Devido
à queima de lixo doméstico, de podas de árvores ou do manejo de
solo feito com fogo,
o Distrito Federal é um território suscetível a incêndios
florestais.
No
entanto, regiões com relevo acidentado, como o Lago Oeste, ou com
grandes extensões de área rural, a exemplo de Brazlândia e de
Samambaia, tendem a concentrar os casos de queimadas.
Em
locais com topografia íngreme, a pronta resposta das equipes de
combate ao fogo fica prejudicada. Com isso, as chamas se alastram
rapidamente. “No Lago Oeste, o declive é muito grande, o que
oferece riscos aos militares e aos brigadistas à noite”,
exemplifica João Henrique Correia Pinto, tenente do Grupamento
de Proteção Ambiental,
do Corpo
de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
Em
regiões de produção agrícola, por sua vez, quanto mais afastada a
propriedade fica do ponto de recolhimento de lixo, mais comum se
tornam as queimadas. “A dificuldade de acesso ao serviço faz com
que os moradores dessas áreas ateiem fogo aos resíduos”, explica
o tenente.
Características
ambientais também favorecem maior ocorrência de incêndios
Os
incêndios florestais são quase sempre resultado de atividade
humana. Apenas em casos isolados, as chamas decorrem de causas
naturais, como queda de raios. Em algumas fitofisionomias (forma como
o bioma se apresenta) do Cerrado, porém, o fogo se expande mais
facilmente.
Assim
ocorre com as chamadas áreas abertas de Cerrado, as formações
savânicas. Nessa situação, enquadram-se o campo limpo e o campo
sujo. No primeiro, encontram-se arbustos em cerca de 10% do terreno —
a maior parte dele é recoberta por gramíneas. No segundo, a
presença de arbustos entre o estrato herbáceo (cobertura vegetal
rasteira) é mais evidente.
Ao
passar por esses locais, as chamas consomem a biodiversidade. Se isso
se der em área com infiltração de água, como próximo a nascentes
ou de recarga de aquíferos, a tendência é que eles sequem.
Apresentações
mais fechadas do Cerrado, as matas mostram-se extremamente sensíveis
ao fogo. A incidência de queimadas nelas é menor, mas, quando há,
são muito mais impactadas do que as formações com menos arbustos.
“A
mata tende a retroceder, e se aumenta a faixa de campo”, detalha
Airton Mauro de Lara Santos, analista de atividades de meio ambiente,
da Gerência de Emergências e Riscos Ambientais, do Instituto
Brasília Ambiental (Ibram).
Mais
campos significam áreas maiores de grama — nativa ou exótica.
Dessa forma, a quantidade de material combustível, ou seja,
elementos naturais capazes de propagar as chamas, também aumenta.
“Forma-se um ciclo vicioso, em que se perde biodiversidade e se
aumenta o risco de incêndio florestal”, conta Santos.
O
Cerrado tem adaptações para enfrentar o fogo, como caules grossos e
raízes profundas. No entanto, a reincidência do fogo tem sido
constante. “A capacidade de resiliência da vegetação tem ficado
bastante reduzida”, alerta o analista do Ibram.
Acompanhamento
por satélite mapeia parques com mais incidência de fogo
Desde
2008, o Instituto Brasília Ambiental acompanha dados de áreas
queimadas das unidades de conservação que gere. O levantamento é
feito por meio de relatórios e visitas de campo e, em 2016, passou a
ser também com a análise de imagens georreferenciadas.
“O
ano passado foi o que mais monitoramos”, destaca Airton Santos. Com
isso, estabeleceu-se um ranking das unidades de conservação que
mais tiveram perdas por área queimada em 2016.
Estação Ecológica de Águas Emendadas | Área de Relevante Interesse Ecológico Granja do Ipê |
Área total: 9.372,37 hectares Número de focos: 13 Área queimada (em hectares): 1.335,99 Área queimada (em porcentual): 14,25% | Área total: 1.142,85 hectares Número de focos: 20 Área queimada (em hectares): 263,74 Área queimada (em porcentual): 23,08% |
Parque Distrital Recanto das Emas | Parque Ecológico Boca da Mata |
Área total: 266,8 hectares Número de focos: 12 Área queimada (em hectares): 195,1 Área queimada (em porcentual): 73,13% | Área total: 196,31 hectares Número de focos: 24 Área queimada (em hectares): 166,03 Área queimada (em porcentual): 84,58% |
No
caso do Parque Ecológico Boca da Mata, em Taguatinga, que teve
84,58% da área queimada, os incêndios florestais recorrentes
ameaçam espécies que justificaram a criação da unidade de
conservação. “É o único local de ocorrência de campo de
murundu em Taguatinga. É uma área úmida, importante para a recarga
de aquíferos, e tem
se reduzido drasticamente por causa do avanço do fogo”,
lamenta Santos.A reincidência de fogo nelas é anual, intervalo de
tempo muito pequeno para a vegetação se recuperar.
A
Área de Relevante Interesse Ecológico Granja do Ipê, uma região
de campo no Park Way, também tem sido vitimada por chamas
continuamente, devido ao depósito irregular de lixo e entulho. “As
pessoas passam e ateiam fogo com a intenção de afastar roedores e
animais que se aproveitam do lixo”, relata o analista de atividades
ambientais.
Para
evitar o manejo inadequado do material, a recomendação é comunicar
o Ibram sobre o acúmulo. O contato pode ser feito pelo telefone 162,
da Ouvidoria
do governo do Distrito Federal.
Fonte: Agência Brasília
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