Por
Edgar Lisboa
O
senador Cristovam Buarque (PPS/DF), em entrevista à Associação dos
Blogueiros de Política do Distrito Federal e Entorno (ABBP), fez
duras críticas ao governador Rodrigo Rollemberg e à Câmara
Legislativa. Na estreia do “Sabatina Política”, o senador disse
que o governo Rollemberg está deixando muito a desejar e em dois
anos ainda não tem legado. “Ele preferiu ficar refém da crise”,
afirmou.
Às
vésperas da escolha de um novo presidente para a Câmara Distrital,
Cristovam Buarque apelou “ aos cidadãos de bem do DF que se
candidatem à deputados distritais. Quando você convida alguém para
candidatar-se a deputado distrital a resposta é: “Não quero
entrar naquela coisa chamada Câmara Legislativa. ”
O
senador avaliou também o Parlamento Federal. Revelou – se
constrangido em pertencer a um Congresso Nacional onde a população
de todo o Brasil, vai as ruas para fazer críticas a deputados e
senadores.
Cristovam
fez um alerta: “Se nós não escolhermos uma Câmara Distrital e um
governo bom em 2018, nós corremos o risco de perder a autonomia. Os
senadores estão doidos para acabar com a autonomia do Distrito
Federal. Há um descontentamento com o fato de que nós temos
autonomia para escolher o governador e o dinheiro vem todo do Governo
Federal. E os salários, são bem maiores no DF.”
Prisioneiro
das Dificuldades
Um
erro que eu não cometi e acho que Rodrigo Rollemberg comete é ficar
prisioneiro das dificuldades. Disse para ele que quando assumi fiz
uma lista de projetos transcrise. Entreguei ao governador
recém-eleito, uma cartilha de erros cometidos quando fui governador.
Todos enfrentamos crises. Não tão brabas como as dele, mas nós
todos enfrentamos crises. Ele não fez essa lista. Na primeira
reunião dele com todos os partidos que o apoiaram eu ainda
perguntei, qual é o legado que o senhor quer deixar. Porque
equilibrar contas não é legado até porque outros podem quebrar
como o Agnelo (ex-governador Agnelo Queiroz) quebrou também. O
legado já foi embora e ele terminou caindo na armadilha da falta de
recursos que é uma armadilha real. Armadilhas são verdadeiras, nem
todas são ilusórias. Tem coisas que dá para fazer sem dinheiro.”
Saúde
em Casa
Citou
como exemplo, o Saúde em Casa que podia ter sido trazido de volta.
Mas o governador preferiu cair na armadilha da falta de recursos. De
fato, não tem dinheiro para construir hospitais. Mas o maior
problema do Brasil não é mais o hospital. Eu não construí
hospitais mas disponibilizei muitos leitos. Uma maneira simples, você
bota o médico a atender nas casas ali perto. Não precisa de
hospital se a pessoa for atendida antes “, argumenta Cristovam
Buarque.
Para
o senador do Distrito federal do PPS, o governo hoje não tem legado
para deixar. Estão aí as dificuldades para pagar as contas, pagar o
13º, tudo herdado, mas que poderia ter sido trabalhado, deixado
alguns legados e evitado uma série de problemas.”
Câmara
Legislativa
A
pouco mais de uma semana para a eleição da escolha da Mesa Diretora
da Câmara Legislativa do Distrito federal, num momento que o
legislativo distrital passa por turbulência com problemas com
polícia, ministério público e justiça o senador e ex-governador,
Cristovam Buarque, fez uma avaliação crítica dura dos deputados
distritais.
“Eu
quero dar um recado aos cidadãos de bem desta cidade. Vocês têm
que se candidatar a deputado distrital. A dois anos atrás eu tentei
criar uma bancada de notáveis (ninguém gosta da palavra). Procurei
diversos nomes da imprensa, das universidades, procurei
personalidades em outras áreas de profissionais e não consegui.
Todos dizem: não quero entrar aquela coisa chamada Câmara
Legislativa. Como não querem entrar deixam para quem está aí. Acho
que tem dois anos, quase dois anos, para preparar uma nominata de
grandes personagens desta cidade para assumir o cargo de deputados
distritais”, defende o senador.
Por
ouro lado, explica, os escândalos todos não são muito diferentes
dos últimos anos. “Desde que eu estava no governo já existiam
esses escândalos. Esse ano teve mais talvez porque vocês têm sido
denunciantes, deram visibilidade aos problemas. Se não fosse vocês
talvez alguns desses escândalos não tivessem sido denunciados ou
ficariam mais discretos ou escondidos em algumas páginas dos
jornais. Vocês fazem a diferença. ”
Mao
opinião de Cristovam, “quando a gente lê num jornal, lê e
pronto. Depois conversa com alguém na igreja ou num boteco. Na
internet, tem o replay. Os escândalos são bem mais divulgados e
vocês estão fazendo muito bem esse trabalho”.
