Por
Flavio Morgenstern
A
chamada "onda conservadora" é uma revolta contra o
estamento burocrático. O teatro do STF ao julgar o habeas corpus de
Lula pode deixar Bolsonaro mais próximo da presidência.
O
sentimento geral da população depois do papelão do STF ao votar
o habeas corpus de
Lula é um misto de indignação com desesperança,a conhecida
sensação que fica após alguém se sentir desgraçadamente
injustiçado. Apesar de toda a chicana favorecer Lula no plano
jurídico, na esfera psicológica e política, os louros serão mais
facilmente colhidos por seu arqui-rival, o presidenciável Jair
Bolsonaro.
O
STF pós-mensalão não tem absolutamente nada a ver com a mesma
Corte um ano antes. Hoje não é puramente técnica, um antro de
decisões em latim castiço ignorado pela população. Suas decisões
sobre políticos, que nunca são meramente “técnicas” (do
contrário, não precisariam ser votadas para
assegurar alguma chance de lisura”), são acompanhadas pela
população, que faz análises e cobranças das decisões dos
magistrados.
Apesar
de o Direito consolidado parecer uma construção puramente
intelectual, fria como um cálculo científico, é justamente na
superfície dos sentimentos que a ideia de justiça se
faz mais presente,
e não no abstrato reino das elucubrações intelectuais, que com
tamanha facilidade recaem na ideologia pura. O problema dos
sentimentos é que não são úteis para identificar culpados e nem
para sopesar a punição – no entanto, é na pele e nos nervos
em que percebemos a injustiça, muito mais do que nas cátedras e
tribunais.
Os
ministros do STF, em um cenário em que seus 11 membros são mais
conhecidos do que toda a seleção brasileira (alguém se lembra de
que a Copa começará em 3 meses?), podem até votar ideologicamente,
conforme suas vontades individuais, na maior parte das vezes a mesma
dos presidentes que os indicaram. Entretanto, não serão mais
interpretados pelo povo como “a decisão dos juízes”, e sim “a
decisão do Lewandowski”, “a decisão do Toffoli”, “a decisão
do Gilmar” e assim por diante. Pronunciar as sentenças em voz alta
na presença de testemunhas dá mesmo um peso de sentença valorativa
às descrições.
Fonte: Senso In Comun
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