Deputadas do PSOL encabeçam movimento que acusa Israel de genocídio; entidade judaica reage e denuncia omissão sobre ataques do Hamas.
Um grupo de parlamentares de esquerda no Brasil está articulando o envio de uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, solicitando que o país rompa integralmente suas relações diplomáticas, comerciais e militares com Israel. A iniciativa é liderada pelas deputadas federais Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que, no documento, classificam Israel como um "Estado genocida", responsabilizando-o pelas ações militares na Faixa de Gaza.
A proposta provocou reação imediata da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), que manifestou “profunda preocupação” com a movimentação política. Em nota oficial, a entidade criticou o teor da carta, afirmando que ela ignora o contexto mais amplo do conflito, especialmente os ataques perpetrados pelo grupo Hamas contra civis israelenses no dia 7 de outubro de 2023.
De acordo com a Fisesp, esse ataque resultou na morte de mais de 1.200 pessoas — incluindo mulheres, crianças e idosos — além do sequestro de mais de 240 civis, dos quais 58 ainda permanecem reféns em Gaza. A entidade enfatizou que o episódio representa "o maior massacre de judeus desde o Holocausto" e considerou a ausência dessa menção no documento parlamentar como uma "distorção da realidade", que poderia ser interpretada como uma forma de "cumplicidade moral com o terrorismo".
Por outro lado, os parlamentares autores da carta argumentam que as ações militares de Israel configuram um genocídio contra a população palestina, citando as milhares de mortes e a destruição causada pelas operações na Faixa de Gaza. O grupo pressiona o governo brasileiro a adotar uma postura mais firme, para além das críticas diplomáticas que já têm sido feitas em diversas ocasiões pela administração Lula.
Em sua resposta, a Fisesp reiterou a legitimidade do direito de Israel de existir em segurança e se defender de ameaças contra sua soberania e a vida de seus cidadãos. A entidade também destacou o caráter democrático e pluralista do Estado israelense, defendendo que uma paz duradoura na região só será alcançada mediante o fim do terrorismo, o desarmamento do Hamas e o reconhecimento mútuo entre israelenses e palestinos.
Esse embate evidencia as divisões profundas que o conflito entre Israel e Hamas desperta também no cenário político brasileiro. Enquanto setores da esquerda radicalizam as críticas contra Israel e defendem medidas mais severas, como o rompimento de relações, organizações judaicas e outros segmentos políticos reforçam a necessidade de equilibrar a condenação às ações militares com a consideração dos ataques promovidos pelo Hamas e o direito de autodefesa de Israel.
Até o momento, o governo brasileiro mantém sua posição de crítica à operação militar israelense em Gaza, mas não avançou no sentido de romper relações diplomáticas ou comerciais com o país. O presidente Lula tem reiterado a defesa de uma solução negociada para o conflito, com a criação de um Estado palestino que conviva pacificamente ao lado de Israel, condenando tanto os atentados do Hamas quanto a resposta militar israelense.
Eis a íntegra da nota da Fisesp:
A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) manifesta profunda preocupação diante da carta encaminhada nesta quarta-feira (28) ao presidente da República, solicitando o rompimento de relações do Brasil com o Estado de Israel. O documento, assinado por artistas, acadêmicos, congressistas e militantes alinhados à agenda do movimento BDS, conhecido por sua postura sistematicamente hostil a Israel, ignora de maneira alarmante o contexto que levou à atual situação.É inadmissível que, passados exatos 600 dias do maior massacre de judeus desde o Holocausto, os signatários da carta sequer mencionem os atos brutais cometidos pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023. Neste ataque covarde e deliberado contra civis israelenses, mais de 1.200 pessoas foram assassinadas, incluindo mulheres, crianças e idosos, centenas foram feridas e mais de 240 sequestradas. Até hoje, 58 reféns seguem em cativeiro em Gaza, submetidos a condições desumanas e constantes violações dos direitos humanos mais básicos.O silêncio quanto a esses fatos configura, no mínimo, uma distorção intencional da realidade, ou, no pior dos casos, uma cumplicidade moral com o terrorismo.Reiteramos que Israel tem o direito inalienável de existir em paz e de se defender de ameaças existenciais, especialmente quando essas ameaças partem de organizações que, publicamente, negam o direito à vida do povo judeu e pregam sua aniquilação. O Estado de Israel é uma democracia plural, comprometida com os direitos de seus cidadãos, judeus, árabes, cristãos, drusos e outros e com os valores que fundamentam o Ocidente democrático.O Brasil sempre teve um papel de destaque na diplomacia internacional e deve zelar por uma posição equilibrada e responsável, e não se curvar à pressão de grupos que, sob o pretexto de direitos humanos, promovem uma narrativa ideológica que ignora os fatos mais elementares do conflito.A Fisesp se solidariza com todas as vítimas da violência, sejam israelenses ou palestinas, e reitera seu compromisso com a paz duradoura, que só poderá ser alcançada com o fim do terrorismo, o desarmamento do Hamas e o reconhecimento mútuo entre os povos.A história exigirá responsabilidade de todos os que, neste momento, escolhem ignorar a dor alheia para atender interesses ideológicos.Federação Israelita do Estado de São Paulo
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