Foto: Júlio Pontes |
Coronel
da reserva da PM, o deputado Alberto Fraga (DEM) não vê “o menor
interesse” dos militares em tomar o poder no Brasil. E não tem
dúvidas de que houve infiltração de grupos radicais na greve dos
caminhoneiros. Pré-candidato ao Senado na coligação de Frejat
(PR), acredita que não há espaço na chapa para o presidente da
Câmara Legislativa, Joe Vale (PDT). “É um garoto bom, mas não
tem densidade política para um posto majoritário”. Fraga não
acredita que Bolsonaro (PSL) apoie o general Paulo Chagas (PRB) ao
Buriti. Nesta entrevista ao Brasília Capital, diz que o lugar de
Izalci (PSDB) é na vice de Frejat. E que Alírio Neto (PTB) não
chegará a lugar nenhum em voo solo. De Rollemberg só teme as
maldades que o governador possa fazer usando a máquina pública,
como requentar velhas notícias para denegrir adversários
Em
meio à greve dos caminhoneiros, surgiram focos de manifestações
pedindo intervenção militar. Qual sua visão em relação a isso? –
É
algo fora de tempo e fora de época. Conversava com alguns
parlamentares e havia certa preocupação. Eu não tenho essa
preocupação. Sei que as Forças Armadas não têm o menor interesse
numa intervenção militar. É claro que esse grupo se infiltrou.
Já
existem provas dessa infiltração? –
Sim.
Além da declaração do presidente da Associação de Caminhoneiros
(ABCAM), o governo está levantando os nomes e as lideranças. Esse
movimento está sendo insuflado. Não faz sentido a gente discutir
uma intervenção. Seria a volta de um regime autoritário, e nos
tempos de hoje a democracia está consolidada.
Mas
o senhor, que é coronel da PM, apoia Bolsonaro, que também é
militar, como candidato a candidato a presidente da República… –
Bolsonaro nunca apoiou a hipótese de intervenção militar. Não é
porque ele tem uma origem no Exército que tem esse tipo de
pensamento. De forma alguma. No máximo, quando ele fala de
militarismo, é que algumas funções, como ministro da Defesa, tenha
que ser alguém da carreira de farda. Nada mais que isso. Pegaram um
projeto que Bolsonaro fez tempos atrás, que penaliza com quatro anos
de prisão quem bloquear estrada. Mas ele fez esse projeto para
alcançar o MST. E hoje o pessoal está usando isso nas redes sociais
de uma forma muito cruel para detoná-lo perante a categoria. Projeto
é uma coisa, lei é totalmente diferente.
O
senhor é antigo aliado do Bolsonaro, mas agora apareceu o general
Paulo Chagas dizendo que terá o apoio dele como candidato ao Buriti.
Qual é a verdade nisso? –
Bolsonaro é uma pessoa muito corporativista. Claro que ele pode ter
uma simpatia pelo general, mas em momento nenhum Bolsonaro disse para
mim que vai apoiá-lo. O general inclusive fez vídeos dizendo isso.
Com todo o respeito, mas o general teve uma experiência muito ruim
quando fizeram uma reunião com alguns militares em Brasília e o
convidaram. Ele foi muito inábil com relação aos bombeiros e aos
policiais militares. Quando os PMs começaram a questionar a respeito
de salário, atendimento de saúde, disse que policial militar que
reclama é miliciano. Com isso, mais de 30 pessoas da plateia foram
embora. É claro que um apoio a Bolsonaro é importante, mas é
necessário que as ideias também estejam conectadas. Já eu tenho o
voto dos eleitores de Bolsonaro porque minhas ideias são as mesmas
dele. Estamos juntos há anos, e temos sempre concordância de
ideias.
Sua
aliança com o PR de Jofran Frejat está consolidada? – Não
só com o PR, mas também com o PP e o MDB.
Então
a sua candidatura ao Senado está garantida… – Se
tem uma pessoa por quem tenho muito respeito e confiança na palavra,
é o Frejat. Ele não tem mais idade para ficar mentindo. Ele é
muito transparente em suas posições. Quando decidi apoiá-lo e não
disputar mais o Buriti, tivemos uma conversa em que ficou certo que a
vaga seria assegurada.
E
de quem seria a segunda vaga? –
Do
Paulo Octávio. Mas tem um detalhe: Ele diz que está tudo bem, mas
algumas pessoas apostam que ele não será candidato. Não sou eu que
tenho que dizer se ele vai ou não se candidatar. Há um mês, falei
com Paulo Octavio, nos encontramos com Frejat, e ele nos disse que,
na opinião de seus advogados, ele seria candidato sim. Estamos
apostando que ele será candidato.
Fechando
essa chapa, não sobrará espaço para o acordo que o Joe Valle vem
anunciando. O senhor acredita nessas conversas entre Frejat e Joe?–
Não
acredito. Em um dos encontros que Frejat teve com Cristovam e Rosso,
ele disse ao Cristovam que não poderia assumir compromisso com
relação às vagas do Senado, que ele já tinha se comprometido. Se
o Paulo Octavio não puder ser o candidato, até abriria a
possibilidade dele estar com nossa segunda vaga ao Senado.
