Se
o Brasil é um país conservador, porque não existe nenhuma grande
mídia, uma estação de rádio, ou um partido político conservador?
Por
Teff Ferrari
Ao
observar os rumos que a política brasileira tem tomado nesses
últimos anos, é possível perceber uma variedade de movimentos
populares e motivações políticas nas conversas do dia-a-dia que
tendem maciçamente ao conservadorismo.
Boa
parte dos brasileiros se diz ou, no mínimo, possui alguma tendência
à visão de mundo conservadora. Este dado se apresenta a partir de
diversas interpretações de acontecimentos ilustrados abaixo, como:
1
– a espontaneidade das eleições de 2018 – num cenário de
crescimento do então candidato Jair Messias Bolsonaro, dito
claramente conservador;
2
– o referendo de 2005 em que a população optou por políticas
armamentistas visando a proteção da propriedade privada e de suas
famílias;
3
– as diversas campanhas sociais e manifestações populares
contrárias a liberação do aborto, das drogas e de outros pactos
morais e sociais
4
– na tentativa de desnaturalizar pautas como a zoofilia e a
pedofilia, compreendeu-se os impactos negativos à sociedade, como
emergido durante a exposição “artística” do Queermuseu
provocando polêmicas em 2017;
5
– e a questão do Brasil ser predominantemente cristão, exercendo
a prática de seus valores e sua moral.
Atualmente
não é possível identificar grandes canais em que a opinião
majoritária da população, de fato, se expresse. É comum observar
comentários negativos e campanhas para o cancelamento de assinaturas
como Folha de São Paulo, Estadão, Veja, O Globo, dentre outras.
Contudo, não há uma gama de alternativas, simplesmente porque não
existe nenhuma grande mídia conservadora ou uma estação de rádio
conservadora, nem sequer um partido político sinceramente
conservador.
Isso
poderia ser atribuído a uma censura velada bem como a destruição
sorrateira das mídias independentes?
É
notória a perseguição dos “pequenos” canais de direita em
plataformas como YouTube, Facebook e Twitter, principalmente quando
estes canais buscam desmentir alguma fakenews ou mostrar todas as
faces dos recortes de história que são noticiados. Hoje, a
informação está mais plural do que nunca. Mesmo com toda a pressão
por parte dos poderosos de plantão, há uma gama de mídias
alternativas que tentam sobreviver diariamente nesse mar de
jornalismo “neutro” e que por vezes, não declaradamente são de
esquerda ou “centrão”.
Mas
se essa realmente é a opinião esmagadora da maioria, como as
pessoas podem assumir o seu papel democrático na sociedade?
A
constituição estabelece que o poder soberano pertence ao povo, com
a qual pode a exercer através dos seus representantes ou diretamente
através de plebiscitos e manifestações de rua. Desde o início das
manifestações populares de 2013 em que o “gigante – felizmente
– acordou”, a população pôde compreender que a democracia é o
poder do povo, e que a política consiste em sentir e entender o que
o povo quer. Posto isso, ainda que mal representados ou tendo sua
opinião ignorada, a população tem se fortalecido para lembrar, a
todo o instante, o que deseja, como deseja e por que deseja que o
país se desenvolva desta maneira. Da maneira com a qual foi
escolhida nas urnas e que vem de encontro com esse espírito
conservador.
Aquela
falsa ideia de felicidade suprema ou utópica de sociedades
maravilhosas criadas a partir de uma política nova e que jamais
existiu são pensamentos socialistas e revolucionários. A proposta a
priori do conservador é a manutenção de alicerces, pois acredita
que “não é possível prever o futuro, sem antes estudar o
passado”.
João
Pereira Coutinho em “As ideias conservadoras explicadas a
revolucionários e reacionários” na pág. 22 apresenta:
“Ser
conservador é preferir o familiar ao desconhecido, o testado ao
nunca testado, o fato ao mistério, o atual ao impossível, o
limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao
abundante, o conveniente ao perfeito, o riso presente à felicidade
utópica”.
A
sociedade brasileira está, mais do que nunca, expressando suas
vontades e cobrando isso de seus representantes eleitos. O Brasil não
se tornou conservador da noite para o dia, mas essas tradições,
esses costumes e esses padrões comportamentais de conservar àquilo
que é benigno à sociedade somente vem se apresentando de forma mais
clara nestes últimos tempos. Preservar o que de fato funciona e
reformar o que necessita de mudança de forma gradual, permitindo que
a sociedade avance por meio da evolução e não pela revolução.
Fonte: Senso Incomum
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