O
senador Renan Calheiros atacou Dora Kramer pornograficamente. Mas
ainda mais indecente foi como a mídia abafou o caso para proteger um
político, e não a jornalista
Por
Flávio Morgenstern
Há
algo de sórdido (apud Folha)
no infame tweet de Renan Calheiros nessa semana, que poderia já dar
uma renda extra ao senador do MDB de Alagoas lançando-o
como youtuber:
não apenas Renan pôde atacar violentamente a jornalista Dora
Kramer, falando de intimidades sexuais tão esquisitas que são
impossíveis de serem verdadeiras, como a mídia inteira, recheada de
jornalistas mulheres ávidas a denunciar cada caso de “machismo”,
está completamente calada. O mesmo vale para as feministas.
Não
adianta ter notinhas de canto de página em sites de portais de
notícia. A internet, apesar de parecer conter toda a população
brasileira, é uma pequena bolha. Pergunte para o seu Juca da
quitanda e para a dona Marinalva do caixa de mercado e tente
descobrir se eles já sabem do ataque de Renan. A chance de a
resposta ser negativa é de quase 100%.
É
assim que o jornalismo trabalha para criar narrativas: selecionando o
que o grosso da população vai saber e, com isso, pensar. Até o
presente momento, sobretudo entre a parcela mais carente do povo (ou
que não lide diretamente com política partidária 25 horas por dia
como a turma das redes sociais faz), Renan Calheiros é apenas o
nome de um senador.
O
curioso é que Renan é um político, e a mídia, com suas centenas
de jornalistas mulheres que denunciam frases machistas de Bolsonaro a
cada segundo que podem, supostamente “investiga” políticos.
Ambos estariam em polos opostos. E Dora Kramer, afinal, é uma
jornalista.
Assim
como o movimento #MeToo na América se provou uma farsa, protegendo
abusadores e até pedófilos ligados à esquerda, aqui também as
feministas e o corporativismo de jornalistas parece falar mais alto
em prol de um político que poderia ser mais protetor da esquerda.
Ainda que este político seja ninguém menos do que Renan Calheiros.
O
ataque de Renan foi pornográfico. Violento. Injusto. Ridículo.
Covarde. Estúpido. Mas a mídia, sobretudo a televisiva, que fez uma
cachoeira das declarações de Bolsonaro (que estava criticando
um estuprador e esquartejador)
contra Maria do Rosário, parece não ter interesse que o povo saiba
sobre o que anda fazendo Renan Calheiros além da bolha da internet,
onde todos já sabem do ocorrido.
Há
algo de ainda mais podre no reino de Alagoas e da mídia, quando o
silêncio da mídia fala mais alto do que proteger uma jornalista
respeitada para manter a imagem de Renan tão inabalada.
Senso In Comum
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