Por Ricardo Senra
A
carreira do diplomata Thomas Shannon atravessou os mandatos de seis
presidentes americanos. Após duas temporadas no Brasil - entre 1989
e 1992, no governo de George Bush pai, e entre 2010 e 2013, como
Embaixador em Brasília no governo de Barack Obama -, Shannon se
aposentou em fevereiro aos 35 anos de carreira, depois de uma breve
temporada como Secretário de Estado interino na transição para o
governo de Donald
Trump.
Em
entrevista exclusiva à BBC News Brasil, em Washington, o experiente
diplomata faz projeções para as relações comerciais, políticas,
militares e de direitos humanos entre Brasil e Estados Unidos sob
o governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Politicamente,
ele opina, a Venezuela deve
se confirmar como principal ponto de interesse mútuo no curto prazo.
Mas se engana quem pensa que o americano siga as ideias de Donald
Trump, que já ventilou interesse por uma intervenção militar no
país governado por Nicolás Maduro.
"Não
é uma boa ideia", diz, relembrando a história recente do
continente.
"Nos
piores momentos dos governos militares na América do Sul, a
Venezuela foi muito generosa em receber pessoas que escapavam de
governos autoritários. No ápice da violência na Colômbia, eles
receberam muitos colombianos que estavam fugindo para salvar suas
vidas (...) A Venezuela mostrou generosidade na história e é
importante que outros países agora mostrem o mesmo."
O
americano também surpreende ao defender a entrada do Brasil na Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte) - principal aliança
militar do planeta e um dos interesses de auxiliares ligados à
política internacional de Bolsonaro, segundo a BBC News Brasil
apurou.
"Traria
ao Brasil uma oportunidade para se envolver e trabalhar diretamente
não apenas em questões militares e das forças armadas, mas em tudo
que for ligado a segurança nacional e segurança global", diz.
Os EUA
apoiariam a ideia? "Torço para que sim."
Após
atribuir aos protestos de 2013 a reviravolta política brasileira que
afastou Dilma Rousseff e trouxe o nacionalismo conservador de
Bolsonaro ao poder, Shannon não nega que haja ameaças à nossa
democracia, mas recalibra a mira contra o presidente eleito.
"A
ameaça à democracia veio antes de Bolsonaro", diz. "Ela é
fruto da acumulação de questões que produziram ele."
Sobre a
eventual nomeação de Sergio Moro ao Ministério da Justiça ou à
Suprema Corte, o americano diz que o juiz "é profundamente
respeitado fora do Brasil".
"O
Brasil não é para principiantes", diz o ex-embaixador à
reportagem, citando Tom Jobim. "Também não é para
apressados."
Fonte: BBC Portugal
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