Por Informado e Detonado
O senhor o ano passado foi alvo da operação Trick, que apura supostas fraudes milionárias no Banco do Brasil… Não só o senhor como a deputada Telma Rufino, que pertenceu ao seu partido, o PPL. O que o senhor pode falar sobre isso e porque as autoridades policiais o incluíram nessa investigação?
“NÃO
SOU O CHEFE DE QUADRILHA NENHUMA”
Ao
chegar para depor, causou-me profunda revolta terem me envolvido como
suspeito dessas fraudes. Senti-me numa situação absolutamente
inusitada, pois desconhecia completamente do que se tratava. Depois,
ao ler o inquérito parcial, entendi o que estava acontecendo.
Incluíram-me pelo fato de ter telefonado, algumas vezes, para um dos
principais investigados, considerado um dos cabeças do esquema. Essa
pessoa ingressou na minha campanha prometendo apoio político e
financeiro, o que ficou só na promessa. Creio que duas ligações
levaram a autoridade policial – equivocadamente – considerar que
eu estava envolvido nas fraudes. O teor dessas ligações estava
restrito à uma solicitação legal e legítima de apoio a uma
candidatura a deputado federal que tinha em sua base mais de 40
candidatos a deputado distrital. Isso foi o suficiente para formarem
uma convicção que, posteriormente, não se confirmou, mesmo depois
de ter liberado, por livre e espontânea vontade, a quebra de meus
sigilos fiscal, bancário e telemático. No dia da busca e apreensão
em minha residência, foram com a certeza de que encontrariam muito
dinheiro. Não tinha mais do que 20 reais em minha carteira e mais
nada. Nem meu carro puderam levar, pois tinha vendido por
necessidades pessoais. Tinha acabado de ser despejado do apartamento
em que morava anteriormente e encontrava-me com muitos problemas
financeiros. Como poderia, então, ter me beneficiado desse esquema?
E a deputada Tema Rufino, porque ela foi expulsa do partido e o senhor não?
“A DEPUTADA ERA QUEM TINHA RELAÇÃO ESTREITAS COM ALGUNS DOS INVESTIGADOS, BEM COMO OS APRESENTOU AO PARTIDO E OS INTEGROU À CAMPANHA ELEITORAL”
O
fato, à época, teve uma forte repercussão política. Isso fez com
que a direção nacional do partido, com o apoio da distrital,
avocasse para si a análise da situação para uma tomada de posição.
E, na leitura e análise minuciosa do inquérito, avaliou-se que
haviam elementos suficientes para afirmar que, no mínimo, a deputada
tinha relações estreitas com alguns dos investigados, bem como os
apresentou ao partido e os integrou à campanha eleitoral e que
também fazia campanha para outros 4 candidatos fora da coligação.
Depois de um longo processo, Em que foi assegurado o amplo direito de
defesa, o Diretório Nacional decidiu por unanimidade pelo
desligamento da parlamentar dos quadros do partido e concluiu que não
haviam os mesmos elementos em relação a mim.
E
como está hoje esse inquérito?
A
última informação era de que a sua conclusão ocorreria há cerca
de três meses atrás. A operação aconteceu no dia 30 de abril de
2015 e até agora, pelo menos em relação a mim, não surgiu nenhum
fato novo. E não surgiu porque simplesmente eu não tive qualquer
participação nisso. São 40 anos de militância política e vida
pública, caminhada que vem desde a luta contra a ditadura. Exerci o
mandato de deputado federal e ocupei vários cargos públicos, mas
tenho uma vida muito modesta. Como poderia ter me beneficiado de um
esquema milionário como esse. O pior é que houve ilações, à
época, de que eu seria o chefe dessa quadrilha. Que absurdo.
Escrevi, no final do ano passado, uma carta ao juiz responsável pelo
caso apresentando todas as minhas razões pessoais e manifestei o
desejo, como inocente que sou, dentro das suas prerrogativas legais,
de que o inquérito, hoje sob a responsabilidade da Polícia Civil,
seja concluído o mais rapidamente possível. Certamente, os culpados
não devem ter o mesmo interesse, mas eu tenho e creio que já há
elementos suficientes para uma conclusão. Interessante notar é que,
quando a operação foi deflagrada, a impressão que alguns passaram
é de que o esquema criminoso obedecia à lógica da política e das
campanhas eleitorais. Depois, ao conhecer o inquérito, verifiquei
que esse esquema, sim, tentou se aproveitar da situação política
para atender seus interesses ilícitos.
