Projeto das secretarias de
Educação e de Segurança Pública muda realidade em escolas
públicas e ganha força em 2020
Antes de assumir o posto de
xerife de turma em 2019, a rotina do estudante José Almir da Costa
Lima era a de “tocar o terror”, como ele mesmo diz, no Centro
Educacional 01 da Estrutural. As brigas com os colegas e a
desobediência aos professores eram constantes – mau comportamento
que se repetia dentro de casa. Até que em fevereiro o
pré-adolescente, hoje com 13 anos, imerso em uma realidade dominada
pela violência e pela falta de segurança, passou a conviver com a
Polícia Militar do Distrito Federal.
É que naquele mês o Governo do
Distrito Federal (GDF) deu início à gestão
compartilhada.
Uma das boas novidades da nova gestão, o projeto desenvolvido pelas
secretarias de Educação e de Segurança Pública vem mudando a
realidade de estudantes em situação de vulnerabilidade de escolas
com baixa pontuação no Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb).
Prestes a completar um ano desde
as primeiras implementações, os resultados colhidos são positivos.
E os avanços comemorados por diretores, professores, pais e,
principalmente, pelas partes mais interessadas: os alunos.
“Aqui eu arranjava briga com
todo mundo e em casa era atentado, respondão e não queria fazer
nada para ajudar minha mãe. Hoje atendo ao que ela pede e não crio
mais confusão na escola”, admite o estudante José Almir, que
percebeu no papel de liderança seu divisor de águas para a mudança
de comportamento – ele quer ser policial militar.
“Vi o quanto é difícil lidar
com quem desobedece as normas.”
Efetivo
A média de militares nas
escolas onde há gestão compartilhada é de oito policiais por turno
– muitos com passagem pelo Batalhão Escolar. Eles cuidam desde a
recepção dos alunos na entrada da aula até a reunião com pais de
estudantes advertidos. Uma viatura fica no estacionamento da escola,
à disposição para qualquer eventualidade. Até os mais experientes
perceberam que a dinâmica é desafiadora, apesar de compensatória.
No CED 01 da Estrutural já teve
caso de professora ameaçada de morte e posse de armas brancas e de
fogo por alunos, escondidas em mochilas, além do consumo de drogas
em banheiros e outras dependências. Já casos de furtos e assaltos
dentro e nos arredores da escola eram parte da rotina e o rendimento
escolar, cada vez mais baixo.
“Nossa missão é quebrar o
ciclo de mentiras, violência e agressões a que muitos meninos e
meninas estão acostumados e introduzir um sistema de normas que os
alunos possam levar para a vida inteira”, conta o major da PM
Lobato Marques, comandante do turno da tarde na Estrutural.
Pontualidade
A melhora na disciplina é
evidente, garantem os educadores. Como há advertências e punições
ao descumprimento de horário ou ao uso inadequado do uniforme, a
pontualidade e o cuidado com a higiene pessoal também mudaram.
“Lidamos com uma comunidade
carente onde, muitas vezes, falta o básico dentro de casa, inclusive
carinho e atenção. Temos alunos que vivem em áreas de invasão,
onde os recursos são ainda mais limitados e precários”, explica a
diretora da unidade de ensino, Estela Accioly.
As unidades sob gestão
compartilhada:
Estela, que antes tinha a
sala diariamente cheia de alunos subordinados e advertidos, agora tem
tempo para as funções primordiais do cargo. “Já consigo
trabalhar no conselho de classe, cuidar da prestação de contas da
escola, atender pais de alunos e participar do planejamento
pedagógico. É outra realidade”, comemora.
Já a pedagoga Deborah Lucila,
professora de uma turma do 5º ano, no início resistiu à chegada da
PM no CED 01. Ela temia falta de liberdade para trabalhar. “O que
nunca aconteceu”, garante.
