Por Maria Eugenia e Suzano Almeida
Os
hospitais da rede pública do DF não atendem mais pacientes em
situações de baixa gravidade. Desde o último dia 3, doentes que
procuram prontos-socorros e são classificados como de risco azul ou
verde estão sendo encaminhados para Unidades de Pronto
Atendimento (UPAs) e postos de saúde próximos ao local de
residência.
A
medida é resultado da Portaria nº 386/2017 da Secretaria de Saúde
do DF (SES-DF), publicada no Diário Oficial do DF, no dia 3 de
agosto, e que entrou em vigor no início do mês. Segundo a Pasta, as
novas regras têm o objetivo de organizar o sistema de atenção a
emergências da rede pública local.
Com
a mudança, os prontos-socorros devem priorizar casos
considerados mais graves, como os de insuficiência respiratória ou
cardiocirculatória, crise convulsiva, inconsciência ou vítimas
de afogamento. Pacientes com utras enfermidades serão
encaminhados às unidades básicas de saúde de cada região.
Caso
o doente apresente algum sintoma crônico, mas de baixa
complexidade, em um horário em que não seja possível o atendimento
em um posto de saúde — como à noite ou aos fins de semana —
deve procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Atualmente,
existem seis centros do tipo no DF.
A
mudança pegou de surpresa a auxiliar administrativa Maria do Carmo
Silva, 41 anos. Com dores no corpo e vômitos, ela buscou atendimento
no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Classificada com a pulseira
azul, foi orientada a procurar o posto de saúde mais próximo de sua
casa. “Estou doente. Já foi complicado chegar aqui de ônibus.
Agora, vou ter que voltar sem saber o que tenho”, afirma.
Situação
‘temerária”
A
presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde (SindSaúde), Marli
Rodrigues, afirma que a mudança é “temerária” e pode
colocar em risco a vida dos pacientes. “Não é novidade que um
quadro clínico que se apresenta, em um primeiro momento, como algo
menos grave, pode evoluir com rapidez para uma situação de
emergência”, argumentou.
De
acordo com a sindicalista, não adianta tentar “empurrar” os
pacientes para centros de saúde, onde faltam profissionais para
atendimento e, em algumas regiões, inclusive, estão fechados.
“Um
exemplo preocupante disso é a emergência pediátrica. O que vão
fazer com as crianças que serão dispensadas do pronto-socorro? Se
hoje não há pediatria nem nos hospitais, quem dirá nas UPAs
ou centros de saúde."
Marli
Rodrigues, SindSaúde
Atendimento
de primeiro mundo
A
visão do governo é oposta à do sindicato. Para o GDF, a mudança
aproxima a capital federal de um atendimento de primeiro mundo. Para
o coordenador de Atenção Especializada da Secretaria de Saúde,
Fernando Uzuelli, a nova estrutura alinha o modelo de assistência do
DF a práticas adotadas em países como Inglaterra, Austrália e
Canadá: “São lugares com medicina socializada de boa qualidade,
onde a ideia de ter vários especialistas na porta de entrada
desaparece.”
Segundo
a Pasta, as alterações na forma de acesso aos prontos-socorros são
mais um passo na reestruturação da rede pública de saúde, com o
fortalecimento da atenção primária. A regulamentação para os
serviços de emergência ocorre de acordo com a classificação de
risco, que identifica os sintomas do paciente e determina o
atendimento necessário diante da gravidade do caso.
Uzuelli
utiliza como exemplo da necessidade da medida o caso do Hospital
Materno-Infantil de Brasília (Hmib). Segundo o gestor, cerca de 70%
das crianças que procuram Hmib poderiam estar em uma unidade básica,
por possuírem quadro clínico de baixa complexidade.
“Atualmente,
o hospital acaba fazendo atendimento de diarreia, resfriado e febre,
que poderiam tranquilamente ser atendidos por uma Unidade Básica de
Saúde (UBS)”, explica.
Fonte: Metrópoles
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