O
senhor não é mais o presidente do partido, isso tem a ver com a
operação Trick?
Nenhuma
relação. Em dezembro do ano passado, fui consultado pela direção
nacional sobre a possibilidade de abrigar no PPL do Distrito Federal
um grupo de companheiros e companheiras liderados pelo ex-presidente
nacional e local do PHS, Paulo Matos, a quem já conhecia há muitos
anos e com quem convivi no governo anterior. Pessoa íntegra,
dedicada e comprometida, com a qual temos muitas identidades,
inclusive programáticas. A discussão avançou inclusive sobre a
possibilidade de filiação de lideranças de outros estados, o que
nos levou a abrir mão da presidência do partido para alguém que
com larga experiência política e partidária e sem pretensões
eleitorais. O importante é somar e multiplicar, não importa os
cargos. O PPL foi fundado para ser um instrumento do povo brasileiro
na luta pelo desenvolvimento econômico e social soberano de nosso
país. Isso é o mais importante.
O
PPL do Distrito Federal teve quase 100 mil votos na última
eleição, sendo um dos partidos mais votados para deputado
distrital. O que aconteceu que hoje o partido não tem representante
na Câmara Legislativa com toda essa votação?
Tivemos
o desligamento da parlamentar eleita pelo partido, como já
expliquei. O outro parlamentar foi eleito na coligação, mas o PPL,
sozinho, como você disse, teve quase 100 mil votos para deputado
distrital, ficando entre os primeiros de Brasília. Creio que a
construção dessa engenharia foi justa. Concorreram pelo PPL
lideranças de praticamente todas as regiões do Distrito Federal, de
várias categorias profissionais e segmentos sociais. Fiquei também
entre os federais mais votados, mas faltou estrutura financeira para
a campanha como um todo e, principalmente, para alicerçar a parceria
com os distritais. Mas foi uma vitória em se tratando de um partido
recém-formado. Doravante, tomaremos os cuidados necessários para
que os resultados sejam também satisfatórios. Queremos formar uma
chapa sólida e competitiva para distrital sem depender de
coligações, que serão analisadas no seu devido tempo, e também
uma chapa igualmente competitiva para deputado federal numa
perspectiva de coligação, caso a regra eleitoral não mude. Com
todas as dificuldades estruturais, tivemos um crescimento visível
nessa eleição e temos aquilo que é o mais importante: um projeto
claro para o Brasil e, também, para Brasília, portanto, não
descartamos a possibilidade de lançar candidaturas até mesmo
majoritárias para governador e senador
Qual
o verdadeiro motivo para o PPL pleitear na justiça o mandato da
deputada Telma Rufino (sem partido). Seria por ela ter feito campanha
para outros candidatos que não fossem da coligação do PPL?
Como
disse anteriormente, a direção nacional concluiu o desligamento da
deputada e o Diretório local julgou correto pleitear o mandato, a
partir da constatação de ato de infidelidade partidária
caracterizado no processo partidário. Embora, à época, nos tenham
chegado informações de que ela estaria apoiando candidatos a
deputado federal de outras coligações, seu desligamento não teve
nenhuma relação direta com esse tipo de prática.
Sabemos
que a Deputada Telma Rufino está sem partido até a data de hoje e
seu mandato está sendo julgado no TSE. O PPL tem esperança real de
conseguir reverter a decisão do TRE/DF e conseguir o mandato de
volta para o partido?
Sim,
tem. Consideramos, com base na própria legislação, que o partido é
o detentor do mandato, quando se trata de infidelidade, que é o
nosso entendimento. O TRE não considerou dessa forma, a partir do
pressuposto de que não há como caracterizar infidelidade quando o
detentor do mandato é desligado por ato do partido. No TSE
entendemos que podemos reverter à decisão, até em função de
outros casos semelhantes que já foram julgados e por fatos novos que
podem agravar a situação.
