A taxa Selic, principal instrumento de política monetária do Banco Central, tem sido historicamente um termômetro da confiança dos investidores e da estabilidade econômica no Brasil. Ao comparar os governos de Jair Bolsonaro (2019–2022) e Luiz Inácio Lula da Silva (2023–atual), a diferença na condução da política econômica se reflete diretamente no comportamento da Selic — com efeitos profundos sobre crédito, consumo, investimentos e endividamento público.
Selic sob o Governo Bolsonaro: Entre Crises e Estabilidade Relativa
Durante a maior parte da gestão Bolsonaro, a taxa Selic foi mantida em níveis historicamente baixos. Em 2020, no auge da pandemia de Covid-19, o Banco Central reduziu a Selic para 2% ao ano — o menor patamar da história. A medida foi uma tentativa de estimular a economia, que sofria com os impactos do isolamento social, queda no consumo e desaceleração global.
Com a retomada econômica e o aumento da inflação a partir de 2021, o Banco Central iniciou um ciclo de alta nos juros, encerrando o mandato de Bolsonaro com a Selic em torno de 9%. Ainda assim, analistas consideram que, apesar dos ruídos políticos e institucionais, o governo conseguiu manter uma linha de contenção fiscal e equilíbrio nas contas públicas que ajudou a preservar certa confiança do mercado.
Selic com Lula: Alta Histórica e Incertezas Fiscais
Já sob o terceiro mandato de Lula, o cenário mudou. Em junho de 2025, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic para 15% ao ano, o maior nível desde 2006. O aumento ocorreu mesmo diante da pressão do governo por juros mais baixos, e o Banco Central justificou a decisão com base em incertezas internacionais, inflação persistente e desconfiança em relação ao equilíbrio fiscal do país.
A alta da Selic no governo Lula é interpretada por parte dos economistas como reflexo direto da falta de ancoragem nas expectativas de inflação e do receio de que o governo não cumpra metas fiscais. Propostas como mudanças na regra do arcabouço fiscal, aumento de gastos e tentativas de interferência na autonomia do Banco Central intensificaram essa percepção.
Impactos Econômicos e Diferenças na Abordagem
A principal consequência da Selic elevada é o encarecimento do crédito para empresas e consumidores, desestimulando o consumo e dificultando a retomada do crescimento econômico. Também há aumento no custo da dívida pública, já que boa parte dos títulos emitidos pelo Tesouro está indexada à taxa básica de juros.
Enquanto Bolsonaro apostava na redução de gastos e em reformas para atrair investimentos, o governo Lula tem adotado um discurso mais voltado à expansão de programas sociais e investimentos públicos, o que gera preocupação no mercado quanto à sustentabilidade fiscal.
A diferença na taxa Selic entre os dois governos vai além de números: ela simboliza duas visões distintas sobre como equilibrar crescimento e responsabilidade fiscal. A elevação da Selic sob Lula representa um alerta: sem previsibilidade nas contas públicas e segurança jurídica, o país pode pagar caro com juros altos e menor crescimento econômico. Em um ambiente global cada vez mais incerto, a confiança continua sendo o bem mais precioso para qualquer economia — e a taxa Selic é o reflexo direto disso.
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