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Empréstimo bilionário para o BNDES deve aumentar dependência com a China, apontam analistas

Por Claudio Dirani
Linha de crédito anunciada no final de semana por Aloizio Mercadante é cercada de poucos detalhes e muito mistério
No último sábado (15), durante visita oficial de Lula à China, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloízio Mercante (PT), anunciou que a instituição de fomento captou US$ 1,3 bilhão em empréstimos (cerca de R$ 6,4 bilhões) feitos junto ao China Development Bank (CDB).
De acordo com o BNDES, o acordo teria sido dividido em duas partes: US$ 800 milhões para investimentos de longo prazo e US$ 500 milhões para aplicações de curto prazo.
“Esse acordo com o CDB é resultado da volta do protagonismo do Brasil no mundo. Um país respeitado internacionalmente abre mais oportunidades de captação e de diversificação das fontes de recursos para o BNDES”, declarou Mercadante, que preside hoje o banco graças, principalmente, a uma canetada do STF que alterou a Lei das Estatais.
Justamente pelo BNDES ter encerrado o ano fiscal de 2022 com superávit aproximado de R$ 44 bilhões, o anúncio do empréstimo, feito com aprovação do ditador Xi Jinping, causou certa estranheza a analistas do mercado e assuntos internacionais.
Quase todos se perguntaram:  O que estaria realmente por trás da linha de crédito cedida a uma instituição saudável, e que ainda tem a receber quase R$ 5 bilhões de devedores, como Venezuela e Cuba?
Pelo olhar do ex-chanceler Ernesto Araújo, a captação de recursos com os chineses, embora não seja tão significativa em termos de valores, é uma espécie de “corredor para o endividamento” do Brasil com o gigante asiático.
“Em primeiro lugar, em termos quantitativos, esse empréstimo não é muito significativo”, destaca o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Bolsonaro.
“Pelo que consultei, serão 800 milhões de dólares ao longo de 10 anos (80 milhões por ano) e outros 500 milhões de dólares ao longo de 3 anos (167 milhões por ano). Mas pode ser a porta para a criação de uma espiral de endividamento do Brasil frente à China. A pergunta é: por que tomar esse dinheiro emprestado da China?”, questiona Araújo.
O ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, se mostrou mais intrigado com o “negócio da China”. Na visão do especialista no funcionamento do mercado financeiro nacional e internacional, a linha de crédito “não tem muito sentido”.
“O BNDES obteve uma série de lucros relevantes entre 2019 e 2022”, relembra. “Certamente, poderia oferecer estas linhas (de crédito”, aponta Pedro Guimarães, citando o recente anúncio de lucro superior a R$ 44 bi acumulado em 2022 pelo BNDES.
“Não faz o menor sentido”, aponta o colunista do BSM e autor do livro O Mínimo Sobre a Queda da Europa, Brás Oscar.
"O que acontece? Existem hoje alguns acordos que estavam para ser suspensos durante o governo Bolsonaro. Tem a questão do Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), por exemplo. O Celac sempre foi um balcão de negócios da China com a América Latina. A China não faz parte do Celac, mas sempre participou como convidada. E agora retornou com Lula”, relembra o colunista.
“Esses empréstimos têm aquele fator para determinar para quais áreas o dinheiro será destinado. Nesse caso, do BNDES, é para a infraestrutura – e isso precisa ser investigado, porque pode ser uma via de duas mãos. Vai gerar uma parceria sobre o ‘gerenciamento’ dessa infraestrutura, como uma central de distribuição elétrica, e pode ser pago em forma de uma outra ‘espécie de parceria’”, analisa.
"O contrato é um mistério.  Provavelmente, neste caso, a finalidade do empréstimo já deve estar atrelada no acordo. E essa finalidade deve ser alguma área de interesse da China, como participação em infraestrutura, ou setor portuário, ou apenas comprar uma ‘participação’ na dívida externa brasileira. Para você ter uma ideia, hoje a China detém quase a totalidade da dívida externa do Quirguistão. Os empréstimos foram todos feitos com a finalidade específica de desenvolvimento do setor de exploração de gás natural. O Quirguistão tem uma das maiores reservas de gás inexploradas do mundo”, revela Brás Oscar. “Imagine a China tendo participação em infraestruturas no Brasil”, completa.
Ernesto Araújo concorda com Brás Oscar sobre o “mistério” em torno do contrato China-BNDES.
Para o diplomata, existem outras instituições capazes de abrir linha de crédito, além de o banco de fomento brasileiro gozar de boa saúde financeira.
"Hoje existe nos mercados mundiais bastante liquidez e haveria outras opções", reflete Ernesto Araújo.  "Além disso, quais são as condições do empréstimo (taxa de juros e outros requisitos)? Elas não foram reveladas. Por exemplo: será que os empréstimos estão condicionados à contratação de companhias chinesas na realização dos investimentos?", pergunta.
"Provavelmente, há algum condicionamento desse tipo. A China certamente não fez um cheque para o BNDES ‘de presente’ dizendo ‘tome, use como quiser’, avalia Araújo.
“É muito possível que esse empréstimo seja usado para aumentar a dependência do Brasil frente aos investidores chineses e frente ao mercado chinês, o que significa que cada vez mais as decisões estratégicas do Brasil em áreas como a infraestrutura e a energia serão tomadas em Pequim e não em Brasília.”
Fonte: Brasil Sem Medo
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