Por Folha Press
Nesse
período, esses acidentes fizeram 846 vítimas fatais
Brasil
registrou nos últimos dez anos a média de um acidente aéreo a cada
dois dias, segundo o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção
de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira (FAB). De
janeiro de 2008 a julho de 2018, ocorreram 1.704 acidentes com
aeronaves em todo o país.
Nesse
período, esses acidentes fizeram 846 vítimas fatais. As principais
causas de problemas graves envolvendo aeronaves foram falhas do motor
e a perda de controle do voo, de acordo com dados da Cenipa.
Os
aviões lideram a lista de acidentes da categoria, com 1.260
ocorrências. Esse número representa 73% de todos os acidentes
registrados no país na última década. Em segundo lugar estão os
helicópteros, com 220 intercorrências.
Para
o especialista em aviação Roberto Peterka, apesar do número de
acidentes ter diminuído no Brasil nas últimas décadas, ainda é
considerado alto. Ele diz mesmo levando em consideração que houve
aumento da frota, muitos acidentes poderiam ser evitados todos os
anos.
Peterka
afirma que não é possível fazer um comparativo desse panorama com
outros países porque a maioria não possui um controle da aviação
em geral.
Sobre
as causas dos acidentes, o especialista diz que sempre há vários
fatores envolvidos, mas a manutenção dos aviões e o treinamento
dos pilotos fazem toda a diferença para a redução dos incidentes.
"O ser humano está em todas essas situações de acidente e, às
vezes sem querer, é conduzido a realizar uma ação durante o voo
que será irreversível."
De
acordo com a Cenipa, na categoria de aviões os voos comerciais e
táxis aéreos apresentam menor índice de acidentes. Na contramão
aparecem as aeronaves de uso particular, que lideram o topo da lista
de incidentes. "Hoje o controle dos mecânicos e dos pilotos no
Brasil são mais rígidos, mas ainda deixam a desejar", afirma
Peterka.
Ele
diz que hoje há muitos recursos à disposição da área que
poderiam reduzir os índices de acidente caso fossem bem empregados.
Entre os exemplos estão a formação de pilotos, ofertada até em
universidades, as normas de segurança da Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil), aeronaves equipadas com mais e melhores
tecnologias.
Para
o especialista, algumas hipóteses podem explicar porque as aeronaves
menores e de uso particular são as que mais se envolvem em
acidentes: menos rigor na manutenção dos equipamentos, pilotos
menos experientes e com menos horas de voo e falta de familiaridade
com as aeronaves.
"Num
voo comercial o piloto faz reciclagem com regularidade, é
supervisionado de perto, conhece bem mais a máquina que está
pilotando."
Já
no caso das particulares, às vezes o piloto comanda tipos diferentes
de aviões, com mais intervalo entre os voos. "É a mesma coisa
de compararmos um motorista eventual de um taxista. Essa experiência
e tempo de voo no mesmo avião faz diferença na hora de uma
eventualidade, pois sua resposta será mais rápida", explicou.
São
Paulo é o estado que possui o maior tráfego aéreo do país, mas o
também que tem o número de acidentes mais elevado. Somente na
última década, ocorreram 370 incidentes, com 137 mortes. No estado,
61 aeronaves ficaram completamente destruídas.
No
Rio Grande do Sul, que ficou em segundo lugar no ranking de
acidentes, foram 169 ocorrências. Mato Grosso, Goiás, Paraná e
Minas Gerais, registraram cada um, mais de cem incidentes graves com
aeronaves.
Para
Luciana Sales, diretora da Sales Serviços Aéreos, é preciso manter
ações de controle rigorosas para oferecer segurança no transporte
aéreo do país.
Com
atuação no ramo de táxis aéreos, ela diz que a diferença entre
esse tipo de serviço e os voos particulares são as normas
obrigatórias que precisam seguir para atuar no setor.
Uma
dos principais aspectos que diferem os dois tipos de voos é que nos
táxis aéreos há uma norma que obriga a presença de um copiloto.
"Os dois profissionais são treinados para que cada um tenha
domínio de suas funções e saibam o que deve fazer, principalmente
num imprevisto", explicou Luciana.
Além
disso os pilotos passam por vários cursos de capacitação, fazem
reciclagem semestrais e permanecem mais tempo atuando num avião do
mesmo modelo. Outro cuidado na prevenção dos acidentes é o
controle da jornada do piloto. "Tem piloto que voa muito tempo,
por várias noites seguidas, o que prejudica seu rendimento e até
sua atuação numa emergência."
De
acordo com Luciana Sales, falhas na atuação do piloto estão
presentes na maioria dos acidentes. "A máquina é muito segura,
então nunca é apenas um motivo que resulta no acidente, é um
alinhamento de fatores", disse.
Ela
ainda afirma que às vezes o profissional entra numa zona de conforto
ou sofre muita pressão para voar sozinho, sem respeitar todos os
aspectos de segurança, o que gera vulnerabilidade para o voo.
"Ter
um copiloto pode fazer toda a diferença, porque um avião não é
como um carro que quando você cansa, você encosta e outro assume a
direção. Muitos dos acidentes acontecem porque o profissional é
obrigado a ultrapassar seus próprios limites ou os limites da
máquina", afirmou.
Para
Luciana, o país precisa de campanhas mais "pesadas" sobre
as causas dos acidentes aéreos e como evitá-los. Além do risco à
vida, ela diz que um acidente não pode apenas acabar com uma
empresa, mas também afeta de forma negativa toda a aviação. "Um
acidente é sempre muito ruim, pois mexe com todo mundo. As pessoas
ficam com medo de voar novamente."
A
FAB e a Anac foram procuradas pela reportagem, mas não deram
retorno.
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