Em um momento em que sobram críticas e pessoas dispostas a disputar poder na área estratégica, os ruídos de comunicação tendem a se amplificar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou o segundo ano do seu terceiro mandato intrigado. Sua gestão tinha dados positivos para mostrar, principalmente na economia, com indicadores que influenciam diretamente o humor da população, como queda no desemprego e aumento do salário mínimo. Mas as pesquisas de opinião iam na direção contrária e apontavam queda na avaliação do trabalho. Disparou-se, então, o alerta de que o governo era melhor do que a percepção da população sobre ele e chegou-se ao diagnóstico de que a falha estava na comunicação. Lula externou isso, colocando na berlinda o titular da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta. A convocação de Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha de Lula, para dar contribuições informais, acentuou a impressão de que os dias de Pimenta estavam contados. O destino, no entanto, mudou a sua sorte. Político gaúcho experiente, ele foi alçado a ministro extraordinário da Reconstrução do Rio Grande do Sul por seis meses. A sua ausência, contudo, pode gerar um grave efeito colateral: piorar a disputa nos bastidores pelo controle de um setor estratégico a Lula e seu governo.
O cabo de guerra tem vários lados, alguns bem próximos ao presidente. O perfil dele no X (ex-Twitter) é controlado pelo secretário de Imprensa, José Chrispiniano, jornalista que assessora Lula desde que ele deixou a Presidência no segundo mandato. Atuou no Instituto Lula e foi porta-voz do petista no período em que ele ficou preso. Já o Instagram está a cargo do secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual, Ricardo Stuckert, fotógrafo que acompanha Lula em todas as agendas há mais de vinte anos. Ele tem sido alvo de críticas da primeira-dama, Janja da Silva, por apresentar o presidente quase sempre de maneira formal, como um estadista, enquanto ela prefere o marido mais informal. Influente na área, Janja trabalha para fazer com que as contas pessoais de Lula em todas as plataformas fiquem sob a responsabilidade da secretária de Estratégia e Redes, Brunna Rosa, uma cientista social que atuou na comunicação digital das campanhas de Dilma em 2010 e Lula em 2022. Hoje, ela é responsável pelos perfis institucionais da Presidência e capitaneia o projeto Secom Volante, que viaja o país mostrando à população como acessar dados sobre ações do governo em suas cidades.
Nos últimos dias, Janja tem contribuído para aumentar as especulações em torno de uma eventual substituição de Pimenta na Secom. A primeira-dama publicou em suas redes sociais mais de uma foto ao lado do prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), durante envio de mantimentos ao Rio Grande do Sul. Ex-secretário de Comunicação de Dilma, Edinho coordenou a campanha de Lula ao lado de Sidônio e é frequentemente citado como substituto de Pimenta. Nos bastidores, o seu perfil conciliador e aberto ao diálogo, tido como desejável, é confrontado com o estilo combativo e centralizador de Pimenta. A possibilidade de substituição, no entanto, é remota. Lula diz que prefere Edinho na presidência do PT, no lugar de Gleisi Hoffmann, cujo mandato termina em 2025. Já o prefeito tem repetido que pretende encerrar o seu mandato no final do ano para ajudar a eleger sua secretária de Saúde, Eliana Honain.
Outro nome sempre mencionado é exatamente o de Sidônio. Autor do lema do governo, “União e Reconstrução”, ele continua como consultor informal de comunicação — foi dele a contribuição que resultou na campanha Fé no Brasil, que tinha duas ambições: recuperar a esperança do povo nas ações do governo e atrair o eleitorado religioso, principalmente o evangélico. A tragédia que assolou o Rio Grande do Sul não só afastou Pimenta do cargo, como fez a campanha ser suspensa para que o governo centrasse todo o seu esforço de comunicação nas mensagens e ações voltadas à catástrofe. Sidônio também nega a intenção de assumir a Secom, que, na ausência de Pimenta, é tocada pelo secretário-adjunto, Laércio Portela.
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