Por Lúcio Flavio
Servidores
da Secretaria do Trabalho do DF estão aprendendo uma nova língua.
Nada a ver com idioma estrangeiro, mas um canal de comunicação que
propõe derrubar as barreiras do preconceito, visando a inclusão
social. Lançado na última quinta-feira (25/04), o Programa de
Capacitação Contínua dos Servidores do órgão vem qualificando
voluntários na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
A
ideia é proporcionar um atendimento humanizado e eficiente aos
milhares de deficientes auditivos que procuram diariamente os
serviços das 17 agências de trabalho espalhadas pelo DF. Se tudo
der certo, a proposta é apresentar essa iniciativa inédita a outras
secretarias. “Qualquer iniciativa em defesa da inclusão social e
socialização tem que ser vista com bons olhos”, defende o
secretário da Setrab, João Pedro Ferraz. “Ao percebemos essa
necessidade, alguns servidores da secretaria se voluntariaram no
projeto, então nós encampamos a iniciativa e demos todo o suporte”,
conta o gestor.
Num
primeiro momento, o programa que tem a duração de uma semana, vai
capacitar 16 gerentes de várias unidades do Trabalhador DF nessa
primeira turma. O plano é que mais adiante todos os atendentes
passam pela capacitação onde estarão aptos a dar informações
básicas, em LIBRAS, dos serviços essenciais oferecidos pelas
unidades. São demandas pontuais como emissão de documentos,
direcionamento para o mercado de trabalho, informações sobre o
seguro desemprego. Segundo o secretário, a meta é qualificar o
maior número possível de profissionais.
“Queremos
que esses voluntários se tornem em multiplicadores da ação até
formar um grupo que atenda todas as unidades”, destaca.
As
mudanças vão além da parte pedagógica, já que todas as unidades
da Agência do Trabalhador DF se adaptarão também fisicamente para
atender os cidadãos portadores de deficiência. “O curso de LIBRAS
é só o pontapé inicial, as agências também vão sofrer
alterações na parte estrutural, recebendo placas de brailes e pisos
táteis”, antecipa o subsecretário da Setrab, Vicente Goulart.
Agentes
transformadores
Gerente
de Planejamento e Estratégica de Qualificação da Setrab, Tatiana
Leite explica que a iniciativa pode ajudar a promover a
acessibilidade nas empresas do DF, já que muitas delas, parceiras da
Setrab, não estão preparadas para atender funcionários que têm
algum tipo de necessidade especial. Das 732 firmas do DF obrigadas a
cumprir a reserva legal de cotas, apenas 240 conseguem atingir 100%
da meta. Segundo dados do Ministério do Trabalho, atualmente existem
mais de 570 mil pessoas com algum tipo de deficiência no Distrito
Federal.
“O
público de deficiente auditivo é muito grande em Brasília, pode
ser que a iniciativa privada também entre nesse programa. O cidadão
quer trabalhar, mas às vezes não tem alguém de LIBRAS nas empresas
para fazer essa comunicação, entender o que ela está falando”,
observa.
Servidor
da Agência do Trabalhador da Estrutural, Mário Mendes, um dos
voluntários do Programa de Capacitação Contínua dos Servidores da
Setrab, diz que fazer parte de iniciativa inclusiva é funcional para
os portadores de necessidades especiais e engrandecedor para quem
aprende. “Somos voluntários na arte de aprender, é um aprendizado
para a vida inteira”, avalia. “Comunicação é importante. É
muito frustrante alguém tentar se fazer entender e não conseguir
resposta. Por isso o nosso papel nesse projeto é tão
relevante”, destaca.
Já
a professora do curso, Jane Ferreira, a experiência é pertinente
não apenas porque propicia acessibilidade a essa parcela
significativa da sociedade, mas por fazer dos voluntários, valorosos
agentes transformadores da sociedade. “Tem que saber se comunicar
nem que seja o básico, o mínimo e não ser apenas um tradutor de
‘português mímico’. Muita gente confunde LIBRAS com mímica,
mas é muito mais do que isso, é uma experiência transformadora”,
conclui ela, que aprendeu a linguagem dos sinais quando lidava com
mulheres vítimas de violência doméstica. “Sempre tinha uma no
grupo que era portadora de necessidades especiais. Então, para poder
me comunicar melhor com todas, resolvi aprender a falar com elas”,
diz ela, sem se arrepender.
Fonte: Agência Brasília
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