Em busca de mais segurança
e disciplina, instituições vão debater com a comunidade escolar a
adesão ao modelo. GDF vai priorizar piores
Por Manoela Alcântara
Um mês após quatro
escolas públicas do Distrito Federal iniciarem o modelo de
gestão compartilhada com a Polícia Militar (PMDF), outros colégios
manifestaram interesse em participar do projeto. Diretores,
professores e pais de alunos procuraram as regionais de ensino
para saber como ocorrerá o processo de expansão e cogitar a
probabilidade de fazerem parte da iniciativa.
Até o momento são 10 escolas,
localizadas em Samambaia, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo II,
Sobradinho, Paranoá, Recanto das Emas, Guará e Estrutural. Essas
instituições vão iniciar os debates com a comunidade escolar.
A ideia é discutir a novidade e submeter a implementação da medida
a uma votação, assim como ocorreu nas unidades em que o modelo
já funciona.
As escolas acreditam que a
gestão compartilhada com a PM vai ajudar a melhorar questões
como segurança, disciplina e desempenho na aprendizagem. Embora
ainda não haja estudos para aferir resultados da
gestão compartilhada, a esperança é conseguir reverter
uma realidade de violência e precariedade nas imediações das
escolas.
Desde 11 de fevereiro, quando
começou o ano letivo, a PM está: no Centro Educacional (CED)
1 da Estrutural; no CED 308 do Recanto das Emas; no CED 7 de
Ceilândia; e no CED 3 de Sobradinho. Conforme noticiado
pelo Metrópoles, pouco menos de um mês após a implementação
da novidade, a comunidade escolar já sente os efeitos e elogia
as mudanças.
O Governo do Distrito Federal
(GDF) pretende expandir o modelo para 40 das 693 instituições
públicas do DF. Isso deve ocorrer até o fim do ano. Por enquanto,
são feitas análises pelas secretarias de Educação e de Segurança,
pela Procuradoria-Geral do Distrito Federal, pela Polícia Militar e
pelo Corpo de Bombeiros. As conversas preliminares são uma tentativa
de se antecipar às sondagens do Executivo local.
“Um sonho”
O filho de Suellen Thaís
Ribeiro Kreiser, 32 anos, Jonathan Ribeiro, 10, estuda no Centro de
Ensino Fundamental (CEF) 2 localizado no Riacho Fundo II. Para ela, a
mudança seria “um sonho”. “Fomos esquecidos pelo poder
público. Uma escola militarizada melhoraria a disciplina, a
segurança. Traria ainda os benefícios para a comunidade. Tem muito
assalto aqui no Riacho Fundo II, perto da escola, muita gente
vendendo droga. A presença da polícia ajudaria”, afirmou.
A estudante de pedagogia relata
que o CEF 2 teve ganhos significativos após a entrada da nova
diretoria. “Eles separaram as turmas dos pequenos [até 11 anos]
das outras. Tínhamos relatos de tráfico, brigas. Só aí já
melhorou demais”, diz.
A vice-diretora do CEF 2,
Cláudia Cristina Soalheiro Silva, afirma que aciona o Conselho
Tutelar e a polícia quando precisa.
“Já tivemos uma
ocorrência de tráfico e uso de drogas dentro da escola. Levei o
caso para a Delegacia da Criança e do Adolescente. Reduzimos
bastante essa questão das drogas e da violência com a mudança de
turno e a parceria com a sargento Rosana, que nos auxilia dentro da
instituição. Existem diversas soluções e maneiras de se melhorar
o sistema, mas acreditamos na gestão compartilhada”, disse.
A Mãe de Mielly Lopes, aluna do
5º ano, Viviane Lopes, 37, é enfática: “Precisamos de
policiamento. Tem muito traficante na região. É bom para os alunos
e para os professores”, acredita a dona de casa.
Viviane também defende a
implementação da gestão compartilhada
Critérios de expansão
do projeto
O pedido das instituições de
ensino para conhecer o modelo e debater com a comunidade escolar não
é uma garantia de que as escolas serão escolhidas para participar
do projeto. De acordo com a Secretaria de Educação, serão
avaliados critérios como a nota da instituição no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a violência na região
e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da localidade.
