A Segurança Pública do
Distrito Federal está doente e correndo para se aposentar. Com a iminência de
uma reforma previdenciária que retira direitos conquistados por policiais e
bombeiros, a insatisfação corrói os ambientes de trabalho. Os atestados médicos
crescem e os pedidos de aposentadoria disparam. Até o fim do ano, mais de mil
servidores poderão deixar cadeiras vazias e ampliar o déficit, de cerca de 10
mil. Só a Polícia Civil trabalha com 50% do efetivo necessário.
No ano passado, foram
apresentados 1.394 atestados médicos – somente 20 foram de licença maternidade.
Na Polícia Civil, houve 3.875 afastamentos por saúde homologadas e 58 licenças
maternidade concedidas. A Polícia Militar, por sua vez, diz não divulgar os
números se amparando em sigilo médico. O Corpo de Bombeiros também não repassou
os dados. “Devido à natureza diversa de cada especialidade, não foi possível
precisar um número”, justificou.
Corporações doentes
No ano passado, apenas
a Policlínica da PCDF fez mais de 28 mil atendimentos à corporação que tem 5
mil policiais, sendo 4.134 com psicólogos ou psiquiatras. O número é 17,4%
maior do que em 2015, quando foram 3.520 casos.
“Não temos atenção à
saúde física nem mental do profissional”, garante Rodrigo Franco, presidente do
Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol). De acordo com ele, a Policlínica é
“tímida” e não tem capacidade para atender de forma plena a categoria. “Serve
muito mais para homologar os atestados, não para prevenir. A profissão é
estressante. Todos os dias convivemos com o que há de pior na sociedade, Tudo
isso deságua sobre os policiais, que são seres humanos comuns, e às vezes
acabam absorvendo toda a carga”, afirma.
Na PM, os casos de
adoecimento por questões psicológicas também são constantes. A Associação dos
Praças Policiais e Bombeiros Militares do DF (Aspra) não tem um balanço
concreto, mas a demanda por atendimento psicológico é crescente, afirma o
vice-presidente Manoel Sansão. “Toda a classe está doente. Quem não consegue se
aposentar vive no hospital, entra em depressão, comete suicídio”, revela.
De acordo com a
Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, 1.101 servidores estão aptos a
se aposentar em 2017. O maior número de perdas deve ser na Polícia Civil, onde
o déficit de quatro mil profissionais pode se intensificar com 560 que estão
aptos a deixar a profissão neste ano. O número é maior que em 2016, quando
foram 341.
A Polícia Militar diz
que não tem como precisar um número, já que os servidores podem ter 30 anos de
serviço e não ir para a reserva por opção. Hoje, a obrigação de reformar é aos
63 anos, se for praça, e 65 anos, se oficial. No entanto, dados da primeira
quinzena de janeiro indicam que 304 policiais foram para a reserva. Ao longo do
ano passado, foram 1.395.
No Corpo de Bombeiros,
o número de militares que deram entrada no pedido de ingresso na reserva
remunerada até a primeira quinzena de dezembro é de 150. Destes, 27 foram
aprovados e 123 estão em andamento.
Sensação de abandono
“Os militares estão
desmotivados. Em todo País a segurança pública foi esquecida e está sucateada.
Em Brasília é uma vergonha. Os direitos e as conquistas das categorias estão
ameaçados, como licença especial, ajuda de custo, férias. Quem sofre com isso é
a sociedade”, afirma o sargento Manoel Sansão, vice-presidente da Associação
dos Praças Policiais e bombeiros Militares do DF (Aspra).
A Reforma da
Previdência define idade mínima de 65 anos para a aposentadoria e estabelece
que só receberá o teto quem contribuir por 49 anos completos. Se aprovado como
está, os policiais deixarão de receber salário integral por 85% dos
vencimentos, considerando a média dos cargos ocupados ao longo da carreira.
Além disso, caso não tirem os três períodos de licença remunerada que têm
direito, só receberão um deles. Da mesma forma que somente receberão por duas
férias antes da aposentadoria, ainda que acumulem várias.
Fonte: Jornal de
Brasília
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