“FALAMOS
AGORA DA SUA GESTÃO À FRENTE DO DF TRANS E DO GOVERNO ATUAL”
O
PPL apoiou o atual governador no segundo turno das eleições de
2014. O partido participa do governo atual? Qual a relação com
o governo?
Sim,
apoiamos no segundo turno, também em função da aliança nacional
que fizemos com a candidatura de Eduardo Campos para presidente e,
depois da tragédia que o abateu, com a de Marina. Historicamente, o
PPL sempre teve uma excelente relação com o PSB nacional e também
em alguns estados importantes como Pernambuco. Mas, enquanto partido,
não participamos do atual governo, embora tenhamos discutido essa
questão com o governador antes de sua posse, quando ele assumiu o
compromisso de nossa participação no governo. Pelo que vimos, isso
não aconteceu só conosco. Basta ver a tumultuada relação com a
Câmara Legislativa, o segmento empresarial, os sindicatos, enfim, é
uma crise atrás da outra. Portanto, não há relação. Temos nos
posicionado, sempre, em função do que é melhor para a população
do Distrito Federal.
O
senhor ficou à frente do DFTRANS por mais de três anos durante o
governo anterior. Que balanço o sr. faz hoje da situação no
transporte no DF?
“ARRUMAMOS
O DFTRANS”
São
momentos diferentes. Quando assumimos, em 2011, tínhamos a frota
mais velha e arcaica do país, a bilhetagem estava sob controle das
empresas que não tinham contrato para operar suas linhas. Não havia
um só quilômetro de corredor exclusivo, os terminais estavam caindo
aos pedaços e o BRT era apenas um sonho. Hoje, pelo que as pessoas
falam comigo nas ruas, ainda existem muitos problemas e desafios. A
questão é: como enfrentá-los? Informaram-me que o governo devolveu
o sistema de bilhetagem para o controle das empresas. Acho um
equívoco, muito cedo ainda para o poder público abrir mão do
controle direto desse sistema que contém a base de dados de todo
transporte rodoviário. Não que esse modelo deva ser, por princípio,
descartado, mas o governo ainda não dispõe de um sistema
tecnológico de controle para devolver essa missão para as
operadoras privadas. Acabamos de sair de uma licitação da frota e
de todo sistema que está sendo questionada na Justiça, além do que
muitas questões que levantávamos à época estão surgindo agora
com maior nitidez. Por exemplo, o sistema foi feito para ser
integrado. Chegamos a iniciar a integração, mas a proposta original
de integração do edital de licitação do sistema padecia de muitos
problemas: algumas integrações eram absolutamente inviáveis,
outras somente com uma infraestrutura de corredores, terminais,
pontos de parada, etc. Isso ainda está em fase de construção.
Fizemos apenas o primeiro BRT. O segundo, na saída norte, ainda não
saiu do papel, assim como o VLT. E não há perspectiva, pelo menos
de curto prazo, de ampliação do metrô. Além do mais, a frota
licitada mostrou-se insuficiente para atender às crescentes demandas
da população que utiliza o transporte público rodoviário. Aqui,
nós temos uma peculiaridade: somos uma cidade-estado, com longas
distâncias entre muitas cidades e o centro que concentra o grosso
dos empregos. Com isso, o chamado IPK (Índice de Passageiros por
Kilômetro) é o mais baixo entre os grandes centros urbanos
brasileiros. Portanto, a prioridade tem e deve ser aumentar os
investimentos em infraestrutura em todas as modalidades de transporte
(rodoviária, metroviária, etc.) e, aos poucos, promover a
integração de modo a não onerar o bolso dos trabalhadores e das
famílias ou o custo das empresas com o vale-transporte.
Mas
como fazer isso se o governo não tem dinheiro?
