Por
Adriana Bernades
Era
hora do almoço quando o motorista aposentado Acidino Pereira da
Silva, 62 anos, tornou-se vítima de um acidente no Setor de
Indústria e Abastecimento (SIA). Morreu ao ser atingido por um
caminhão próximo à agência dos Correios, onde trabalhava até o
ano passado. O corpo ficou estirado no chão, coberto por um lençol
verde, por quase duas horas à espera da polícia. O filho e um
sobrinho de Acidino acompanharam tudo de perto sem dizer uma palavra.
A
morte de Acidino ocorreu em um ano que começou violento no trânsito
do Distrito Federal. O primeiro trimestre fechou com um alerta para a
população e as autoridades. A média mensal de acidentes fatais e
de vítimas mortas aumentou 47,7% e 55,5%, respectivamente, entre
janeiro e março, na comparação com o mesmo período de 2017. Em
números absolutos, houve 80 acidentes e 84 óbitos até o dia 30 do
mês passado. É o pior resultado desde 2015, quando houve 91
acidentes e 97 mortes nos três primeiros meses do ano.
Os
resultados se mostram preocupantes, pois os números são
preliminares. O Departamento de Trânsito (Detran) conclui o balanço
do trimestre no fim de abril, pois acompanha a evolução do estado
de saúde das vítimas hospitalizadas por até 30 dias. Se nesse
período alguém morrer, a informação é acrescentada às
estatísticas.
O
aumento das mortes e dos acidentes tem sido monitorado pelo programa
Brasília Vida Segura, sob a tutela da Secretaria de Mobilidade. Para
o secretário da pasta, Fábio Damasceno, a intensidade das chuvas e
o excesso de velocidade podem ter contribuído para o incremento dos
registros. “A fase agora será a de ir ao ponto onde ocorreu e
analisar as possíveis causas: é problema na via? Falta
fiscalização? É preciso reduzir a velocidade? É um ponto crítico,
com várias ocorrências ou casos isolados? A partir dessas
respostas, vamos atuar para evitar que aconteçam novamente”,
afirmou.
Damasceno
detalha que o registro de fatalidades cresceu com mais intensidade
nas rodovias federais. Por isso, pretende chamar as equipes do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit),
responsável pelas BRs, para discutir o que pode ser feito. “O
Detran e o DER também precisam de uma política sistemática de
educação para buscar o engajamento da população para vencermos
essa guerra e baixar ainda mais o número de mortos. Não podemos
tolerar uma morte sequer”, diz.
A
vítima da última sexta-feira era casada, tinha dois filhos e morava
em Sobradinho. Aposentou-se como funcionária dos Correios. Um amigo
avisou a família sobre o atropelamento fatal. Um sobrinho acompanhou
a chegada da perícia e a retirada do corpo, ao lado de um dos
filhos. Segundo o motorista Gildete Cipriano Maniçoba, 59, Acidino
continuava amigo de todos na agência dos Correios; por isso,
costumava visitá-los mesmo depois de deixar o emprego.“Ele tinha
feito uma visita para nós. Uma pena, triste ele morrer assim, perto
do aniversário, no dia 19. Eu farei 60 no dia 18, um dia antes”,
disse Gildete.
A
morte de Acidino se soma à de Raquel Macedo Sintra, 24. Ela morreu
em 18 de março, quando o carro em que estava capotou e caiu de uma
ribanceira perto de Brazlândia. Outras seis pessoas ficaram feridas
(leia Memória).
Avanços
Apesar
do alerta para o aumento de vítimas e de acidentes fatais neste ano,
o Distrito Federal tem conseguido reduzir sistematicamente os
registros. Em 21 anos, o número de óbitos por 10 mil veículos caiu
de 14,9 para 2,3. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera
aceitável até três mortes para cada 10 mil carros. A relação de
mortos por habitantes também está em queda. Em 1995, para cada 100
mil moradores, havia 35,5 mortes. Em 2016, a relação caiu para 13,1
casos.
Vários
fatores contribuíram para essa redução: a campanha Paz no
Trânsito; a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro, em 1997;
a instalação de radares e pardais para controle de velocidade; a
exigência do cinto de segurança; a vigência da Lei Seca; a
obrigatoriedade de se transportar crianças em cadeirinhas; o
reajuste dos valores das multas; e o agravamento de algumas condutas,
como dirigir falando ao celular e ultrapassar em local proibido.
Memória
»
16 de abril
— Uma
mulher de 48 anos morreu em um grave acidente de trânsito, às 5h50,
no fim do Eixão Sul, na altura da 116. Segundo informações da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, o carro seguia no sentido
Asa Sul, saída do aeroporto, quando o motorista perdeu o controle da
direção.
»
13 de abril
— Uma
colisão entre carro e motocicleta resultou na morte de pai e filha.
O acidente aconteceu na pista que liga a L4 ao início da L2 Norte.
Na moto, seguiam Juvenal Júnior Azevedo, 40, e Milena, 15, quando
acabaram atingidos na traseira pela motorista de um Fiat Mobi.
»
12 de abril —
Um
ciclista de 18 anos morreu atropelado por um ônibus no Gama. O
acidente aconteceu às 22h30, em um cruzamento na Quadra 6. O
rodoviário informou que, ao passar pelo cruzamento, ouviu um barulho
e, ao parar, viu que a parte lateral do veículo atingiu o jovem.
»
7 de abril — Em São Sebastião, um homem morreu e outro ficou
ferido após uma capotagem. Newton de Carvalho Pereira, 36, não
resistiu.
»
3 de abril
— Duas
pessoas morreram e uma ficou ferida após colisão entre dois
caminhões na DF-003, próximo à Granja do Torto. Valme Gonlave
Pereira, 58 anos, perdeu o controle do caminhão-betoneira e atingiu
outro. Ele e o passageiro do veículo, o auxiliar de limpeza Ataniel
Matias Jurema, 20, morreram. Elmiro da Rocha Silva, 50, condutor do
outro caminhão, ficou ferido.
»
27
de março
— Um
adolescente de 17 anos morreu após capotar o veículo que dirigia. O
acidente aconteceu na BR-070, em Ceilândia, quando o jovem tentava
fugir da polícia.
»
18 de março — Um
acidente perto de Brazlândia deixou seis pessoas feridas e uma
morta. As vítimas estavam em um Corsa Classic. Segundo informações
do Corpo de Bombeiros, a motorista teria perdido o controle ao tentar
desviar de um cachorro que atravessou a pista. O veículo bateu em um
poste de iluminação pública e capotou ao cair de uma ribanceira.
Raquel Macedo Sintra, 24, morreu no local.
»
8 de janeiro — A
colisão entre um carro e uma motocicleta resultou na morte de um
homem de 32 anos no entroncamento da DF-180, estrada que liga
Ceilândia a Brazlândia, com a BR-070. Segundo os bombeiros, o carro
teria invadido a pista contrária.
»
6 de janeiro —
Um
homem de 44 anos morreu atropelado por um caminhão na Epia. O
acidente aconteceu em um trecho da rodovia que fica entre duas
passarelas de pedestres.
Fonte: Correio Braziliense
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