Recado
ao novo presidente
“O
recado que eu dou ao futuro presidente da Câmara Legislativa,
respondendo à pergunta é que “ ele tem que saber o que a opinião
pública está querendo, deve chamar os parlamentares e buscar saber
o que a gente faz com a Câmara Distrital que é orgulho do DF. Como
está funcionando não pode ficar”, concluiu Cristovam.
Congresso
Nacional
“Quero
dizer também que o Congresso não está orgulhando o Brasil. Eu falo
da Câmara Distrital, mas com certo constrangimento de pertencer ao
Congresso Nacional, de ver manifestações, em todo o País, contra o
Legislativo. ”, assinalou, acrescentando: “As manifestações de
ontem (04) pela primeira vez não foram contra o governo. Nem contra
a Dilma. Foram contra o Congresso”.
Reforma
da Previdência
Cristovam
Buarque defende a reforma da previdência. “Tem que haver uma
reforma. O tempo que um aposentado fica sem trabalhar, hoje, é dez
vezes maior que a 10 anos atrás. Então tem que haver reforma. A
reforma pode ser tendo que aumentar a contribuição do valor
percentual mantendo a mesma idade, pode ser manter a contribuição
aumentando a idade mínima. A partir daquela idade você não recebe
mais. Tem que fazer uma reforma e essa reforma vai implicar em ter
que aumentar a idade mínima. Hoje nós temos pessoas se aposentando
com menos de 50 anos e vivendo mais 30. Então tem que haver uma
reforma. E essa reforma passa pelo aumento da idade.”
Igualdade
de Tratamento
E
também pela procura de justiça que hoje não tem entre o setor
privado e o setor público. Precisa ter um sistema que trate todos os
brasileiros da mesma forma. Entretanto tem profissões e profissões.
Por exemplo, o pescador que trabalha no mar, não pode se aposentar
com idade alta até porque a esperança de vida dele é menor. O
agricultor que trabalha de sol a sol tem que ter uma idade especial
para aposentadoria. Militar é possível que tenha que ter uma idade
especial.
O
ideal talvez seja diminuir o número de horas de trabalho. Será que
a injustiça não está em trabalhar muito? É uma questão de se
analisar. O professor, por exemplo, ao longo da história, nós nos
acostumamos a pagar pouco e deixamos que se aposente cedo. E isso
está trazendo um prejuízo grande à educação. Tem pessoas que no
linear de sua vida intelectual se aposentam. Talvez seja melhor
aumentar o salário e ficar mais tempo trabalhando. O militar tem que
analisar se pode reduzir o tempo de trabalho. Pode ser justo também.
O que não pode é trabalhar mais horas que as outras pessoas e se
aposentar com a mesma idade. O mais certo seria militar trabalhar as
mesmas horas que todos os brasileiros. O funcionário público tem
que ganhar muito bem mas tem que ter.
Problema
Habitacional
Foi
cobrada uma posição do senador do Distrito Federal sobre o problema
habitacional. Nos últimos dois anos “20 mil pessoas” foram
desalojadas de suas casas. A forma como a polícia tira a força quem
não sai, e o governo deixando as pessoas sem nada pois
não da alternativa habitacional para ninguém foi apresentada ao
senador. Ele recebeu críticas pela classe política estar “muda e
silenciosa”. No Senado, o senador Hélio José promoveu uma
audiência pública; na Câmara Federal, o deputado Izalci Lucas,
realizou uma audiência pública. Na Câmara Legislativa, pior ainda.
Ninguém faz nada”, criticaram os blogueiros.
Cristovam
Buarque respondeu que “habitação é fundamental, saúde é
fundamental, eu, talvez por vocação, foco na educação. Na minha
opinião, os problemas de habitação, de saúde, são resultados da
falta de educação temos 30 milhões de adultos analfabetos. Por
isso, sou senador da República, da Educação. Não sou senador,
reconheço, da Habitação. ”
Blogueiros
de Política
Direito
de Invadir
Para
Cristovam Buarque, “o problema em Brasília é que as pessoas acham
que tem direito de invadir. Eu concordo com o governador tem que
coibir. Talvez a maneira não seja a correta. ” O senador explicou
que “teve governador em Brasília que deu terra para ganhar voto.
Não concordo com isso. Há uma confusão entre política
habitacional e política fundiária. Temos que fazer habitação
fundiária, dentro da lei. É um problema que vai muito além do
governo. Minha crítica não é diretamente ao governador Rollemberg.