“IMPLANTAÇÃO
DE MOBILIDADES DIFERENCIADAS NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO”
Esse
é o maior de todos os desafios: retomar a capacidade de investimento
do Estado, em todas as áreas. Um sistema de mobilidade urbana é
fundamental para melhorar as condições de vida das populações dos
grandes centros. Quanto tempo hoje uma pessoa, não só aqui, mas
também em outras grandes metrópoles, passa no trânsito todos os
dias, semanas, meses, anos? Trata-se de um desperdício humano que
afeta a saúde e o bom-humor das pessoas, comprometendo o
desenvolvimento de nossas comunidades e do próprio país. Temos que
associar isso à desconcentração do emprego, mas, onde isso não
for possível, pelo menos por enquanto, é fundamental investir em
transporte público eficiente, rápido e seguro. Só assim as pessoas
que já estão se acostumando a um determinado grau de conforto, no
seu carro, com ar-condicionado, som e até computador, deixarão o
carro em casa e optarão pelo transporte coletivo. Veja você que a
simples implantação dos corredores preferenciais de ônibus, em
algumas vias, como a EPNB, as linhas ali operadas tiveram um
incremento de até 12% de passageiros, ou seja, muitas pessoas já
passaram a usar o transporte coletivo porque o ônibus chegava, como
chega mais cedo no destino. Essa política tem que continuar,
inclusive com a implantação de modalidades diferenciadas de
transporte rodoviário, como o que implantamos no Sudoeste com uma
pequena frota da TCB. Ônibus com serviços e tarifas diferenciadas
para estimular o uso do coletivo. Esse serviço poderia ser estendido
às regiões dos condomínios e em cidades como Águas Claras, Lago
Sul e Norte, Guará, Cruzeiro e até Sobradinho. Isso sem falar na
necessidade urgente de mudança na lei do Vale-Transporte para que
esse benefício não seja mais concedido em pecúnia, pois o recurso,
pela ausência de um transporte público de atualidade, acaba sendo
utilizado para abastecer o carro particular, ou, ainda, a
reimplantação do transporte funcional, principalmente de servidores
públicos, como havia antigamente. Ou seja, um conjunto de medidas
podem ser adotadas para descongestionar nosso trânsito e melhorar a
qualidade de vida de nossa gente.
Mas
tudo isso custa muito caro, não?
Em
algumas situações, sim, em outras, não. Os corredores, por
exemplo, que implantamos, não custaram quase nada ao governo, apenas
sinalização horizontal, vertical e instalação de câmeras de
fiscalização. Mas o debate sobre o financiamento do sistema de
mobilidade urbana é fundamental. Fontes não faltam, mas o
importante, a meu ver, é consolidar a lógica de que a sociedade
como um todo tem que pagar. Não é justo – até porque um sistema
eficiente, moderno e seguro é caro – que o financiamento saia
exclusivamente da tarifa. Na medida que o governo melhora esse
sistema, ele tem condições de cobrar de quem insiste, por exemplo,
em continuar no transporte individual, na hora de abastecer, de
estacionar ou de pagar o IPVA, e parte desse recurso tem que estar
destinado para a melhoria do transporte público. Não há outra
alternativa para nossas cidades. Ou fazemos isso, ou elas se
inviabilizarão como cidades, como já estão se inviabilizando. Digo
sempre que nossas cidades estão se desumanizando, pois a máquina
cada vez ocupa os espaços públicos que deveriam estar destinados às
praças, aos centros de convivência, cultura e esporte. E que
máquina é essas: é o produto direto das corporações
automobilísticas e, o que é mais grave, nenhuma brasileira.
Despejam essas máquinas nas ruas todos os dias. Produto caro, com
manutenção cara, ainda muito poluente, transportando uma única
pessoa, o motorista, quando muito, um passageiro, e ocupando um
espaço imenso proporcionalmente à sua utilidade social. Essa é uma
lógica muito perversa que precisa ser combatida e invertida – e
rapidamente.
O
governo só fala em cortar gastos, então como resolver essa questão?
