluntários em
hospitais. Alexandre, então com 13 anos, amparava-se nos próprios
amigos e nos do irmão mais velho, que o cercavam de cuidados.
Tornou-se advogado, mas escolheu ser bombeiro. É subcomandante do
quartel do Lago Norte, onde mora a família.
Alexandre
pensou em desistir do curso de formação de bombeiro. “Eu era
cadete. A sigla é CAD e o meu sobrenome Lins. Lembro que abaixei a
cabeça e perguntei: ‘Meu Deus, o que estou fazendo aqui?’ Abri
os olhos e vi a inscrição na minha blusa: CAD Lins. Carlos Augusto
Dias Lins (o nome completo do irmão), pensei. Naquele momento, eu
soube por que estava ali”, comentou, aos prantos, amparado pela
mãe.
Do
sofá de casa, Antônio assistiu à cena com os olhos marejados. “Não
queríamos que o Kadu fosse mais um na estatística. Conseguimos a
primeira condenação do DF por homicídio no trânsito com dolo
eventual. Isso abriu um precedente e mostrou para a sociedade que
haveria punição rigorosa para casos como aquele”, ressaltou.
Retomada
Diretora
de educação do Detran, Gláucia Simões explica que, embora não
tenha o mesmo destaque de 20 anos atrás, a Paz no Trânsito fazer
parte das estratégias de educação e das articulações com
diferentes
setores do governo. Ainda segundo ela, o órgão ampliou o
investimento na educação do condutor. Ano passado, foram gastos R$
12 milhões em campanhas publicitárias. A previsão para 2016 é de
R$ 20 milhões.
Gláucia
lembra que a maioria das mortes é resultado do mau comportamento.
“As pessoas ainda não entenderam que a ação delas altera o
número de acidentes em vias públicas”, frisa.
"Conseguimos
a primeira condenação do DF por homicídio no trânsito com dolo
eventual.
Isso abriu um precedente e mostrou para a sociedade que haveria, sim, punição rigorosa para casos como aquele”.
Isso abriu um precedente e mostrou para a sociedade que haveria, sim, punição rigorosa para casos como aquele”.
Fonte: Correio Braziliense
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