Bolsonaro
não foi eleito graças a Mourão e tampouco o vice-presidente
ofereceu apoio do centrão, palanques ou tempo de TV, por que então
o general age como chefe de governo?
Por
Andre Assis Barreto
Antes
das eleições todos achavam que um general para vice-presidente,
escolhido a dedo por Bolsonaro, sepultaria os interesses da esquerda
em um impedimento. Apenas eventual cassação de chapa seria do
interesse deles, visto que o general deveria ser ainda mais firme e
rigoroso que o capitão (não é?). Mas bastou gen. Mourão abrir a
boca para percebermos duas coisas: nos primeiros meses ele se
comportou como ombudsman –
profissional que acata reclamações externas e tenta resolvê-las de
maneira supostamente imparcial – do governo, não-requisitado,
diga-se; a cada declaração de algum dos ministros de seu governo
plantada como “polêmica” pelo quarto poder (que vilipendiou
Mourão e sua chapa ao longo de toda a eleição), Mourão surgia
para apaziguar e contradizer seus ministros (exemplos logo a seguir)
e, ainda, as declarações de Mourão, por mais direito que o general
tenha a elas, costumam ir na completa contramão da plataforma
ideológica que levou Bolsonaro à presidência: autenticidade,
característica totalmente vinculada à figura de Bolsonaro, era ele
e não Mourão que era recebido por multidões nos aeroportos;
conservadorismo de costumes e liberalismo na economia.
A
patente de general pode ser superior à de capitão, mas a de
vice-presidente não poderia ser mais decorativa que a da senhorinha
que serve café em relação ao CEO da empresa. Com um agravante:
ninguém votou na chapa PSL-PRTB por causa do Mourão (nem por causa
do PSL ou do PRTB, aliás), figura que virtualmente ninguém
conhecia. PRTB/Mourão não agregaram tempo de TV, votos ou manobras
com o centrão, porque PRTB e Mourão são praticamente
insignificantes a esse respeito. Quem fez a campanha virtual, pelas
redes sociais, para eleger a chapa que alçou Mourão à
vice-presidência do Brasil foram os olavetes, que já estavam em
campanha por Jair Bolsonaro há muito tempo, aliás, com clareza de
pontos de vista indiscutível.
Considerando
isso, algumas trupes se juntaram: petistas e esquerdistas, que veem
em Mourão desdizendo o governo do qual faz parte uma oportunidade
para instar o caos, além de quererem apontar para uma suposta
equiparação que, em verdade, é absurda: Mourão seria o Temer de
Bolsonaro. Isso não poderia estar mais errado. Temer agregou à
chapa petista tempo de TV, palanques pelo Brasil inteiro e a
submissão da grande bancada fisiológica do PMDB aos projetos do
governo e mesmo com toda essa contrapartida e poder de barganha, não
se viu Temer agindo como se fosse chefe de governo de Dilma logo nos
seus primeiros dias de governo. Aliás, isso nunca foi visto, exceto
para dias antes da confirmação do impeachment. A comparação é
absurda, Temer foi escolhido e aceito porque tinha muito a dar, de
Mourão e do PRTB esperava-se, no mínimo, o apoio ideológico, já
que a aliança surgiu supostamente por afinidade de ideias – algo
que nunca veio.
A
estes dois primeiros grupos juntaram-se os “isentominions”, isto
é, gente que não é de esquerda e não é petista, mas só consegue
dar dois suspiros seguidos se reafirmarem publicamente sua isenção
“crítica” com relação ao governo; inclui estirpes liberais,
“turma da kombi” (eleitores ideológicos de Meirelles, Amoedo e
Alckmin) e outros tipos isolados e numericamente insignificantes.
Para estes, Mourão virou herói, mesmo que esteja em região
distante deles no espectro político, pois suas tiradas contrárias a
Olavo de Carvalho ocupam lugar especial no pedestal de prioridades:
seja militar progressista e positivista, seja comunista, seja lá da
coloração que for, uma lacrada anti-olavete tem preço inatingível
para essa turma – e cada um tem os heróis que merece (isso inclui
outras esferas de anti-olavetes: antissemitas, tradicionalistas,
islamofílicos etc).
Muita
gente, que pensa exatamente do jeitinho que a esquerda quer que
pensemos, pode estar surpresa com isso, porque “não é óbvio que
um militar é um direitista malvadão”? A esquerda quer pintar
todos à sua direita com a mesma cor, mas a verdade é que
militares sempre tiveram
uma ideologia não muito simpática ao conservadorismo. A ideologia
predominante ali faz parte da velharia francesa, um daqueles lixos
ideológicos que só sobrevivem depois de mortos no Brasil, como
dizia Millor Fernandes, o positivismo. Daí vem a crença pueril no
“progresso” como a marcha inevitável da humanidade, desde que os
preceitos científicos sejam aceitos e implementados, então a marcha
inexorável da ordem e do progresso triunfará.
Nesse
meio pode tanto haver espaço para algum ocasional conservadorismo de
costumes, quanto para um caso quase completo de progressismo moral,
como o de Mourão. Mesmo o propalado anticomunismo do regime militar,
característica que, se demovida da narrativa histórica oficial, faz
cair por terra as tentativas da esquerda de comparar nossos militares
a outros ditadores ou ao próprio nazismo, pode ser questionado
quando observamos, por exemplo, que o ditador comunista da Romênia,
Nicolai Ceausescu, deposto e morto pelo seu próprio povo foi, antes
disso, condecorado
com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul pelo general Geisel.
Não que isso seja prova de comunismo do general, evidentemente, mas
conseguem imaginar qualquer um com um programa anticomunista (ainda
que seja anarquista ou social-democrata) que congratule com a mais
alta pompa um notório comunista? Não sabemos se Mourão faria isso,
crê-se que não, mas quem sabe para agradar a imprensa? A mesma que
quis destruí-lo com suas declarações escorregadias durante a
campanha (e Mourão, nessa época, quem defendeu a honra da sua chapa
não foram seus parceiros militares, mas a ativa ala olavete do
governo que hoje você quer expurgar).
Muito
foi dito que Carlos e Eduardo Bolsonaro, além do professor Olavo,
serem responsáveis por criar cisões e atrapalhar o governo, mas na
pior das hipóteses, o inaugurador da cizânia fora o próprio Mourão
quando decidiu autoproclamar-se ombudsman do governo. Uma pesquisa
rápida e um punhado de notícias deixa isso evidente:
[Dica:
apenas o homem que te deu a posição que ocupa e seus filhos].
Mourão
cai na armadilha de Wyllys e é todo simpático com parlamentar que
cuspiu no cabeça de sua chapa e já
disse que cuspiria de novo.
Vice-presidente
general Mourão, já sabemos que nada que levou o presidente Jair
Bolsonaro à condição de presidente do Brasil é do seu agrado e já
que você não revelou isso antes da eleição, poderia ao menos
deixar de contribuir com a imprensa que quer destruir o governo do
qual o senhor faz parte com fogo amigo? Atitudes dos seus ministros
que não forem do seu agrado podem ser resolvidas internamente, sem
querer jogar um prato cheio no colo da oposição do tipo “quanto
pior melhor”. Se o seu desejo é ver o governo prosperar só há
duas alternativas, a descrita acima ou se calar.
Fonte:
Senso Incomum
Leia também: DITADURA DE MADURO JÁ MATOU 57 MANIFESTANTE EM 2019
0 Comentários
Obrigado pela sugestão.