É
como lhe disse anteriormente, o Estado brasileiro, em razão de
políticas equivocadas – e para atender o apetite ilimitado dos
conglomerados financeiros e econômicos, principalmente estrangeiros,
perdeu sua capacidade de investir. Esse fenômeno é nacional, mas se
reflete em todas as unidades da federação e municípios, inclusive
em Brasília, mesmo com todas nossas vantagens comparativas, como,
por exemplo, o Fundo Constitucional, que vem se desidratando há anos
e já se encontra ameaçado. Os investimentos públicos,
historicamente, no Brasil e em boa parte do mundo, são o motor do
desenvolvimento nacional. É o investimento público que induz o
privado, mas aqui os iluminados da escola de Chicago, com toda
experiência positiva e vitoriosa que já tivemos com Getúlio,
Juscelino, Jango, Lula e, até, breves períodos do regime militar,
insistem em querer privatizar o Estado ou transferir
responsabilidades em áreas onde a iniciativa privada não é capaz
de oferecer minimamente um serviço de qualidade à população.
Como
recuperar essa capacidade?
A
medida mais importante com capacidade de recuperar num curto espaço
de tempo o investimento público é a redução das taxas juros no
país para os patamares internacionais. Desde Collor, passando por
FHC, Lula, Dilma e, agora, Temer, ostentamos, invariavelmente, as
maiores taxas do mundo, para motivar o apetite especulativo dos
bancos e rentistas internacionais, muitos dos quais captam
empréstimos a juros negativos em alguns países para ganhar rios de
dinheiro às nossas custas. Hoje, o Estado não investe, mas as
empresas também não, pois não as famílias reduziram muito o seu
consumo, em razão do desemprego e da queda na renda. Portanto, é um
circulo vicioso que tem que ser rompido para que a roda da economia
volte a girar, elevado a capacidade de arrecadação e,
consequentemente, de investimento por parte do Estado. Não há
solução na camisa-de-força que representa essa política econômica
míope de cortes, ajustes e arrocho. Fazem 40 anos que ouvimos essa
conversa fiada que não dá solução para os problemas do país.
Fala-se, por equívoco ou má fé, que os problemas atuais foram
causados por que o governo Dilma gastou muito. Balela! Na
administração dela, os cortes atingiram praticamente todos os
setores da administração pública, inclusive os programas sociais
criados por Lula. A Pátria Educadora virou uma lenda, a saúde
adoeceu de vez, os PACs (programas de aceleração do crescimento)
mal saíram do papel e grandes obras foram paralisadas, como a
transposição do Rio São Francisco. Cortar juros para reduzir o
lucro astronômico dos bancos privados e especuladores de todo tipo,
isso, nem pensar…Foi essa política, agora, mantida e aprofundada
por Temer, que derrubou Dilma, associada ao gigantesco assalto à
maior expressão de nosso desenvolvimento soberano, que é a
Petrobrás, com a cumplicidade de agentes públicos e políticos.
Como
o governo de Brasília pode reagir a essa situação?
Ainda
em dezembro de 2015, no documento que apresentei e foi aprovado no 4º
Congresso do Partido Pátria Livre do Distrito Federal, afirmei com
todas as letras algo que, para mim, continua sendo muito
atual: “Brasília
sente na pele todos os dias essa realidade, que só não é mais dura
pela pequena relevância do setor industrial, enquanto o governador
alimenta a ilusão muito amarga e nada doce de receber o beneplácito
de quem está literalmente destruindo o Brasil. Por esse caminho não
vamos chegar a lugar nenhum. O braço vai cansar de segurar o pires
que voltará, invariavelmente, vazio da Esplanada dos Ministérios.
Vamos continuar recebendo muitos tapinhas nas costas, mas apoio prá
valer para honrar os compromissos com os servidores públicos, para
as obras físicas e sociais que tanto necessitamos, esse,
infelizmente, não virá”.
E denunciava também a postura demagógica, principalmente do PT
local, de atribuir todos os problemas locais à atual administração.
Disse à época e reafirmo hoje que “a
sra. Dilma – e, hoje, Temer, ao sustentar a mesma política que ele
foi corresponsável como vice – foi a principal e grande
responsável pelos problemas econômicos e sociais vividos pela
população de Brasília”.
