O crime organizado no Brasil evoluiu e encontrou novas maneiras de expandir seus negócios, infiltrando-se em diversos setores da economia formal. De acordo com um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado em fevereiro de 2025, as facções criminosas passaram a integrar a economia de uma maneira mais sofisticada, transformando negócios legais em fontes de lucro direto e não apenas em veículos para lavagem de dinheiro. O estudo, intitulado “Rastreamento de Produtos e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil”, revela que, apenas em 2022, os criminosos movimentaram cerca de R$146,8 bilhões em produtos como combustível, ouro, cigarros e bebidas, com o tráfico de cocaína movimentando R$15 bilhões.
Mudança de Estratégia: De Lavagem de Dinheiro a Negócios Lucrativos
Historicamente, as facções criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital), usavam o mercado legal para lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas. No entanto, com o tempo, perceberam que o mercado formal não só servia para ocultar os lucros ilícitos, mas também se tornou uma atividade rentável por si só. Isso resultou em uma transformação: os criminosos não estavam mais apenas utilizando o mercado legal para blanquear dinheiro, mas passaram a investir de maneira estratégica em negócios legais que geravam lucro direto.
Esse movimento reflete uma mudança significativa no modus operandi do crime organizado no Brasil. A pesquisa do FBSP é o primeiro estudo no país a abordar o impacto real das facções criminosas na economia formal, revelando a extensão da infiltração dos criminosos em setores como combustíveis, imóveis, e até fintechs e criptomoedas.
13 Setores Afetados Pelo Crime Organizado
O estudo aponta que o PCC, entre outras facções, conseguiu se infiltrar em pelo menos 13 setores da economia brasileira. O promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, comentou que as facções não estão mais apenas administrando empresas de fachada. "O PCC hoje está na economia formal. As empresas que eles estão administrando não são mais empresas de fachada como uma década atrás. São empresas que existem, prestam serviços, às vezes até bons serviços", afirmou ele em palestra na USP.
Os setores mais impactados pelo crime organizado incluem:
- Postos de gasolina
- Agências de automóveis
- Imóveis e empresas de construção
- Casas de câmbio
- Bancos digitais e fintechs
- Fundos de Investimentos em Participações (FIPs) e criptomoedas
- Empresas de ônibus
- Igrejas e organizações sociais de saúde pública
- Coleta de lixo e limpeza urbana
- Mineração
- Empresas de apostas
- Empresas ligadas ao futebol
Os valores mais elevados da movimentação do crime organizado vêm do mercado de combustíveis e lubrificantes (R$61,5 bilhões), seguido pelo setor de bebidas alcoólicas (R$56,9 bilhões). A extração e produção de ouro gerou R$18,2 bilhões, enquanto o mercado de cigarro movimentou R$10,3 bilhões.
O Impacto na Economia e nas Instituições Brasileiras
A infiltração do crime organizado na economia formal representa um desafio crescente para o governo e para a sociedade. Com o aumento da presença do crime em setores chave da economia, fica mais difícil para as autoridades detectarem as atividades criminosas, especialmente quando as facções operam dentro da legalidade, com empresas que oferecem serviços legítimos.
Além disso, essa realidade também coloca em risco instituições financeiras e o setor privado, já que os criminosos passaram a atuar diretamente no mercado financeiro, por meio de bancos digitais, fintechs e até criptomoedas. A presença do crime organizado em setores como mineração e futebol ainda agrega uma dimensão extra de complexidade, dado o caráter estratégico e global desses mercados.
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