Ela avalia que, ao deixar o
controle da disciplina sob responsabilidade dos policiais militares,
os professores perdem muito menos tempo chamando a atenção ou
controlando a turma. Resultado: conseguem focar no repasse do
conteúdo. “Era desanimador e cansativo. Hoje não é mais.”
Fim do medo
A dona de casa Delma Gomes de
Oliveira tinha medo de mandar o filho Bruno, de 17 anos, para o
Centro Educacional (CED) 308 do Recanto das Emas. Moradora da região,
ela temia pela segurança do filho, exposto à violência, a assaltos
e ao consumo de drogas na porta da escola. Estudante do 7º ano, ele
tinha notas baixas em 2018. No ano passado, já apresentou rendimento
muito maior. “Até na rua quando as pessoas me veem com um uniforme
da escola me abordam de maneira diferente e respeitosa”,
orgulha-se.
O CED 308 tem aulas de música e
canto no contraturno, além de ordem unida. Um suporte dado pelos
policiais, que se unem inclusive para arrecadar tênis para crianças
que estavam indo para a escola de chinelo.
A realidade social dos
estudantes na unidade de ensino merece atenção. Segundo o tenente
Mário Vitor Barbosa, coordenador da equipe de policias do turno da
manhã, de 40% a 60% dos alunos têm um dos pais recolhidos em
presídios ou em regime semiaberto. “A violência na comunidade é
muito presente”, resume o militar.
Apesar de sua experiência com
estudantes em sua passagem pelo Batalhão Escolar do Distrito
Federal, o tenente, pais de três filhos, diz estar vivendo um grande
aprendizado. “No começo eu ia para casa ansioso, acelerado, com
vontade de ver logo os resultados. Até perceber que, na educação,
eles não vêm de um dia para o outro. É preciso ser persistente,
repetir sempre os comandos e os ensinamentos – e percebo isso,
inclusive, com meus filhos. Ao longo de quase um ano, percebo e
comemoro nossos avanços.”
Orgulho do diretor Márcio
Faria, a mudança no comportamento de estudantes indisciplinados é
evidente. Seu tempo de trabalho, antes dominado por controlar
infrações escolares e se preocupar com os casos de violência
dentro e nos arredores da unidade, hoje já são voltados para o
plano educacional. “[A gestão compartilhada] é o maior projeto
que já vi. Não só de resgate educacional, mas social, valorizando
as famílias, as crianças e a sociedade”, elogia.
Como funciona
O projeto de gestão
compartilhada nas escolas do DF já aplicado em outros estados.
Recentemente lançado em âmbito nacional pelo Ministério da
Educação, trata-se de um modelo simples: melhorar o rendimento
escolar de estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do
ensino médio por meio da disciplina e da segurança. Tudo isso
envolvendo a comunidade, estimulando a participação dos pais na
vida escolar dos seus filhos e auxiliando os professores na condução
dos alunos – sem interferência alguma dos policiais no conteúdo
ditado por docentes em sala de aula.
No primeiro semestre no
ano passado quatro unidades de ensino aderiram ao projeto. No
segundo, mais quatro e em 2020 o trabalho compartilhado entre
educadores e a Polícia Militar chega a 12 escolas – duas delas
geridas pelo Ministério da Educação.
Entusiasta, o governador Ibaneis
Rocha considera a gestão compartilhada “um projeto vitorioso”. A
ideia do governador é chegar a 40 unidades de ensino até o final do
mandato e incluir a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros no projeto.
“Você notou que praticamente
não há mais oposição? Em qualquer lugar que eu vá recebo o
pedido de aumentar o número de escolas compartilhadas. Em todas as
que adotaram este regime o índice de violência e instabilidade caiu
na mesma proporção em que subiram os índices de aproveitamento
escolar”, comparou Ibaneis.
Fonte: Agência Brasília
1 Comentários
Valeu Ministro valeu Presidente Bolsonaro...
ResponderExcluirObrigado pela sugestão.