Enquanto não mudar essa política, os estados e municípios
continuaram insolventes e em situação caótica. Agora, o governo
local pode reagir agravando ou atenuando essa situação. Não temos
ilusão, com todas as nossas vantagens comparativas, de ser uma ilha
da fantasia em meio a um oceano de mazelas econômicas e sociais, mas
o governo local pode ter uma postura mais ativa no sentido de
minimizar os efeitos da grave crise nacional sobre o Distrito
Federal. O PPL entende que o melhor caminho, por exemplo, não
é a adoção de práticas de terceirização de serviços
essenciais, como os de saúde, até porque a realidade local já
demonstrou que isso não representa uma solução para os graves
problemas vividos pelo setor. Em outro sentido, o governo pode adotar
uma ousada política de compras e encomendas governamentais para
estimular algumas cadeias produtivas locais e, com isso, gerar renda
e emprego.
Como
o sr. viu o resultado das eleições municipais?
Em
recente artigo no jornal Hora do Povo, escrevi que o resultado das
eleições municipais expôs a decadência da principal força
política que governou o país nos últimos 13 anos, o PT, e, com
menor intensidade, também do seu sócio maior, o PMDB. Os outros
partidos, com raras exceções, ficaram no mesmo patamar.Veja, só, a
soma dos votos nulos, brancos e abstenções ganhou da soma dos
primeiros e segundos lugares em praticamente todas as capitais. Essa
tendência já tinha sendo constatada em 2014 e agora, em 2016, não
é mais uma tendência, virou um fato, o que significa que o repúdio
aos grandes partidos dominantes e seus satélites, contumazes
partidos de aluguel, que formaram um verdadeiro cartel político para
assaltar os cofres públicos e promover a maior roubalheira de nossa
história, vai continuar crescendo. Precisamos, urgentemente,
construir uma alternativa. O PPL tem essa consciência e esse
objetivo, até porque é um partido que tem consistência política e
ideológica. Sabe onde quer chegar e isso é fundamental para
construir uma saída para essa situação em que o país se encontra.
O PSDB, por exemplo, foi turbinado momentaneamente pela vitória em
São Paulo, não por uma decisão do eleitor que mal sabia da adesão
de Dória à tucanagem, mas pelo absoluto esgotamento político e
moral das outras alternativas, salvo a candidatura da honrada
deputada Luiza Erundina, destituída, infelizmente, das condições
mínimas de levar sua mensagem ao grande eleitorado de São Paulo. O
voto em Doria foi o voto da constestação aos partidos responsáveis
pela maior crise de nossa história recente, notadamente o PT e o
PMDB, bem como aos seus satélites. Foi o voto da aversão a uma
política que nos fez andar para trás, desindustrializando e
desnacionalizando nossa economia como nunca, apenas para saciar o
apetite voraz dos bancos e monopólios, especialmente os
estrangeiros. Dória é mais um dos mercadores de ilusão que, volta
e meia, em razão das crises que atingem as forças políticas
dominantes, aparecem como salvadores da pátria, como o foi Collor há
quase 30 anos atrás. Iludiu com sua imagem de anti-político, como
se houvesse solução fora da política; iludiu com a falácia de que
a solução dos problemas virá com a transformação da maior
prefeitura do país numa verdadeira empresa para privatizar,
terceirizar, quarteirizar, enfim, transferir responsabilidades ao
setor privado e ao idolatrado mercado. Logo, logo, mais cedo que se
imagina, a ficha começará a cair, e o trunfo celebrado como o sonho
dos tucanos voltarem ao poder poderá ser transformar num grande
pesadelo, até porque conhecemos o resultado das políticas
desastrosas que desgovernaram o país nos anos de FHC: crescimento
medíocre, arrocho e entreguismo.
Falava-se
de irregularidades à sua época no sistema de bilhetagem automática,
que persistem até os dias de hoje. O que o senhor tem a falar
sobre esse assunto?
