Por Isabele Faria / Folha de São Paulo
É
madrugada. Um telefone toca na zona norte de São Paulo.
Imediatamente, alguém atende: “CVV, boa noite, gostaria de
conversar?”
Buscar
ajuda por telefone se tornou inteiramente de graça. A partir deste
domingo (1º), o número do Centro de Valorização da Vida (CVV), o
188, está disponível em todo o território nacional graças a uma
parceria com o Ministério da Saúde.
Desde
2017, o telefone já era acessível a 23 estados brasileiros. As
exceções eram Bahia, Maranhão, Pará e Paraná.
O
CVV, órgão sem fins lucrativos que funciona desde 1962, é dedicado
a escutar qualquer pessoa que esteja passando por dificuldades,
funcionando como uma prevenção ao suicídio. Em 2017, recebeu cerca
de 2 milhões de ligações. Neste ano, espera ultrapassar 2,5
milhões.
Segundo
Félix Flor, servidor público e voluntário há 4 anos, as pessoas
procuram a instituição porque precisam desabafar e contar histórias
que, muitas vezes, amigos e familiares não aguentam mais ouvir.
“Imagina
a caminhada que essa pessoa já deve ter feito para pegar o telefone
e falar sobre suas angústias para uma pessoa que ela não conhece”,
diz Antônio Batista, voluntário há 18 anos, “Falar do seu íntimo
não é uma coisa tão simples”.
O
suicídio, segundo Esther Hwang, psicóloga e pesquisadora da USP, é
uma questão de saúde pública. “É reflexo de uma sociedade
doente, e não necessariamente de uma pessoa doente”, diz. Segundo
o Ministério da Saúde, todos os dias cerca de 30 pessoas tiram a
própria vida no Brasil.
O
suicídio, segundo Esther Hwang, psicóloga e pesquisadora da USP, é
uma questão de saúde pública. “É reflexo de uma sociedade
doente, e não necessariamente de uma pessoa doente”, diz. Segundo
o Ministério da Saúde, todos os dias cerca de 30 pessoas tiram a
própria vida no Brasil.
“Se
a pessoa diz que vai embora, que quer sumir, que um dia vai acabar
com tudo, é preciso ficar atento”, diz Elaine Macedo, gestora
institucional e voluntária há 23 anos.
Segundo
a Organização mundial da Saúde (OMS), os idosos correspondem à
faixa etária de maior risco para o suicídio. No Brasil, a taxa de
mortalidade entre pessoas com mais de 70 anos chegou a 8,9 a cada 100
mil habitantes entre 2011 e 2015.
Todos
os voluntários aconselham a mesma coisa: o idoso precisa sentir que
é importante para alguém, mesmo que esse alguém lhe dê apenas um
“boa noite”.
A
taxa de suicídio também é alta entre os jovens: é a quarta maior
causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no Brasil. Dentre os
adolescentes que contatam o CVV, muitos expõem histórias de
conflitos com os pais, amigos e preocupações com a escola.
Já
os jovens adultos relatam o medo de não conseguir um emprego, falam
sobre relacionamentos complicados e sobre sua própria solidão. “Os
dias da semana também influenciam nas ligações”, diz a
voluntária Elaine. “A noite de sexta-feira, quando o jovem
‘deveria’ ir pra balada, mas se sente sozinho, é diferente de
uma noite de um domingo, quando as pessoas estão preocupadas com
questões relacionadas ao emprego”, diz.
Além
do número 188, o CVV disponibiliza atendimentos presenciais, por
chat e por e-mail. Segundo a OMS, 90% dos casos de suicídio poderiam
ser prevenidos.
Quem
deseja ser voluntário do CVV precisa primeiro passar por um
treinamento de cerca de 3 meses. Depois, é instalado em um posto da
instituição para fazer um plantão de quatro horas por semana via
telefone, chat ou e-mail.
Além
dos plantões, há um grupo de apoio para o voluntário que se reúne
uma vez por mês. ”Ao entrar em contato com a história de uma
pessoa, você também começa a se conhecer e pode se sentir tocado”,
diz Antônio.
Para
não levar o peso das ligações para casa, os voluntários conversam
entre si, principalmente durante as trocas de plantão, e tentam
espairecer entre uma ligação e outra.
“Sempre
há ligações que nos tocam mais, mas o nosso preparo como
voluntário nos ajuda a separar as coisas”, diz Elaine.
Na
rede pública de saúde, quem precisa de ajuda psicológica pode
recorrer aos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), tais
como os 2.555 CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que atendem
transtornos psíquicos e dependência de álcool e outras drogas.
Se
necessário, os pacientes são encaminhados para leitos de saúde
mental em hospitais gerais.
O
Ministério da Saúde pretende atingir a meta de reduzir em 10% os
óbitos por suicídio até 2020.
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