"Vão sentir saudade da gente..." – a frase dita por Jair Bolsonaro em 2022 soava como bravata política para alguns, mas tem ganhado contornos cada vez mais proféticos. Ironicamente, aqueles que antes faziam piadas de mau gosto com o ex-presidente e com seus apoiadores hoje são os primeiros a experimentar o gosto amargo das limitações impostas à liberdade de expressão no Brasil.
O caso recente de humoristas presos por declarações consideradas ofensivas reacendeu o debate sobre os limites do humor e da liberdade artística. Piadas que antes passavam despercebidas ou eram rebatidas com memes agora têm se tornado motivo de inquéritos, censura e até prisão — cenário que muitos dos próprios comediantes, antes engajados politicamente, jamais imaginaram enfrentar.
O início dessa transformação está justamente em um programa que marcou época: o "CQC" (Custe o Que Custar). Exibido na TV aberta, o programa foi um dos pioneiros em misturar política e entretenimento com uma linguagem ácida e irreverente. Foi lá que nomes como Danilo Gentili ganharam destaque nacional, contribuindo para uma nova geração de comédia crítica — muitas vezes debochada e politicamente incorreta.
Mas o que era visto como símbolo de irreverência virou, para muitos, um retrato do duplo padrão. Comediantes que, em outros tempos, faziam troça com tudo e todos — inclusive com os presos do 8 de Janeiro e com deputados conservadores — agora enfrentam a realidade de um país em que a interpretação de seus textos cômicos pode ser levada aos tribunais.
A entrevista polêmica de Bolsonaro ao "CQC", na qual interagiu de forma controversa com Preta Gil, abordou temas como homossexualidade, pautas raciais e feminismo. À época, muitos condenaram o então deputado federal — e o episódio passou a ser um dos marcos que ampliaram sua notoriedade junto ao eleitorado conservador. Mal sabiam que aquele momento seria, para muitos, o início de um novo ciclo político.
Hoje, no Brasil de 2025, com a liberdade de expressão sob constante vigilância e a criminalização crescente de opiniões consideradas "politicamente incorretas", o humor — que sempre foi um dos termômetros sociais mais sensíveis — tornou-se campo minado. E muitos dos que antes riram da censura a seus adversários agora colhem o silêncio imposto a si mesmos.
A liberdade, como avisaram, está indo embora em nome do que chamam de "progresso". E, como na piada amarga da vida, os primeiros a perceber isso foram justamente aqueles que sempre disseram tudo, sem medo, sem filtro, sem freio.
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