Embora
resumam as motivações de grande parte dos candidatos, estabilidade
e salários bons não são os únicos motivos para buscar uma vaga na
administração pública. Há quem o faça, também, por vocação.
“Tem muita gente que estuda anos para passar em um concurso para
servir ao público, mesmo tendo oportunidades em empresas privadas”,
garante o professor de direito Weslei Machado, do Gran Cursos Online.
Não
é só o contato direto com centenas de alunos que o legitima a falar
sobre o assunto. Aos 34 anos, mesmo já estando empregado, ele
decidiu se dedicar ao serviço público. “Depois de ter visto um
promotor de Justiça em ação, eu percebi que tinha jeito para a
carreira e passei a estudar para o concurso”, conta. A dedicação
garantiu a ele uma vaga no Ministério Público do Amazonas, para
onde deve se mudar até o fim do ano. “Sei que vai valer a pena
abrir mão de alguns interesses particulares por isso, porque é
minha vocação. Quando as pessoas percebem que podem ajudar a
sociedade, começam a enxergar os servidores de forma mais positiva.
Muitos poderiam ter remunerações muito maiores na iniciativa
privada, mas preferem dedicar a vida ao interesse público”,
afirma.
É
o caso da secretária executiva da Comissão de Cidadania e Justiça
(CCJ) da Câmara dos Deputados, Alexandra Bittencourt, 47. “Tenho
consciência de que, se tivesse escolhido trabalhar em uma empresa
privada, poderia ganhar o dobro ou morar no exterior”, afirma a
funcionária, que trabalha no Poder Legislativo há 25 anos. “Vejo
que a escolha valeu a pena quando passo meses trabalhando em uma lei
e ela é sancionada. Os reflexos são diretos no país, em forma de
melhorias para a sociedade. Dá um orgulho muito grande”, conta,
emocionada.
Perfil
Alexandra
acredita que a realização no serviço público é uma questão de
perfil profissional. “Já trabalhei na iniciativa privada e achei a
estrutura muito individualista para mim. As pessoas precisam matar um
leão por dia para manter os empregos. No funcionalismo público, a
gente também se esforça muito, mas com outros objetivos, sempre
voltados para o coletivo”, explica. “A nossa participação pode
ser pequena, mas é ótimo saber que ela existe. Em outra profissão,
eu não poderia fazer o que faço”, completa.
Trabalhar
em empresas também nunca esteve na lista de opções do bombeiro
Ramon Rodrigues, 25. Sem condições de pagar um cursinho
preparatório, ele se organizou para estudar pelo menos três horas
por dia para conseguir uma vaga na corporação. “Quando vi que
tinha sido aprovado no concurso, fiquei muito feliz”, lembra. Antes
de abraçar a almejada carreira, ele passou em dois concursos. A
monotonia diária dos trabalhos, que consistiam em passar horas em
frente ao computador, confirmou que Ramon buscava não apenas um
sonho de criança, mas a realização profissional de uma vida.
“Foram os cargos que ocupei antes de ser bombeiro que confirmaram a
minha paixão pela profissão. É gratificante saber que o nosso
trabalho pode ajudar outras pessoas”, confessa.
A
médica Michelly Maia, 25, pensa de maneira parecida.“Trabalhar no
serviço público é uma realização pessoal da qual me orgulho. Tem
um caráter social que não existe na iniciativa privada, mesmo que a
estrutura seja pior”, acredita ela, que atende na Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) de Sobradinho desde que se formou, no ano passado.
“Nunca tive plano de saúde. Eu e minha família sempre usamos o
serviço público. Entendo a importância de ter pessoas dedicadas
trabalhando nesses locais, pois sei como é estar nas filas”,
conta.
Chegar
até onde a iniciativa privada não chega também é o objetivo da
psicóloga Helena Barbosa, 25, que estuda para conseguir uma vaga nas
secretarias de Saúde ou de Educação do governo do Distrito
Federal. “Vários motivos me levam a querer ser servidora pública.
Claro que os benefícios atraem, mas é muito mais que isso”,
explica. “Talvez seja idealismo, mas eu acredito que é possível
contribuir muito para a sociedade trabalhando em órgãos públicos.
É uma ótima possibilidade de transformar ideias em políticas
públicas”, afirma.
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