Vinte
e três setores denunciam que terão prejuízos com a medida
Um
pedido de proteção contra importados feito pela indústria do aço
provocou um racha no setor produtivo e também no governo.
De
um lado, as siderúrgicas defendem que sejam levantadas barreiras
contra o aço produzido na China e na Rússia, alegando competição
desleal. Do outro, 23 setores denunciam que terão prejuízos com a
medida.
O
principal temor é o aumento dos preços da matéria-prima no Brasil,
o que teria efeito cascata sobre veículos, máquinas e
eletrodomésticos vendidos no país.
A
decisão da Camex (conselho que reúne oito ministros) será na
próxima quinta-feira (18) e industriais de diferentes setores
prometem uma peregrinação a Brasília.
CSN,
ArcelorMittal e Gerdau Açominas pediram medidas antidumping contra
siderúrgicas dos dois países em 2016. O processo de investigação,
feito pelo Decom (Departamento de Defesa Comercial) do Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços, concluiu que houve dano à
indústria de aço e propõe elevar as tarifas de importação.
De
2013 a 2015, segundo o Decom, as importações de China e Rússia
passaram a responder por mais de 70% das compras de aço no exterior,
e os preços praticados caíram 13%.
O
parecer, contudo, não foi bem recebido nos ministérios da Fazenda e
da Agricultura, que compõem a Camex. O primeiro teme efeitos danosos
sobre a inflação.
No
início deste ano, o setor siderúrgico elevou os preços desse tipo
de aço (laminado a quente) de 18% a 23%. Protegidos da concorrência
externa, os fabricantes poderiam praticar reajustes mais
substantivos.
Os
eletrodomésticos, pelas contas da Fazenda, poderiam ficar 3% mais
caros caso a barreira seja levantada.
Em
toda a cesta do principal índice de inflação, o IPCA, o impacto
estimado de alta é de 0,095 ponto percentual.
O
Ministério da Agricultura, por sua vez, já demonstrou preocupação
de a barreira ao aço provocar retaliação da China, principal
mercado do agronegócio brasileiro no exterior.
Presidente
da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin
afirma que exportadores de frango foram informados, reservadamente,
de que o atual processo de antidumping que a China move contra o
frango brasileiro foi motivado pelo desacordo no aço.
“Respeitamos
a indústria siderúrgica, mas os efeitos financeiros sobre o nosso
setor são mais relevantes para o país”, afirmou Santin.
Segundo
ele, enquanto as siderúrgicas alegam “prejuízo de milhões”, a
exportação de frangos e suínos para a China pode alcançar US$ 3
bilhões nos próximos anos.
José
Velloso, presidente da Abimaq (fabricantes de máquinas e
equipamentos), afirma que a investigação do Decom não levou em
consideração o aumento da oferta com a entrada da operação de
laminados da Gerdau Açominas, em 2013, além dos efeitos da recessão
nos anos seguintes.
“Estão
dizendo que o preço caiu por causa do chinês, mas lógico que, com
mais concorrência e menos demanda, o preço cai”, disse.
As
importações de aço, ressalta ele, são uma parcela pequena do
consumo doméstico. “As siderúrgicas não querem se defender de
uma ‘inundação’ de importados, querem ter margem para aumentar
preços.”
SIDERÚRGICAS
A
indústria siderúrgica, por sua vez, reclama que os setores que se
opõem à barreira estão defendendo “interesses privados”.
“Estão
alegando interesse público, mas não é isso”, afirmou o
presidente do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. “Estão
defendendo o interesse privado de algumas empresas que querem
continuar comprando aço na bacia das almas, em condições que
desrespeitam as regras do comércio.”
O
argumento é que, de 2013 a 2015, o mercado de aço no mundo ficou
sobre ofertado, levando os chineses a baixar muito os preços para
aumentar acesso aos mercados. Com informações da Folhapress.
Fonte:
Notícias ao Minuto
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