Isso
seria bom para a coligação? –
Acho
que seria bom para a coligação, sim. Agora, se perguntar se seria
bom para mim, não teria essa resposta ainda. O que sei é que o
segundo voto de Paulo Octavio pode migrar para o Fraga, e o meu
migrar para o PauloOctavio. Já o segundo voto do Cristovam não vem
para mim. Não tem o meu perfil. Nossas ideias são contrárias.
O
senhor não acha que o Cristovam mudou? Passou
do PT para o PDT e agora está no PPS…–Embora
ele seja um nome conhecido em Brasília, a gente sabe que o Cristovam
tenta migrar para a direita porque teve problema durante o processo
de impeachment da Dilma Rousseff. Antigamente, as pesquisas o
mostraram com boas intenções de voto. Hoje não mais. Na verdade,
hoje não vejo a eleição garantida para ninguém.
E
o Alírio Neto? –
Nós
começamos um trabalho juntos. O Alírio sempre teve o compromisso de
dizer que quem estivesse melhor estaria na cabeça da chapa. Isso
sempre foi discutido em nossas reuniões. E na última reunião na
minha casa, o Alírio não concordou com alguns posicionamentos do
Frejat, e a partir dali criou uma outra alternativa para ele. Ainda
acho que Alírio é uma pessoa muito boa e que deveria estar em nosso
grupo. Sozinho do jeito que está não vai a lugar nenhum.
E
o Izalci? –
Desde
o início ele vem dizendo que quera cabeça de chapa. Também acho
uma precipitação falar dessa forma. Ninguém pode ser candidato de
si próprio, mas sim de um grupo político.
Pela
sua análise, a cabeça de chapa com Frejat, e duas vagas ao Senado
preenchidas, o que resta é a vice. Quem seria a vice? –
Acho
que seria o Izalci.
E
o Joe Valle? –
Para
ele só sobra uma vaga para deputado federal, se ele vier. Ele é um
garoto bom, mas, sem querer desmerecê-lo, ele não tem densidade
política para querer um posto majoritário. No momento não.
Joe
fala em se aproximar do Frejat, mas o partido dele, o PDT, não é
muito simpático. Isso complica o cenário para ele? –
Completamente.
E não entendo que conversas são essas. A gente sabe que o PR pode
dar palanque para Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia ou Henrique
Meirelles.
E
o Bolsonaro? –
O
PR e Bolsonaro andaram muito próximos. Eu ainda acho que o vice do
Bolsonaro será do PR. Já se tentou o senador Magno Malta (ES), mas
ele disse preferir disputar a reeleição ao Senado. Ainda está se
procurando um nome.
Seu
partido sempre foi da base do presidente Michel Temer. Mas agora
ameaça desembarcar. O senhor é favorável a essa saída? – Acho
que só podemos desembarcar de um barco quando há pontos
conflitantes. Rodrigo Maia tem uma pré-candidatura que está ali
patinando. Ele sabe que só pode avançar se der uma subida nas
intenções de voto. Hoje ele reconhece que a situação é muito
difícil.
Como
o senhor vê a disputa pelo GDF? –
Não
podemos desprezar a máquina. O Agnelo tinha a máquina e não foi ao
segundo turno. O Agnelo tinha uma vantagem sobre o Rollemberg, que
era um bom time. O Rollemberg se isola, não ouve ninguém. E deu um
baita tiro no pé com esses rolezinhos na orla do Paranoá. Seria
muito mais fácil pegar os 11 pontos que existem na orla e fazer uma
coisa como criar uma estrutura, uma prainha, por exemplo, para o povo
se divertir. Acho que isso seria natural. Mas isso que ele fez vai
poluir o lago Paranoá de novo. A fauna está tendo um problema sério
de capivaras sendo mortas para o povo comer. Na minha casa todos os
dias apareciam mais de dez capivaras, e hoje em dia sumiram. Agora
aparecem mortas. Rollemberg mexeu com quem estava quieto. Ele
conseguiu
tirar
isso tudo dos moradores de Brasília. Fez de uma forma muito inábil.
O governador não tem muita coisa para mostrar.
“O
trevo de triagem norte é projeto meu. O Agnelo licitou e o
Rollemberg pegou quase tudo pronto, só para concluir”.
Mas
e a obra do trevo de triagem norte? –
Aquilo
foi um projeto meu. O Agnelo Queiroz fez a licitação. Rollemberg
pegou quase tudo pronto, só para concluir. Esse projeto eu fiz
quando o Arruda quis fazer uma terceira ponte para o lago norte, e os
moradores não aceitaram.
O
Agnelo, mesmo dando reajuste para 17 categorias, perdeu a eleição.
O Rollemberg ficou muito tempo dizendo que pegou o DF quebrado, que
estava sem dinheiro…
Isso
era verdade? –
Era
verdade nos 12 primeiros meses. Mas o Fundo Constitucional de
Brasília é de 13 bilhões de reais. Ele conta com um orçamento de
41 milhões.
Mas
ele alega ter recebido um rombo de R$ 6,5 bilhões… –
Isso
é o que ele diz. Eu não acredito.
