Por
Alexandre Garcia
O título não se refere aos
sargentos, nossos atletas amedalhados, mas ao soldado PM Hélio Viana
Andrade, de Roraima, que integrava a Força Nacional para dar
segurança aos jogos olímpicos no Rio. Ele merece uma moldura de
ouro, não por ter errado o caminho e entrado “por engano” em
território fora da soberania nacional, dominado por traficantes.
Merece moldura de ouro em seu túmulo em Boa Vista por ter sido a
vítima, o mártir, de uma sucessão de descalabros legais e
políticos que fizeram deste país o santuário de bandidos de todas
as espécies. Sua cabeça perfurada a tiros de fuzil sacode as
nossas, e nos faz perguntar como chegamos a esse ponto de medo, de
submissão imposta à polícia, de descrédito na lei e nas
instituições, fazendo com que o medo entre em nossas casas e nos
encontre desarmados e desamparados.
As manifestações de nossas
maiores autoridades são algo que os jornalistas de países
civilizados que nos visitam certamente jamais pensaram ouvir. O
presidente interino disse que a morte do soldado foi “um acidente
lamentável”. Ora, chamar isso de acidente só pode ter sido engano
do jurista Michel Temer. Ele deve ter querido dizer “incidente”.
Porque acidente, só se o traficante da Vila do João estivesse
limpando o fuzil e a arma disparou. E chamar de “lamentável” é
usar um adjetivo débil. Sem dúvida foi um incidente trágico,
horroroso e desafiador. O presidente também ressalvou “Mas
isto(SIC) não deslustra as Olimpíadas(SIC). As Olimpíadas(SIC)
estão transcorrendo em um ritmo normalíssimo”. Desculpe,
Presidente, mas não é “isto”- é “isso”. E é a Olimpíada,
porque as olimpíadas são as 31 se considerarmos as da era moderna.
Não deslustra a Olimpíada,
Presidente? Claro que deslustra. É um incidente gravíssimo. Só se
pode admitir que os jogos transcorrem em “ritmo normalíssimo”
reconhecendo que é normal atirar contra a polícia – hoje quase
mil policiais são mortos por ano. O país é recordista
mundial com quase 60 mil homicídios dolosos por ano – mais de 160
brasileiros mortos por dia por tiros, facadas, pauladas, pedradas,
agressões variadas. Normalíssimo com assalto ao Ministro da
Educação de Portugal, com assalto a nadadores americanos?
Deve ser normalíssimo para nós,
jornalistas, noticiar que a viatura da Força Nacional, ficou sob
fogo de fuzil por ter “entrado por engano” na Vila do João. Se
eu fosse general de uma força estrangeira a ocupar o Rio de Janeiro,
consideraria essa Vila como ponto estratégico crucial para a minha
logística, já que domina a junção das duas vias mais importantes
do Rio: a Linha Amarela e a Linha Vermelha. No entanto, o domínio é
de um santuário do tráfico, como prova o cadáver do Soldado Hélio.
A governadora de Roraima reclamou por eu ter lembrado nas redes
sociais que ela não foi ao enterro, prestar a última continência
ao soldado de ouro de seu estado. O governo alega que ela decretou
luto e foi ao velório, mesmo doente. Mas os americanos nos ensinam
que para combater o crime, além de leis eficazes, justiça rápida e
bons presídios, é preciso que a autoridade civil – presidente,
governador e prefeito – a cada oportunidade demonstrem fartamente a
importância do policial.
1 Comentários
CACETA!!!! Esse jornalista acaba de subir consideravelmente no meu conceito!!! Além de muito bem redigido, o texto ressalta grande parte do que penso sobre a justiça e a política brasileira!!! Parabéns, Sr. Alexandre Garcia!!!
ResponderExcluirObrigado pela sugestão.