Dez anos após uma das
maiores tragédias da aviação brasileira – a queda do voo 1907 da Gol, em 29 de
setembro de 2006 –, o major do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal Eloízio Ferreira
do Nascimento ainda tem dificuldades em falar do tema. Ele comandou a equipe de
militares enviada ao Mato Grosso para
ajudar na retirada das vítimas. Em entrevista ao G1, nesta quinta (29), ele reviveu alguns dos principais momentos
da operação.
"A gente nunca
tinha trabalhado em selva, mas já trabalhava com mergulho, busca com cães.
Assim que vimos a ocorrência pela TV, de antemão, a gente achou que poderia
ajudar. Passadas quase duas semanas, ainda faltavam sete pessoas a serem
identificadas", diz. Hoje, Nascimento é subcomandante do Grupamento de
Busca e Salvamento do DF.
A equipe chegou à
região de Peixoto de Azevedo (692 quilômetros ao norte de Cuiabá) em meados de
outubro, quando as Forças Armadas e os militares da área já tinham se exaurido
em buscas e apurações. Nos 11 dias em que permaneceram no Mato Grosso, o
trabalho consistia em recolher "fragmentos maiores e fragmentos
menores" dos corpos, lançados em um raio de 3 quilômetros de mata fechada.
Com a ajuda de cães
treinados em Brasília, o
grupo ajudou a identificar a última vítima – o advogado Marcelo Paixão Lopes,
de 29 anos. O sucesso da operação só foi descoberto em novembro, quando os
bombeiros já tinham retornado a Brasília e equipes do Instituto Médico Legal
(IML) do DF concluíram as análises de DNA.
"Quando eu voltei,
a gente ainda pensava que podia ter feito algo a mais porque faltavam três
identificações. Você volta com a sensação de que poderia ter feito algo a mais,
podia ter ficado mais, trabalhado mais. Só descobrimos que tínhamos concluído a
operação um mês depois. [...] Foi quando a gente conseguiu acalmar aquela
aflição".
Bombeiro do DF relembra
resgate do voo 1907 da Gol: 'nada te prepara'
Acidente matou 154
pessoas em 2006; ele ajudou a encontrar última vítima.
Boeing se chocou com jato e caiu em mata do MT sem deixar sobreviventes.
Boeing se chocou com jato e caiu em mata do MT sem deixar sobreviventes.
Militar do Distrito
Federal durante missão de resgate das vítimas do voo 1907 da Gol.
Dez anos após uma das
maiores tragédias da aviação brasileira – a queda do voo 1907 da Gol, em 29 de
setembro de 2006 –, o major do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal Eloízio Ferreira
do Nascimento ainda tem dificuldades em falar do tema. Ele comandou a equipe de
militares enviada ao Mato Grosso para
ajudar na retirada das vítimas. Em entrevista ao G1, nesta quinta (29), ele reviveu alguns dos principais momentos
da operação.
Na época, eu tinha um
filho de 1 ano, uma filha de 5 anos. A gente tem o costume de sair para buscas,
de passar dias em uma operação no DF, no Entorno. A distância de casa, de certa
forma, é algo negociado. Mas a gente sentia o quanto era complicado, essa
angústia que as famílias sentiam na época, não saber onde estavam os parentes,
o medo de não dar a destinação religiosa que eles queriam [aos restos mortais].
Era isso que angustiava"
Eloízio Ferreira do
Nascimento, major dos Bombeiros que comandou grupo de busca no resgate do voo
1907 da Gol, em 2006
"A gente nunca
tinha trabalhado em selva, mas já trabalhava com mergulho, busca com cães.
Assim que vimos a ocorrência pela TV, de antemão, a gente achou que poderia
ajudar. Passadas quase duas semanas, ainda faltavam sete pessoas a serem
identificadas", diz. Hoje, Nascimento é subcomandante do Grupamento de
Busca e Salvamento do DF.
A equipe chegou à
região de Peixoto de Azevedo (692 quilômetros ao norte de Cuiabá) em meados de
outubro, quando as Forças Armadas e os militares da área já tinham se exaurido
em buscas e apurações. Nos 11 dias em que permaneceram no Mato Grosso, o
trabalho consistia em recolher "fragmentos maiores e fragmentos
menores" dos corpos, lançados em um raio de 3 quilômetros de mata fechada.
Com a ajuda de cães
treinados em Brasília, o
grupo ajudou a identificar a última vítima – o advogado Marcelo Paixão Lopes,
de 29 anos. O sucesso da operação só foi descoberto em novembro, quando os
bombeiros já tinham retornado a Brasília e equipes do Instituto Médico Legal
(IML) do DF concluíram as análises de DNA.
"Quando eu voltei,
a gente ainda pensava que podia ter feito algo a mais porque faltavam três
identificações. Você volta com a sensação de que poderia ter feito algo a mais,
podia ter ficado mais, trabalhado mais. Só descobrimos que tínhamos concluído a
operação um mês depois. [...] Foi quando a gente conseguiu acalmar aquela
aflição".
