Por João Domingos
Se fosse um jogo de futebol,
poderia ser dito que o jogador reserva, convocado para uma ou algumas
partidas no lugar do centroavante matador afastado por algum motivo,
talvez uma viagem ao exterior, deu um show e marcou quantos gols
foram possíveis. Como não é uma partida de futebol, mas a forma
como se exerce o poder, é preciso então mudar o sentido da
comparação. O reserva deu um show. Em outras palavras, o general
Hamilton Mourão, vice-presidente, venceu a batalha da comunicação
no seu primeiro teste à frente do governo. Um feito raro, muito
raro, pois essa é uma das guerras mais difíceis de vencer.
Na semana em que substituiu o
titular Jair Bolsonaro, de viagem para Davos, na Suíça, Mourão
evitou portas laterais ou de fundos para entrar em seu gabinete.
Passou sempre entre um pequeno exército de repórteres, acampado na
entrada do anexo do Palácio do Planalto onde está instalado o
gabinete do vice. Fez charme na entrada e na saída, só para dar
tempo a um pequeno suspense, parou e deu entrevistas, sobre tudo e
sobre todos. A pergunta é sobre reforma da Previdência? O tempo de
serviço dos militares deve ser aumentado de 30 para 35 anos e o
projeto não deve ser enviado junto com a peça principal. É sobre
as suspeitas que envolvem o senador eleito Flávio Bolsonaro, filho
do presidente? Apurar e punir, se for o caso. Há solução para a
Venezuela? Maduro e seu bandão deveriam procurar um país que os
queira. Segue o baile. E assim a semana se passou. Mais do que
responder aos repórteres, Mourão deu seu recado.
Indagado sobre decreto assinado
por ele que ampliou o número de pessoas – servidores comissionados
também, e quase todos por indicação política –, o que vai
comprometer a transparência do governo, Mourão não fugiu. Disse
que a assinatura do decreto não foi ideia sua, que o ato foi
combinado com o presidente e que o documento foi preparado pelo
governo anterior. Simples assim. Como deve ser a comunicação.
Quando questionado sobre o que
acha da decisão do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) de abrir mão do
mandato de deputado e ir embora do País por causa das ameaças que
vem sofrendo, Mourão respondeu que o parlamentar deve ter suas
razões, sobre as quais não tinha mais detalhes. Em seguida, fez uma
defesa do estado democrático de direito: “Quem ameaça parlamentar
está cometendo um crime contra a democracia. Nela você tem sua
opinião e liberdade para expressá-la. Parlamentares, eleitos,
representam os cidadãos que votaram neles. Quer goste ou não, você
ouve. Gostou, bate palma. Não gostou, paciência. É assim”. No
meio disso tudo, Mourão ainda postou nas redes sociais um foto dele
cercado de jornalistas. No texto, os agradeceu por tê-lo esperado
todos os dias.
Goste-se ou não do general
Mourão, o resultado foi que as notícias consideradas positivas por
empresas especializadas nesse tipo de medição deram uma goleada nas
negativas.
Até agora, só o ministro da
Economia, Paulo Guedes, vinha conseguindo tal feito.
O ministro da Justiça, Sérgio
Moro, um campeão da comunicação durante a Operação Lava Jato, o
que fez com que entrasse em sintonia com todo o País e fora dele,
ainda está meio lá e meio cá desde que aceitou o convite para ser
o superministro encarregado de criar um plano para salvar a arruinada
segurança pública do País e criar métodos eficazes de combater o
crime organizado e devolver o domínio dos presídios ao Estado.
Talvez mais pra lá do que pra cá, pois atrapalhado pelo noticiário
que envolve Flávio Bolsonaro, além de assistir, sem nada que fazer,
à divulgação, gota a gota, do relatório do Coaf, órgão sob sua
jurisdição, a respeito da movimentação bancária de familiares do
presidente da República.
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