Ele
tem chances de se reeleger? –
Claro
que não se pode desprezar a máquina, que é poderosa, inclusive
para fazer as maldades que ele está autorizando que façam. O que o
secretário de Comunicação está fazendo com os adversários é
algo cruel. Estão requentando notícias velhas, buscando processos
de 2007 para poder desmoralizar possíveis adversários. O Frejat não
tem nada, porque está há 15 anos sem função pública. Existe um
lado ruim do Executivo, que comparo com o policial. Se o policial tem
20 anos de profissão e nenhum processo, então não foi policial.
Ficava escondido. No Executivo você também precisa se expor diante
da burocracia.
O
senhor já respondeu a quantos processos como policial? –
Passou
de 20.
Por
quais as acusações? –
Homicídio,
troca de tiro por resistências. Mas nunca fui condenado.
E
como gestor público? –
Enquanto
estive na Secretaria de Transportes, a pasta nunca se envolveu em
escândalo. Depois que saí, quando explodiu a Caixa de Pandora –
que eu não estava envolvido – o senhor Agnelo Queiroz determinou a
um grupo de delegados “temos que pegar o Fraga”. E aí inventaram
aquela história de alguém que foi pegar dinheiro, e que ia para o
Arruda e para mim.
Mas
não existia mesmo nenhuma irregularidade ali? –
Como
eu posso impedir um funcionário de agir de forma desonesta. Mas,
quando tomei ciência, exonerei o servidor e tomei as medidas
cabíveis. Como posso ser acusado? O pior é indiciado por “ouvi
dizer”. Não existe nenhuma prova. Tenho declaração de quem deu
dinheiro afirmando que nunca tiveram contato comigo.
Acha
que isso vai ressurgir na campanha?–
Já
ressurgiu. Tenho as declarações que provam a verdade. Vou me
antecipar. O que dói é receber uma condenação por possuir posse
ilegal de arma. Isso chega a ser bizarro. Eu sou coronel. Sou
caçador, atirador e colecionador. Tenho armas registradas. Plantaram
uma arma num flat que não era meu e me condenaram por posse ilegal
de arma. Eu responderia até por 20 portes ilegais de armas, mas me
dói muito quando me falamque estou respondendo por propina. Eu
respondo normalmente por processos por coisas que fiz. No dia que
você me ver calado é porque eu tenho culpa. Agora, responder por
algo que não fiz, enquanto eu tiver voz, eu vou gritar. Na minha
vida pública, acumulei muitos processos provenientes da minha
atividade. Nunca tive e não tenho medo de processos. Tenho medo das
injustiças.
“Temos
que ter cuidado com a máquina, que é poderosa e usa de meios não
muito republicanos para atacar os adversários”.
Foto: Júlio Pontes
Acredita
que sofrerá perseguição do atual governo? –
Eu
acho que temos que ter cuidado com a máquina, que é poderosa e usa
de meios não muito republicanos para atacar os adversários. Em
recente reunião com Rollemberg e alguns coronéis dos bombeiros, o
governador exonerou quem estava em uma foto com Frejat. Nas últimas
semanas, ocorreu outro encontro com coronéis da PM, dos bombeiros e
vários policiais militares. Chegou a mim a notícia de que o tenente
coronel da PM Marco Alves, comandante do Centro de Treinamento e
Especialização do Departamento de Educação e Cultura, foi
exonerado. Ele disse que aparecia apoiando a mim e a Frejat.
Covardia.
Minha mensagem a ele é que nosso grupo é grande e vamos ganhar
isso.
O
que Brasília irá ganhar se o senhor deixar de ser deputado e passar
a ser senador? –
Vou
continuar com a bandeira da segurança pública. Prometi na minha
campanha para deputado federal que iria lutar pela redução da
maioridade penal. Aprovamos e tiramos da gaveta após 17 anos.
Chegando no Senado, vamos colocar isso para voto. Queremos tirar
também o estatuto do desarmamento. Vários projetos da segurança
pública, como por exemplo, pedir restrições com relação aos
saidões. Eu queria a revogação, mas não consegui. Restringi
bastante. O preso tinha direito a sete saídas, passou agora a só
ter uma por ano. No Senado vou ter condições de concluir esse
trabalho de brigar e criar leis. Quero também ser um senador que vai
buscar recursos para o DF.
Qual
sua opinião sobre a distribuição do Fundo Constitucional, que
inclusive causou confusão entre o deputado Laerte Bessa e um
assessor do GDF. O senhor é favorável a passar 65% para a segurança
e apenas 35% para a saúde e a educação? – Se
analisar a emenda constitucional verá que o Fundo foi criado para
segurança pública.
Então
o senhor concorda com Bessa? –
Sim.
Isso
não afetaria outras áreas? – Não,
porque a saúde e educação são custeadas pelo estado. O percentual
da segurança pública foi dividido por causa de sindicatos fortes,
que anunciam greves e pressionam governos. Há alguns impedimentos.
Não se pode usar esse fundo para pagar, por exemplo, os inativos da
saúde. Para a Polícia Militar pode. E eles têm usado isso.
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