Recentemente,
o ex-secretário de Mobilidade, Marcos Dantas, concedeu uma
entrevista ao Correio Brasiliense informando que nos anos anteriores
– imagino que ele se referiu ao governo anterior – um estudante,
beneficiário do passe-livre estudantil, conseguia obter o número de
cartões correspondente ao número de vezes que fosse a um posto de
atendimento do DFTRANS. Não sei de onde e quem passou esse dado para
ele, totalmente inverídico. Quem fornecia a relação de alunos
devidamente matriculados era a instituição de ensino, e esses dados
chegavam ao DFTRANS todos os meses e atualizávamos nosso cadastro,
exatamente para saber quem deveria continuar ou não recebendo o
benefício previsto em lei. À época, adotamos, dentro das
limitações de um sistema que tivemos que herdar da época da FACIL,
antes da assunção do sistema de bilhetagem, em meados de 2011,
quando as grandes e antigas empresas mandavam e desmandavam no
sistema – e no próprio governo, vários procedimentos para
controle do passe-livre estudantil, começando pela eliminação das
longas filas que se formavam no início de cada ano e semestre
letivo. Em 2013, quando o governo local já havia assumido 100% do
passe-livre, uma antiga e justa reivindicação de nossa juventude,
que estava nas ruas de todo país, nós fizemos uma série de
alterações no sistema para um novo formato de controle, pelo qual o
estudante deveria fazer o cadastramento semestral, comparecendo a um
dos postos de atendimento, que procuramos espalhar por todo Distrito
Federal. Além disso, fazíamos operações constantes para coibir
fraudes, como o recadastramento de estudantes e escolas, o que levou
ao bloqueio de milhares de cartões e o descredenciamento de várias
instituições. Lembro-me, agora, do descredenciamento da ALUB, da
CEDASPY e da UNICESUMAR, medidas que resultaram em várias
sindicâncias. O estudante devidamente cadastrado tinha apenas o
trabalho de ir a um posto mais próximo de sua residência ou escola
para retirar o cartão. E mais: aquele encargo de ir todos os meses
para recarregar o cartão, nós eliminamos, implantando a bilhetagem
automática, pela qual o estudante que ainda dispunha de algum
crédito por não tê-lo utilizado recebia apenas o complementar para
as suas necessidades do mês na catraca do ônibus, na primeira
viagem em que utilizava a linha para seu trajeto diário
E
quanto ao controle das pessoas com deficiência?
Esse
cadastro era fornecido pela Secretaria de Justiça e aí, também, em
parceria com aquele órgão, várias ações foram implementadas,
como o bloqueio de acessos a cadastros não autorizados. Lembro-me,
que, numa primeira checagem entre o cadastro da Secretaria e os
beneficiários, chegamos a bloquear 27 mil acessos. E, tanto no caso
dos estudantes como dos deficientes, os cartões eventualmente
bloqueados mas utilizados em sistemas não atualizados nos ônibus,
as empresas não recebiam esses créditos. Essas glosas eram feitas
sistematicamente. Além disso, tomamos a iniciativa de reunir, em
documentos, todos os indícios de fraudes no sistema e solicitamos à
Polícia Civil que abrisse uma investigação para apurar com mais
profundidade as irregularidades.
O
que dificultava esse controle?
À
época, fizemos o que estava ao nosso alcance para fechar as
torneiras por onde vazavam as fraudes, mas, infelizmente, não
tivemos condições operacionais nem financeiras para licitar um novo
sistema de bilhetagem, base de dados do sistema tecnológico como um
todo. Dessa forma, tivemos que conviver com o sistema remanescente da
antiga FÁCIL,
que era limitado tecnicamente em vários aspectos e com cuja empresa
tivemos muitas dificuldades, inclusive nos entendimentos contratuais.
Mas, quando sai do DFTRAN, deixamos um projeto pronto e acabado,
fruto de vários meses de debate, inclusive com os órgãos de
controle e o mundo acadêmico, para implantar todo o sistema de
bilhetagem, de monitoramento da frota e de informação ao
passageiro. Chegamos, inclusive, a implantar um sistema provisório
para monitorar a frota, a partir de uma sala de situação no DFTRAN que se comunicava com os GPS que deveriam vir obrigatoriamente
instalados na frota nova, embora algumas empresas demorassem em
instalar esse equipamento. Em 2014, já tínhamos cerca de mil
veículos monitorados, passo inicial para começar a orientar o
passageiro sobre as linhas, horários, etc, a partir do seu celular
ou internet, ou em totens que poderiam ser instalados nos terminais,
paradas e outros logradouros públicos.
Fonte:
Informando e Detonando
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