Por Ana Virato
Tradicionais
figuras da coalizão de centro-direita — maior frente política
formada até o momento — impõem condições para evitar uma
implosão no grupo e receber de braços abertos o ex-presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB/DF) Ibaneis Rocha: o
recém-filiado ao PMDB terá de ficar de fora da disputa por cargos
majoritários em 2018. No entendimento de alguns pré-candidatos ao
Palácio do Buriti, não há coerência em provocar modificações ao
acerto costurado meses atrás para abrigar um novo participante com
pouca experiência no ramo e desconhecido pela maior parte do
eleitorado.
Para
integrantes do grupo, Ibaneis deveria ser candidato, no máximo, aos
cargos de deputado federal ou distrital. Apesar das exigências, a
força do PMDB será fator decisivo nas negociações. Maior partido
do Brasil, a sigla detém cofres abarrotados e grande parte do
horário de propaganda em emissoras de rádio e tevê — ainda mais
ao lado do PP, outra legenda controlada pelo ex-vice-governador Tadeu
Filippelli. A influência política do peemedebista também é um
agravante, uma vez que ele tem condições de, facilmente, construir
alianças distintas.
Mas
o desconforto com a filiação de Ibaneis não se restringe à
possível coligação. Filippelli, presidente licenciado do PMDB,
terá de apaziguar os efeitos do episódio dentro do próprio
partido. Secretário-geral da legenda e deputado distrital,
Wellington Luiz deixou clara a insatisfação com a notícia do
ingresso do advogado na sigla em uma carta aberta divulgada no último
dia 3 e não compareceu à solenidade, realizada na noite de ontem.
“Não podemos permitir que o desejo pessoal de alguns seja maior do
que o ideal inalienável e republicano do PMDB. O povo de Brasília
merece respeito e espera muito mais de um partido que prega
seriedade”, diz o texto.
Para
apagar o incêndio, durante a filiação, Filippelli alegou que
“todos os integrantes de um partido são insubstituíveis”.
“Política se faz agregando. Não podemos nos dar ao luxo de perder
alguém. Se ele não está aqui hoje, vou atrás amanhã”, frisou o
comandante do PMDB no DF. O peemedebista e Ibaneis Rocha ainda
aproveitaram o evento para afinar o discurso e esclarecer que a
chegada do advogado não provocaria mudanças no acerto firmado
inicialmente pela centro-direita.
O
posicionamento repercutiu entre os colegas de coalizão, os quais
aguardam a concretização da promessa. “Começamos com um número
certo de pré-candidatos ao Buriti. Essa construção não é de hoje
e não há espaço para quem chega agora e quer sentar na janela. Se
o PMDB aceitar esses termos, daremos continuidade às negociações”,
cutucou o ex-distrital e presidente do diretório regional do PTB,
Alírio Neto.
O
deputado federal Izalci Lucas (PSDB) engrossou o coro. O parlamentar,
um dos mais empenhados na pré-candidatura, trabalha há meses na
produção de um plano de governo. “Filippelli disse que o acordo
estava mantido. Nunca houve discussões sobre o ingresso de um
peemedebista na disputa majoritária. Não trabalhamos com essa
hipótese”, destacou.
O
PR intervém com discurso ameno. “Se Ibaneis estiver bem, vamos
apoiá-lo. Mas a população não o conhece, então, acho difícil a
concretização da pretensão de ele de ser governador”, apontou o
presidente regional da legenda, José Salvador Bispo de Oliveira. O
partido é integrado pelo candidato mais forte na corrida pelo
Executivo local, segundo pesquisas de opinião: o ex-secretário de
Saúde Jofran Frejat.
Novas alianças
Apesar
de não admitir, em princípio, novos candidatos para a composição
da chapa majoritária, integrantes da coalizão de centro-direita
buscam novas alianças para encorpar o grupo. Entre os alvos estão o
PSD, do deputado federal Rogério Rosso, e o PPS, do senador
Cristovam Buarque. A frente política também mantém contato com
lideranças evangélicas, como o presidente regional do PRB,
Wanderley Tavares.
Para
contar com a participação do PPS, o grupo teria de disponibilizar
uma vaga para a disputa pelo Senado, que seria ocupada por Cristovam
Buarque ou por Valmir Campelo. “Estamos definindo alguns parâmetros
para seguir as articulações para a composição de uma chapa aos
postos majoritários. O certo é que as negociações incluem uma
cadeira no Senado. O ocupante será definido à frente, após
decidirmos se teremos um candidato à presidência da República ou
não”, pontuou o presidente do diretório regional da sigla, Chico
Alencar.
O
PSD precisa se desvencilhar das relações com o governador Rodrigo
Rollemberg (PSB) para, de fato, investir nas articulações. As
discussões oficiais sobre o desembarque começam na manhã de hoje,
em uma reunião da Executiva Regional. “Assim que decidirmos a data
da saída da base aliada, poderemos intensificar as negociações com
outros partidos e colocar as nossas propostas na mesa”, disse o
presidente do diretório regional, Rogério Rosso.
Izalci
Lucas (PSDB)
Precisa
de acordos nacionais para viabilizar a candidatura à chefia do
Executivo local. Entre os integrantes da coalizão de postulantes a
cargos majoritários, é o que mais tem se articulado, seja com a
construção de alianças, seja com a divulgação do trabalho em
várias cidades do DF.
Ibaneis
Rocha (PMDB)
Presidente
da OAB/DF entre 2013 e 2016, é estreante na política. Um dos
maiores desafios será se tornar conhecido pelo eleitorado em uma
campanha menor — entrave que pode ser revertido com o investimento
financeiro e com o tempo de tevê do PMDB e do PP, ambos partidos
controlados por Tadeu Filippelli.
Alírio
Neto (PTB)
Delegado
aposentado e deputado distrital por três vezes, o presidente da
Executiva Regional do PTB é um dos principais articuladores da
coalizão. Ao petebista, interessam apenas os cargos de chefe do
Palácio do Buriti ou de vice-governador.
Jofran
Frejat (PR)
Líder
nas pesquisas eleitorais, Frejat ocupou cinco vezes o posto de
deputado federal e, em quatro oportunidades, exerceu o cargo de
secretário de Saúde do DF. Com um histórico livre de escândalos
de corrupção, é considerado, nos bastidores, a opção mais forte
ao Palácio do Buriti.
Alberto
Fraga (DEM)
Integrante
da bancada da bala na Câmara dos Deputados, Fraga afirma,
publicamente, que será candidato a governador do Distrito Federal.
Na prática, é cotado para o Senado. Conquistou o quarto mandato com
10,66% de votos — maior percentual entre os concorrentes.
Fonte: Correio Braziliense
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