"Na época, eu
tinha um filho de 1 ano, uma filha de 5 anos. A gente tem o costume de sair
para buscas, de passar dias em uma operação no DF, no Entorno. A distância de
casa, de certa forma, é algo negociado. Mas a gente sentia o quanto era complicado,
essa angústia que as famílias sentiam na época, não saber onde estavam os
parentes, o medo de não dar a destinação religiosa que eles queriam [aos restos
mortais]. Era isso que angustiava", conta.
Além do major
Nascimento, participaram do resgate os sargentos João Batista Oliveira Santos,
Roberto Batista do Nascimento, Gilson Mathias Lins, Jorge José Rodrigues dos
Santos e Elísio de Paula Ferreira. Na época, o major era tenente, e os outros,
soldados e cabos. Um veterinário do Exército deu apoio aos cães. Nenhum deles
tinha enfrentado qualquer situação parecida, naquela escala.
"A gente não tem
preparo para receber o impacto, nada te prepara para isso. Ele acaba sendo
substituído pelo dever de ser a única opção da população para resolver o
problema. Quando a gente chega, não tem para quem pedir auxílio, o Corpo de
Bombeiros acaba sendo a última esperança."
Os cães eram a última
esperança para encontrar as sete vítimas que seguiam desaparecidas. O caráter
de urgência foi percebido logo na chegada, quando a guarnição de Brasília foi
classificada com prioridade máxima.
"Na hora, a gente
meio que supera as condições emocionais de uma tragédia daquele tamanho.
Múltiplas vítimas, partes de pessoas. Claro que depois, quando a gente senta,
reflete, a gente vê que trabalhou numa situação de um estresse imponderável. É
importante manter a saúde mental, a saúde física", relembra.
Buscas na mata
Os detalhes da operação
de busca são fortes, e ajudam a dimensionar a gravidade do acidente. Quando as
equipes de Brasília chegaram ao local, a maior parte dos militares já se
dedicava ao resgate dos pertences das vítimas – havia uma impressão de que não
encontrariam mais fragmentos identificáveis dos corpos.
"Houve uma surpresa
muito grande do comando da operação quando os cães começaram a trabalhar. Por
duas semanas, já tinham passado forças de operações do Exército, da
Aeronáutica, e já estavam há alguns dias sem achar nada. Ficamos 11 dias, e
quase todo dia, localizamos muitos fragmentos. Como caía muita folha, muita
coisa já tinha sido coberta", conta o major Nascimento.
Em vez da hospedagem na
Base Aérea do Cachimbo, a 40 minutos de helicóptero, o grupo foi alojado na
fazenda Jarinã, a 35 quilômetros do ponto da queda. "Colocaram a nossa
operação em primeiro lugar. Pegávamos o primeiro voo e éramos os últimos a sair
da operação. Focaram toda a expectativa no cão, porque eles já tinham feito um
trabalho imenso, já tinham percorrido toda a área."
Naquela época, os cães
do Corpo de Bombeiros do DF eram especializados em um único tipo de
identificação (cadáveres, pessoas vivas ou drogas, por exemplo). Hoje, a
corporação consegue treinar animais mais versáteis. Os três labradores levados
ao Mato Grosso – Brutus, Sancho e Chacal – ultrapassaram todas as
"interferências" do ambiente para encontrar vestígios.
"Uma das áreas em
que conseguimos localizar bastantes fragmentos foi um carregamento de peixes
que era levado no avião, acho. A área onde caiu esse carregamento ficou com um
odor muito forte de peixe, então as pessoas não conseguiam identificar. Nossos
cães conseguiram fazer essa diferenciação", explica.
Hoje, os três cães já
estão aposentados. Além da atividade de busca, os animais também eram treinados
para evitar o estresse em situações extremas. Para alcançar a clareira aberta
pelo Boeing, os labradores desceram do helicóptero em uma espécie de rapel.
Além da fuselagem e da área de mata, as buscas também invadiram riachos que
cortavam a área. Tragédia O Voo da Gol saiu de Manaus em direção ao Rio de Janeiro mas foi atingido por um jato Legacy de pequeno porte. Os 154 passageuiros e tripulantes de Boeing. Morreram.
Em outubro de 2015, o
processo contra os pilotos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino
transitou em julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). Eles foram condenados a
3 anos, 1 mês e 10 dias de prisão mas, até esta quinta (29), ainda não tinham
sido sequer notificados da sentença.
Viúva de uma das vítimas
e presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907,
Rosane Gutjahr afirmou ao G1 em
2015 que a impunidade dos pilotos era "inaceitável".
Em 2010, representantes
da Administração Federal de Aviação dos EUA negaram pedido de cassação dos brevês. Segundo
o documento enviado ao Brasil, as entidades norte-americanas informaram que,
após análise dos pedidos e das perícias técnicas, não foram encontrados
indícios de responsabilidade dos pilotos. A defesa das vítimas afirmou, à
época, que levaria o caso à Corte Interamericana de Justiça.
Fonte: G1
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