O chefe da pasta, Rafael
Parente, ressalta já haver um estudo em andamento que identificou
175 colégios com o pior desempenho da rede. Essas serão as
chamadas “escolas prioritárias”. Além disso, há uma
identificação das áreas com os maiores índices de violência.
“Vamos cruzar essas duas
listas e definir as escolas que receberão a expansão da gestão
compartilhada. Depois disso, diretores, sindicatos e centros de
ensino precisam fazer assembleias para ver a aprovação da
comunidade”,
Rafael Parente, secretário de Educação.
O modelo em escolas públicas é
inédito na capital. Os PMs que atuam nos centros de ensino são
responsáveis pelas atividades burocráticas e de segurança, como
controle de entrada e saída, horários e filas, além de darem
aulas de musicalização, ética e cidadania no contraturno.
Orientadores, coordenadores e
professores permanecerão encarregados do conteúdo pedagógico das
classes, como ocorre nas que já têm o modelo implementado.
O investimento da PMDF para
assumir a responsabilidade é de R$ 200 mil por ano. Cerca de 20
militares atuam em cada uma das instituições escolhidas.
Responsável pelo Comando de
Policiamento Escolar da PMDF, o coronel Alexandre Ferro afirma que a
visão positiva do Programa Escola Gestão Compartilhada se mostrou
preponderante durante as audiências públicas realizadas antes da
implantação nas quatro escolas-piloto. “Tanto pais de alunos,
estudantes e parte dos professores que eram alvo da criminalidade
pediam, há muito tempo, esforço para manter a disciplina”,
lembra.
Para o coronel, com o novo
modelo, os alunos passam a ser mais assíduos e os professores, mais
respeitados. Isso está alinhado à expansão da iniciativa. “Nós
temos esse e outros 56 projetos sociais em andamento”, ressaltou.
Expectativa
Pai de um estudante do Centro de
Ensino Fundamental 10 do Guará II, Sebastião de Sousa Brandim, 42
anos, é a favor a ideia. “Aumenta a disciplina dos alunos e
reduz o índice de faltas. Conhecemos uma escola em Valparaíso
[GO] que foi transformada depois da administração da Polícia
Militar. Melhorou demais, e hoje ela é exemplo”, afirmou.
No entanto, o assunto não é
consenso na família. O filho, Carlos Daniel, 12 anos, discorda, mas
por questões pessoais. “Não quero ter que andar com aquele
uniforme, de camisa para dentro, nem cortar meu cabelo curto”,
disse.
O adolescente, contudo, faz
uma ponderação: “Embora seja contra, acho que vai melhorar a
questão das ameaças que a gente sofre. Muitos alunos ficam querendo
bater, dizendo que vão matar os outros. Isso deve acabar”,
acredita.
Em 2014, um aluno esfaqueou
outro em frente à instituição para roubar um celular. Os casos de
intriga entre os estudantes também são frequentes.
Sebastião e Carlos Daniel: o pai conhece o modelo implementado em Valparaíso (GO) e aprova a gestão compartilhada com a PM |
A diretora do CEF 10, Elizabeth
Caetano, confirma o aumento da procura dos pais pelo modelo. Ela
afirma que a instituição está aberta às discussões. Porém, tudo
deve ser conversado e chancelado pelos professores do centro de
ensino.
“Já temos uma parceria com o
Batalhão Escolar. Os pais nos perguntaram como funciona a gestão
compartilhada e pedimos para que procurem a regional de ensino.
Podemos discutir. Se a comunidade aprovar, seremos a favor”, disse
Elizabeth.
Escolas prioritárias
Embora a aceitação do modelo
militar tenha sido apontada como positiva por alguns pais e
professores, o secretário de Educação, Rafael Parente, ressalta
que essa não pode ser a única maneira entendida como solução.
“Não adianta ter um trabalho
muito bem-feito em alguns colégios se há contradição no modelo.
Vamos alterar o regimento escolar interno. Será rigoroso para todas
as escolas. O assunto tem de ser tratado em toda a rede pública,
não somente como pontos isolados”, lembrou o secretário.
Entre as mudanças previstas,
que devem ser implementadas já após o Carnaval, estão horários
rígidos de entrada, punição para violência dentro das escolas,
exigência de uniforme e respeito ao professor. Quem desobedecer terá
de cumprir serviço comunitário nos colégios. As primeiras a
sofrerem essas alterações serão as 175 em pior situação
no resultado do Ideb.
