Por
Flavio Magistern
Anitta,
a cantora, causou celeuma ao estampar manchetes onde se lia: “Anitta
é eleita ‘Mulher do Ano’ por revista”. Todos, ao se chocarem
com o título, pensaram que uma escolha incrivelmente mais sensata
seria Heley de Abreu Silva Batista, da creche em Janaúba,
no norte de Minas Gerais, que deu sua própria vida para salvar seus
alunos de Damião Soares Santos, que ateara fogo ao seu próprio
corpo e abraçava as crianças da creche para matá-las com ele.
Nós
mesmos havíamos dito que Heley
Batista deve ser considerada uma heroína nacional,
por mostrar que há valores maiores até mesmo do que nossa própria
vida. Heley Batista deixou marido e três filhos – entre eles, um
bebê com apenas 1 ano.
Com
um exemplo como esse, por que escolher Anitta como símbolo de 2017?
A resposta se dá quando se responde a outra pergunta: qual revista
deu o prêmio de “Mulher do Ano” para Anitta? Trata-se da QG
Lifestyle da Globo, uma revista, digamos, “masculina” (sic)
dessas que, bem, dá um prêmio de mulher do ano para Anitta.
Não
é exatamente algo fora dos padrões. Como definiu Nassim Nicholas
Taleb em Antifrágil,
nossa reputação depende de sermos elogiados por pessoas admiráveis,
mas também de
sermos criticados (ou esquecidos e ignorados) por quem não merece
senão pena.
2017
foi o ano de maiores tensões por questões superficiais, no
nível pele,
em décadas. Não é um ano a ser lembrado pelas suas grandes
virtudes, e sim, como 1917, 1933 ou 1968, por ser o ano de uma
minoria pedante ganhando poder através do siricutico. Foi o
ano do lacre. O ano da milionária pelada dizendo que sofre
preconceito, o ano da música que, dos dois acordes, passou às duas
sílabas, o ano da poderosa global falando em revolução feminista,
o ano da sinapse de frase de efeito.
Alguém
pode ser melhor do que Anitta para representar 2017?
Ao ficar sabendo do prêmio, a apresentadora (ou essa é
cantora? whatever)
declarou: “Quando soube que seria eleita a Mulher do Ano da GQ
parei para recapitular tudo que fiz em 2017 e só assim me dei conta
de quanta coisa aconteceu”. Recapitulando, vimos a cantora semi-nua
lacrando feminismo o ano inteiro, entupindo a conta bancária por
isso.
Como
se lembrar de nossas heroínas nessas horas? Em tempo, Anitta
acompanhará Isabeli Fontana, Grazi Massafera, Maria Casadevall,
Isis Valverde, Tatá Werneck e Taís Araujo, as premiadas
anteriores. Como colocar heroínas neste rol?
Fonte: Senso In Comum
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