A despeito de toda a exibição
de virtude: você acha mesmo que ESSE Congresso vai aceitar DOIS
pedidos de impeachment no STF ao mesmo tempo ou é melhor ir um por
um?
Por Flavio Morgenstern
As manifestações que ocorreram
no dia 17 se focaram no impeachment de Gilmar Mendes. Já explicamos
os motivos para esta pauta única. Muitos reclamam: “E o Toffoli?”
O ex-advogado do PT é o próximo. É tão simples quanto parece. Mas
se vamos levar a sério a idéia de um inédito processo de
impeachment de um ministro do STF, precisamos ser pragmáticos: o
Congresso iria aceitar dois processos
de impeachment ao
mesmo tempo?
É uma pergunta mais complexa do
que parece: o Congresso, até o momento, pode trabalhar sem nem
sequer cogitar a idéia de levar minimamente a sério a abertura de
um processo de impeachment de um ministro do STF.
Deixado às suas próprias
circunstâncias, o establishment vai
continuar exatamente como está: com o STF legislando ilegalmente,
com todas as leis sendo transformadas em laxismo para garantir Lula
na presidência em 2022 (e Sérgio Moro na cadeia um ou dois anos
antes), com todas as opiniões divergentes da esquerda e do centrão
sendo criminalizadas sem lei e sem disfarce.
É preciso um
verdadeiro choque no
clima político do país para que o Congresso
simplesmente cogite abrir
um processo de impeachment. E lembre-mo-nos: o processo de
impeachment de um ministro do STF é inédito, nunca foi levado
adiante, apesar de previsto na Constituição. Lembra do parto que
foi conseguir fazer o Cunha (o Cunha!) aceitar o processo de
impeachment da Dilma (da Dilma!) com toda a lei a favor? Lembra de
que tivemos de fazer pressão por mais
de um ano nas
ruas até Dilma cair?
Pois agora imagine um ministro
do STF, que não é do Legislativo, tem apoio transpartidário
(agora, do PSOL ao DEM estarão apoiando o ministro indicado pelos
tucanos) e tem um cargo que transcende em décadas a duração de um
mandato parlamentar. Simplesmente da Corte mais poderosa do mundo. É
praticamente um cargo mais importante do que de presidente (quem te
parece mais poderoso, Gilmar ou Bolsonaro?).
Óbvio que eu quero Dias Toffoli
fora do STF. Aliás, do STF atual, eu pouparia o total de zero
ministros. E aliás, o ex-advogado do PT que nunca passou em nenhuma
prova de magistratura era o alvo número 1 de qualquer pessoa que não
fosse contaminada pela ideologia do petismo desde que subiu ao posto
(fora que tem estratégicos 51 anos). Gilmar só passou na fila pelo
poder que tem e pelo que fez com a Lava-Jato.
Só há um problema: é
simplesmente irreal a
perspectiva de o Congresso – o nosso Congresso! –
levar adiante dois
pedidos de impeachment ao mesmo tempo.
Só o pedido de impeachment de Gilmar Mendes – e Deus queira
que o consigamos – já vai travar o Legislativo por meses,
provavelmente todo um ano de grandes realizações (como a CPMI
das Fake News). Imagine se o nosso Congresso vai aceitar dois,
a um só tempo…
É bonito falar em redes sociais
“E o Toffoli?”, o “E o Cunha?” de 2019. Spoiler: só
quem gosta do Toffoli é o Zé Dirceu. Ele não tem fãs. A narrativa
de “acordão” da grande e velha mídia – alguém aí
pensou em Felipe Moura Brasil repetindo o mantra durante 90% do seu
programa, todos
os dias? –
precisa ser combatida. Ninguém quer proteger Flávio Bolsonaro, a
não ser, justamente, do que o próprio Toffoli fez: usar seu caso
para destruir o sigilo de 600 mil pessoas (!). Oh,
ironia! Justamente
o tal “acordão” denunciado foi o que poderia impedir que Toffoli
ganhasse tanto poder (e isto, é claro, não significa inocência
automática de Flávio Bolsonaro).
Todavia, ou isto é um
inócuo virtue signaling de rede social, para ser ignorado
semana que vem e vida que segue (com STF legislando, com Lula solto,
com o Congresso criminalizando qualquer opinião contrária à
esquerda), ou é algo concreto:
um pedido de impeachment de um ministro do STF, fato inédito no
Estadodemocráticodedireito brasileiro, pelo ativismo judicial, por
decisões que contrariam a Constituição, por um estranho hábito de
parecer morar em Portugal trabalhando no Brasil – juiz não
pode morar fora de sua comarca – além de… quantas outras
coisas, mesmo?
Queremos fazer algo concreto?
Pois então, vamos para a rua com pauta única: impeachment de Gilmar
Mendes. Qualquer outra pauta agora é desvio de foco. E o tempo
de Toffoli logo virá
(e já podemos começar uma movimentação subreptícia depois dessa
desgraça do COAF).
Ah, e será bom Flávio
Bolsonaro se explicar perante seu próprio eleitorado sobre suas
movimentações, mesmo que o STF não queira ouvi-lo. Se for
inocente, desempacará a narrativa que está sendo o principal
empecilho ao governo hoje. Se for culpado, que pague por seus crimes.
E também continuamos não gostando do Aras. Como já havíamos
sempre dito (e as prováveis indicações atuais para o STF de
Bolsonaro são outras lástimas).
Mas se vamos
fazer Realpolitik ao
invés de meramente mostrar que não somos “milícia” nem “bots”
nem “seita” nem “passadores de pano”, precisamos ter um pingo
de estratégia.
No meu mundo ideal, o STF atual
nem existiria. Seríamos uma monarquia com relação com os Windsor e
os Habsburgos (ao mesmo tempo). Os brasileiros falariam 5 línguas.
Lagartixas já teriam sido dizimadas. O funk (e mesmo o hip hop)
dariam pena de morte. Teríamos mais armas do que a Suíça. A Rede
Globo já teria tido sua concessão cassada por obrigar suas
jornalistas a cortar o cabelo joãozinho. E as faculdades de
Filosofia começariam com O Jardim das Aflições.
Mas este é o reino da fantasia.
Non ecziste. Faz-de-conta. Não é real. O Congresso, se muito, vai
aceitar o pedido de impeachment de Gilmar Mendes. E é nele o foco.
Porque a Lava Jato tem Gilmar Mendes como o principal obstáculo.
Depois cuidamos do Toffoli. E dos memes em latim.
Fonte: Sensos In Comum
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