“A expansão da gestão
compartilhada vai acontecer. É um projeto com aprovação da
população. Os relatos são positivos em relação à
transformação das escolas. Tem tudo para que isso aconteça. No
entanto, não podemos deixar de nos preocuparmos com toda a rede”,
completou Parente.
Falta de consenso
O assunto, contudo, está longe
de ser unanimidade. Alguns deputados distritais e integrantes do
Sindicato dos Professores (Sinpro) são contra a gestão
compartilhada.
“Somos a favor da Polícia
Militar por meio do Batalhão Escolar, mas no portão de
entrada de todas as quase 700 escolas públicas do DF. Queremos o
mesmo investimentos dessas quatro escolas em todas as outras, mas sem
militarização e com R$ 200 mil por ano”, disse o diretor do
Sinpro Samuel Fernandes.
O sindicalista ressalta
ainda querer professores de música com instrumentos
adequados, docentes de educação física com toda estrutura
necessária para trabalhar com os alunos, internet e laboratórios de
informática, bem como orientadores educacionais em número
suficiente para atendimento de qualidade. “Enfim, 25 profissionais
levando educação de qualidade para todas as escolas da rede pública
do DF”, analisou.
Repercussão na
CLDF
Na época em que a medida foi
anunciada, alguns distritais se manifestaram contra a iniciativa. “A
autonomia dos diretores e docentes está gravemente ameaçada por
esse projeto”, disse Fábio Felix (PSol).
“A militarização não
implica na aprendizagem dos alunos. Pelo contrário, está na
contramão da tendência mundial da educação, que é fortalecer a
autonomia dos alunos”, emendou Leandro Grass (Rede).
Leandro Grass chegou a propor um
decreto que suspendia a gestão compartilhada, mas o texto foi
rejeitado no último dia 13, por 15 votos a 5.
Outros, apesar do tom
crítico, foram mais ponderados. “Parece uma jogada de marketing.
Não sou contra a medida, acho que tem de ser bem-feita, embasada,
com cuidado para todas as escolas”, afirmou Chico Vigilante (PT).
Já o deputado Hermeto (PHS),
que é policial militar, defende o modelo anunciado pelo governo. “As
escolas militares resgatam algo que está perdido na sociedade: o
civismo, o amor à pátria – tudo, claro, respeitando as diferenças
de cada um”, apontou. Para ele, a Lei de Diretrizes e Bases precisa
ser seguida, mas com a recuperação do respeito ao professor e à
instituição escolar.
No último dia 13, a Promotoria
de Educação do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT) manifestou-se pela legalidade do
projeto-piloto de gestão compartilhada entre a Polícia Militar e a
Secretaria de Educação em quatro escolas públicas do DF.
Confira a lista de 10
escolas ou integrantes da comunidade que procuraram as regionais de
ensino e a Secretaria de Educação para manifestar o desejo de
aderir ou de conhecer melhor o modelo de gestão compartilhada com a
PMDF:
Samambaia
Centro de Ensino Fundamental
507, Samambaia Sul
Centro Educacional 123,
Samambaia Sul
Escola Classe 410, Samambaia
Norte
Guará
Centro de Ensino Fundamental 10
Núcleo Bandeirante
Centro Educacional 1
Riacho Fundo II
Centro de Ensino Fundamental 2
Sobradinho
Centro de Ensino Fundamental 9
Paranoá
Escola Dra. Zilda Arns
Recanto da Emas
Centro de Ensino Fundamental 206
Centro de Ensino Fundamental 602
Fonte: Metrópoles
Leia também: ADOLESCENTE DE 17 ANOS PERDE CONTROLE DE CARRO E ATROPELA DUAS MULHERES NO DF
Fonte: Metrópoles
Leia também: ADOLESCENTE DE 17 ANOS PERDE CONTROLE DE CARRO E ATROPELA DUAS MULHERES NO DF
1 Comentários
Fiz um abaixo assinado em 2 dias consegui 447 assinaturas, entreguei em maos ao secretário do governo,a maioria dos pais aqui do 507 não aguenta mais tanta violência.
ResponderExcluirObrigado pela sugestão.