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UMA PESSOA TEM O VALOR QUE DAMOS A ELA: O TRISTE FIM DO HERÓI FAKE

Por Bernadete Freire
Desde que Sergio Moro pediu sua demissão do cargo de ministro da Justiça, venho tentando me restabelecer de um estranho e inédito estado de luto, causado pela quebra de confiança de um homem comum, que mesmo não conhecendo pessoalmente, me foi apresentado pelas mídias, como herói nacional. Acreditei nele como pessoa e como político, sem nunca questionar, afinal, o sujeito em questão é todo engomadinho, fala pouco, gestos controlados e aparente calma. 
Diante da forma como pediu demissão, ao vivo, em rede mundial de televisão, causando surpresa e um impacto desolador em seus fiéis admiradores, pois, milhões de Brasileiros eram devotos de São Moro. 
A ética é universal, absoluta e imutável. Portanto, a falta do Ministro foi grave. Falta ética. Falta moral. Se tem dúvida, imagine que seu esposo(a), após um desentendimento, e sem aviso prévio, resolve pedir o divórcio, ao vivo, em rede de TV, e ainda conta as suas intimidades. É traição? Ou, não é? Foi isso que Moro fez. 
Muita gente não entende porque necessitamos de heróis e mitos. Eles nascem do imaginário sofrido de pessoas ou de uma sociedade carente de representantes políticos dignos e justos. 
Décadas de abusos e corrupção produziram um nível de desesperança que nos obrigou a criar, a idealizar, a exagerar as virtudes de uma pessoa, outorgando-lhe o poder da perfeição. Fizemos isso com o Juiz e com o ministro Moro. 
Mas, o que é a perfeição, senão uma condição estática, finalizada? Prisioneiro das elevadas expectativas, elevado a condição de PhDeus, o doutor Sergio ficou inerte. 
Talvez o ministro tenha caído na armadilha do seu próprio ego. 
Parece que Sergio Moro nunca quis associar a sua bela imagem, seu belo currículo de Doutor, a um homem simplório e grosseiro como Jair Bolsonaro, que ao encontrá-lo pela primeira vez, no aeroporto, tentou aproximação e foi ignorado. Entrou posteriormente para esse governo provavelmente, para fazer escada para sua ascensão como político. 
O presidente foi humilhado e subestimado naquela coletiva, em que o ministro se achou com maiores chances de sair por cima. Sabia das consequências de sua atitude, por isso, teve a clara intenção de derrubar o presidente. Queria aumentar as suas chances, que eram reais, de ser o próximo presidente do Brasil. 
É uma pena que o herói da Lava Jato, reconhecido no Brasil e no mundo, tenha escolhido sair do cargo de ministro a La Zidane, o jogador francês, que foi eleito três vezes o melhor do mundo, mas, entrou para a história, como vilão. No seu último jogo, na final de Copa do Mundo de 2006, entre Itália e França, por ter dado uma cabeçada no peito de adversário Materazzi, sendo expulso em seguida pelo árbitro, e fazendo seu time perder a copa. 
O Ex Ministro da (In)justiça e (In)segurança Pública, tinha um sonho: salvar a sua imagem, a sua biografia. Mas, desde que saiu do cargo, só tem feito remendos, na tentativa de provar que suas atitudes sempre foram nobres. Mas, se esquece que o herói era fake. Tempo de fake news só podia produzir um herói fake.
O herói Sérgio Moro morreu de overdose de ambição. 
Mas, está vivo o homem Sérgio. Engatinha como pessoa comum. Imaturo como político, se vê obrigado a se ‘vender’ para tentar um lugar ao sol. Mas, creio, têm feito acordos errados. 
Na sua estreia como colunista na revista Crusoé, defende o STF (Supremo Tribunal Federal), sem reconhecer os excessos que esse poder comete contra o presidente e contra a população. Fato que me faz supor que há uma tentativa de “fazer a coisa certa” e ficar do lado que pode render-lhe dividendos no futuro. 
Elogia o papel que as Forças Armadas têm desempenhado desde a redemocratização do Brasil. E deixa a sua opinião de que "não há lugar para uma inusitada 'intervenção militar constitucional' para resolução de conflito entre Poderes". 
Moro disse em seu artigo, que quando era juiz, em 2016, viu pela janela seu gabinete, uma manifestação em que havia um cartaz pedindo “intervenção militar constitucional já” e para "evitar a confusão entre o combate à corrupção dentro de uma democracia...” escreveu um bilhete pedindo que a faixa fosse retirada da manifestação. E comemora: "para minha alegria, fui atendido". E para finalizar o artigo com chave de ouro, retoma ao tema de intervenção militar para dizer: "com tudo o que aconteceu, desde 2016, não deveria ser necessário, a esta altura, escrever outro bilhetinho". Como assim? 
Quem o Senhor Sérgio engatilhando Moro pensa que é? Qual o cargo que ocupa? Para quem escreveria um bilhetinho para impedir que levantem uma bandeira? Com que autoridade? Não sei bem porquê, mas, me lembrei do Lula. 
Depois de rasgar seda para os militares (acha que eles são ingênuos), deixa quase um pedido de explícito de que eles não apoiem em hipótese alguma o presidente e seus apoiadores, e que seria bom que todos parassem de pedir intervenção, sob o risco de seus atuais aliados ou patrões (?) perderem seus empregos. 
E, finalmente, aponta só um parágrafo sobre o título do artigo: 
“Na presente crise política, sanitária e econômica, precisamos dos militares, mas não dos seus fuzis e sim dos exemplos costumeiros de honra e disciplina.” 
Confesso que aqui fiquei aliviada, pois, a honra está direcionada aos militares. Ufa! 
A estreia de Moro na Crusoé foi um fracasso retumbante em deslikes. 
Mas, há risco de crescimento da sua audiência, a exemplo de velho ditado: “falem bem ou mal, mas, falem de mim.” 
Meu temor no caso do nosso ex ministro é que, por força da imagem antiga que construiu, muitos venham a minimizar o que ocorreu e a perdoá-lo, a exemplo de esposa(o) traída, que aceita de volta o marido infiel. 
O fato é que com a morte do herói nasce um homem. 
Uma incógnita. 
Qual será a sua escolha? 
Será ele uma fênix? que ressurgirá das próprias cinzas? 
Ou fará como o escorpião, que quando está em apuros ou rodeado pelo fogo, se mata fincando o ferrão na sua própria cabeça?
Fonte: JCO

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