O assassinato do general Qassem
Soleimani, da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, na
quinta-feira (2) em Bagdá (Iraque), após ataque
aéreo dos Estados Unidos,
aumentará a tensão em uma região marcada há décadas por
instabilidade.
Em curto prazo, o novo episódio de conflito no Oriente Médio deve
provocar aumento do preço do petróleo, como afirmou o presidente
Jair Bolsonaro e volatilidade no mercado financeiro, mas esse quadro
não deverá se estender, de acordo com especialistas ouvidos pela
Agência Brasil.
A Petrobras
divulgou um comunicado (íntegra)
no qual evita falar sobre a decisão de reajustar o preço dos
combustíveis. Em nota divulgada após a escalada no conflito entre
Estados Unidos e Irã, a estatal diz que "seguirá acompanhando
o mercado e decidirá oportunamente sobre os próximos ajustes nos
preços".
A posição da empresa foi divulgada na sexta-feira (3). No mesmo dia
Bolsonaro conversou por telefone com o presidente da Petrobras,
Roberto Castello Branco.
“Ele acha que esse pequeno
aumento no combustível de hoje [já existente antes da tensão] não
vai perdurar por muito tempo”, relatou Bolsonaro em entrevista
ao apresentador do programa Brasil Urgente, da Band, José Datena.
Apesar da declaração de Castello
Branco, o presidente da República reforçou declaração
dada no Palácio da Alvorada mais cedo na sexta de que o preço pode
aumentar se
houver um conflito prolongado entre os países. “É claro que se
houver conflito prolongado, pela localização geográfica, o mundo
vai sofrer”.
Bolsonaro disse que vai se reunir
na segunda-feira (6) com o ministro de Minas e Energia, almirante
Bento Albuquerque,
para tratar do impacto da escalada do conflito entre Estados
Unidos e Irã no
preço dos combustíveis.
No entanto, até o fechamento deste texto a agenda pública do
presidente continha apenas reuniões com o ministro da Educação,
Abraham Weintraub, da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares
Alves, e com o secretário de cultura do Ministério do Turismo,
Roberto Alvim.
Segundo o professor de Relações Internacionais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Reginaldo Mattar
Nasser, livre docente com tese sobre a geopolítica norte-americana
no Oriente-Médio, o Irã não vai revidar. “Eles não vão entrar
em guerra. Não fazem também porque a assimetria militar é muito
grande. O Irã não tem condição de entrar em guerra nem com
Israel, muito menos com os Estados Unidos”.
“Eles não agem de forma intempestiva como se constrói aqui no
ocidente. Agem de forma muito prudente, muito pensada, em médio e
longo prazo. É improvável que ajam em um ataque aéreo ou em
bateria militar. Nunca fizeram e não é agora que vão fazer. O Irã
vai ser ainda mais precavido e não vai haver contra-ataque”,
assinala.
Em sua opinião, a iniciativa dos EUA vai gerar coesão interna entre
os grupos políticos do Irã, e vai aumentar a influência do país
na região como ocorreu em outros momentos beligerantes na região.
“Nos anos de guerra no Afeganistão e no Iraque, o Irã aumentou a
influência política, militar e econômica na região. Ele cresceu à
medida que seus vizinhos enfraqueceram, inclusive por causa das
intervenções norte-americanas”, descreve Nasser.
O professor chama atenção que o
general iraniano assassinado pelos americanos, era
considerado “low-profile” e
“não era terrorista”. Segundo o acadêmico, Qassem Soleimani
defendia as estratégias do Irã de combater o Estado Islâmico e o
Taleban.
Território protegido e
estoques garantido
Reginaldo Nasser afirma que o aumento de tensão na região não
afeta a segurança do território norte-americano, a única exceção
na história dos EUA foi o atentado de 11 de setembro de 2001.
Se em termos militares os Estados Unidos mantêm segurança, por
causa da distância do território e da superioridade bélica em
relação a outros países, em termos econômicos o episódio contra
o Irã também terá poucas consequências. Quem acrescenta essa
avaliação é de Jorge Camargo, ex-presidente do Instituto
Brasileiro do Petróleo (IBP) e hoje vice-presidente do Centro
Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
“Os Estados Unidos tornaram-se autossuficientes e exportadores de
petróleo e gás. Em dez anos, os norte-americanos aumentaram a
produção de petróleo em 10 milhões de barris [por dia], o que é
equivalente a uma Arábia Saudita”, contabiliza Camargo. Segundo
ele, essa capacidade de produção de petróleo, especialmente a
partir do xisto, “serve como colchão.”
O mercado mundial de petróleo “está abastecido”, descreve
Camargo, a ponto de a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep) recentemente ter decido retirar 2 milhões de barris
de petróleo por dia de circulação e os preços do petróleo terem
oscilado por pouco após o ataque de drones na principal refinaria da
Arábia Saudita em setembro passado, “aquilo praticamente não
mexeu no preço do petróleo.”
De acordo com o especialista, o Brasil também “não corre risco de
desabastecimento”. O país, no entanto, sofrerá impacto com o
aumento já previsto do preço do combustível. Ele não sabe quando
ocorrerão os ajustes nas refinarias e, consequentemente, nas bombas
de diesel e de gasolina.
Clima positivo de mercado
Jorge Camargo não recomenda que haja subsídio e que eventuais
aumentos do preço de petróleo deixem de ser repassados. “O país
está em transição para mercado mais aberto de petróleo. A
Petrobras está desinvestindo em refinaria para acabar com o
monopólio do refino. É fundamental para quem quer investir tenha
convicção de que não vai haver intervenção”, recomenda.
De acordo com o economista Silvio Campos Neto, da Tendências
Consultoria, “os mercados ainda estão avaliando pontuais
desdobramentos [da nova crise no Oriente Médio]. Há muita incerteza
sobre isso.” O seu palpite é que “pode se pensar em uma certa
acomodação, mesmo que em um grau de nervosismo mais alto ou com
agravamento dessas tensões.”
“Nos próximos dias, o mercado vai conseguir precificar melhor o
grau de risco desse fato novo. Por ora, está estacando o otimismo
recente, gerando correção no preço dos ativos”. O economista
pondera que antes do ataque, “havia um clima positivo de mercado,
somando fatores externos [por causa da trégua comercial entre os EUA
e China] e perspectivas melhores para economia brasileira.”
Entenda o conflito
Os Estados
Unidos confirmaram
na sexta-feira a autoria do ataque que matou o chefe da Guarda
Revolucionária do Irã, Qassem Solemani, na última quinta-feira, o
preço do petróleo subiu, manifestações tomaram conta das ruas do
Irã e a tensão mundial cresceu.
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirmou que irá resistir aos
Estados Unidos e prometeu vingança.
Em nota, o Ministério
das Relações Exteriores não
comentou a morte do líder iraniano, mas declarou apoiar os Estados
Unidos "na luta contra o flagelo do terrorismo".
A pasta comandada por Ernesto Araújo também afirmou ser necessário
evitar confrontos internacionais: "o Brasil está igualmente
pronto a participar de esforços internacionais que contribuam para
evitar uma escalada de conflitos neste momento".
Fonte: Congresso Em Foco
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