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Cessar-fogo na Ucrânia? Putin não deve aceitar trégua tão facilmente

A Ucrânia aceitou nesta terça-feira (11) uma proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo de 30 dias na guerra com a Rússia, abrangendo todas as frentes de combate: aérea, marítima e terrestre. O acordo, que surgiu após intensas negociações entre representantes de Washington e Kiev em Jeddah, na Arábia Saudita, agora aguarda a resposta de Moscou, cuja postura em relação à proposta ainda é incerta.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comemorou a adesão ucraniana à proposta e pressionou a Rússia a aceitar a trégua.
"A Ucrânia concordou com isso, e espero que a Rússia concorde — vamos nos encontrar com eles mais tarde hoje e amanhã, e espero que consigamos fechar um acordo", afirmou o presidente americano. Ele destacou a importância de uma pausa nos combates, mas também deixou claro que, caso Moscou rejeite a trégua, "continuaremos com o de sempre, e as pessoas serão mortas".
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, reforçou, logo após a Ucrânia aceitar o acordo, o apelo para que Moscou se comprometa com a pausa nos combates. "A bola agora está no campo da Rússia", disse o americano, destacando que o objetivo da Casa Branca é encerrar o conflito. Já o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz, afirmou que os negociadores ucranianos demonstraram alinhamento com a visão de Trump para a paz: "Eles compartilham sua determinação de acabar com os combates e as mortes."
Apesar dos esforços diplomáticos, posicionamentos anteriores de figuras ligadas ao Kremlin indicam que, para concordar com esta trégua, o regime russo poderá exigir diversas concessões por parte dos ucranianos.
Indivíduos próximos ao regime russo, como o empresário nacionalista Konstantin Malofeev, já indicaram que Moscou não está disposta a aceitar uma trégua sem “garantias”.
"Uma trégua neste momento é boa para a Ucrânia e para os Estados Unidos, mas para nós não traz nenhum benefício, porque estamos ganhando", declarou Malofeev em entrevista à Bloomberg em dezembro do ano passado. Malofeev também destacou que a Rússia não interromperá as hostilidades até que a Ucrânia mude sua constituição para garantir um status de “neutralidade” e renuncie à adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), além de aceitar limites estritos para seu exército e interromper o fornecimento de armas dos Estados Unidos e aliados europeus.
O chanceler russo, Sergey Lavrov, também já sinalizou resistência à ideia de um cessar-fogo temporário, afirmando em dezembro do ano passado que "uma trégua é um caminho para lugar nenhum". Ainda segundo ele, Moscou também só aceitará negociar um acordo de paz amplo com os ucranianos que garanta "a segurança da Federação Russa e os interesses legítimos de segurança de nossos vizinhos".
Segundo o jornal Kyiv Independent, nos bastidores, fontes ocidentais afirmam que o ditador russo, Vladimir Putin, não demonstra disposição para ceder, em negociações, nenhum território ocupado na Ucrânia ou fazer outras concessões significativas. De acordo com informações divulgadas pela Bloomberg, o líder russo ainda quer, assim como disse seu aliado Malofeev, que a Ucrânia abandone de vez sua aspiração de aderir à Otan, reduza o tamanho de suas forças armadas e aceite um status de “neutralidade juridicamente vinculante”.
A Bloomberg informou que Putin continua inflexível sobre o conflito e que, mesmo diante de uma possível pressão de Trump, Moscou não dá sinais de que aceitará qualquer compromisso com a Ucrânia que não atenda integralmente às suas exigências.
Rodrigo Reis, especialista em relações internacionais e diretor do Instituto Global Attitude, destacou em entrevista à Gazeta do Povo a importância e as dificuldades em torno da proposta de cessar-fogo aceita pela Ucrânia nesta terça. Segundo ele, o acordo, fruto de intensas negociações na Arábia Saudita, representa um avanço significativo e é um "divisor de águas" rumo à paz na região.
No entanto, disse Reis, este acordo ainda é bastante frágil, dependente exclusivamente da aceitação da Rússia, e que não se trata de uma solução definitiva para o conflito, mas sim de uma "trégua para discutir um plano mais amplo de paz entre Moscou e Kiev".
Sobre o papel desempenhado pelo presidente Trump nesse processo de paz no leste europeu, Reis avaliou a estratégia do líder norte-americano como "bastante anticonvencional", afirmando que Trump "quebra forma e conteúdo, quebra protocolos". Ainda assim, o especialista reconheceu que o presidente americano "com certeza vai levar o crédito de pela primeira vez conseguir negociar um possível cessar-fogo" neste conflito e que as estratégias utilizadas por ele "revolucionaram a diplomacia internacional".
Para Rodrigo Reis, é importante manter cautela neste momento, já que a situação permanece frágil.
“Nada ainda pode ser comemorado, a não ser que a gente realmente tenha efetivamente um plano de paz definitivo sendo discutido pelos dois países”, concluiu.


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