Ele não tem poder para isso. Qualquer outra cidade a gente, para
construir, tem que comprar o terreno. Aqui é, como se o terreno não
tivesse dono. O método de como fazer tem que ser levado em conta. ”
Questionado
sobre a educação começar em casa, o senador Cristovam Buarque
afirmou que hoje não é mais como antes. Hoje, as famílias saem
para trabalhar. Por isso, a importância ainda maior da escola na
formação das crianças.”
Federalização
da Educação
“Tenho
a muito tempo uma proposta de como ter no Brasil, uma revolução na
educação que é através da federalização da educação. O
professor tem que ser funcionário público federal. Se não for
assim, a desigualdade vai continuar. Os municípios são muito
desiguais.”
Esses professores,
nesta nova carreira, terão que ter dedicação exclusiva naquela
escola. Além disso, a estabilidade será mantida, com uma avaliação
a cada cinco anos, com salário alto para atrair pessoas que tem
vocação abnegação.
Perguntado
se será candidato à Presidência da República disse que não sabe.
E explicou: “Desejo é uma coisa que você não pode ter para uma
coisa muito grande. Estou preparado e toparei se meu partido quiser.
Mas não vou ficar brigando por isso, já passei até da idade de
ficar brigando. Se vier, me sinto preparado e com disposição
para isso.”
Vantagens
da Medida Provisória
A
medida provisória não traz prejuízos, ao contrário, traz muitas
vantagens, diz o senador. “Tá longe de ser o ideal também. Ao
longo de 30 anos, o governo federal vem adotando as escolas nas
cidades.”
Acho
que educação física não deve estar dentro da escola e filosofia
não é para aprender filosofia, é ter filosofia. Tem que trazer o
ensino profissionalizante para dentro das escolas. Não só das
escolas técnicas mas para todas as escolas. É a utilização do
notório saber. Só professores são contra isso, mas tem que olhar
pelo outro lado. Em Brasília, tem uma quantidade imensa de
engenheiros aposentados que poderiam dar aula de matemática. Tem
aluno sem professor de matemática.”
Críticas
ao Renan
Fez
críticas ao Renan Calheiros, pela tentativa de urgência na votação
da PEC de abuso de autoridade. Tenho sido um crítico em relação ao
Renan por querer de qualquer maneira provar um projeto dele de abuso
de autoridade e que no fundo é para proteger a autoridade. E
segundo, querer aprovar com urgência o que foi descaracterizado, nos
dez pontos e que teve o apoio de 2 milhões e 300 mil brasileiros.
Não é hora de confrontar.”
Defendendo-se
de uma cobrança dos jornalistas de que os senadores não estavam
dando a devida atenção à Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros,
Cristovam Buarque disse que, no Senado, não dá para dar a atenção
necessária as corporações até porque cada vez que a gente fala,
da Polícia Militar, os outros senadores chegam e mostram para a
gente os contracheques dos policiais deles que são pagos com o
dinheiro do governo do Estado enquanto no Distrito Federal é pago
com dinheiro do governo federal. Está cada vez mais difícil buscar
recursos para o Distrito federal. Os outros senadores dizem: “ meu
estado é mais pobre que o DF e a gente tem que se virar com o
dinheiro da gente”. É um trabalho que tem que ser feito mais
discreto. Porque levar para o debate as questões da segurança
da saúde e da educação do DF para dentro do Senado pode ter efeito
diferenciado.”
Pagar
em Dia
“Hoje
o Brasil tem que escolher. Pagar em dia os salários e congelar os
gastos ou aumentar os gastos e não pagar em dia”, assinala
Cristovam. “Tem que entender que o Rio, por exemplo, não está
pagando os salários. O 13º está atrasado em 70 cidades. O Brasil
se acostumou com a ideia de que o dinheiro é elástico. A gente fez
copa, estádio e escola. Não dá para fazer tudo. Ou faz estádio ou
faz escola, ou faz estrada ou faz hospital.
O
setor privado vai ter que cuidar das estradas. Não dá para o
governo prometer estradas, saneamento, escolas. O teto não congela
dinheiro de nenhuma rubrica, congela do todo. É uma beleza. Sou a
favor da educação, mas também sou a favor das estradas, da copa,
de tudo. Isso é falso. Agora quero ver quem defende a educação.
Vai ter que tirar subsídio do automóvel e vai atingir nós que
compramos automóvel.”
Segundo
o senador, não dá par aumentar salários de senador e de professor.
“Vai ter que escolher um dos dois.”
No
cálculo do senador, “nós temos que ter mais eficiência. O Brasil
tem que gastar 10 salários por ano, por aluno, para ser razoável.
Hoje paga 6.5.”
Argumenta
que “aluno tem que usar mais computador, mais ensino á distância.
Nós temos um vazamento nas universidades. A universidade não está
formando dentro da necessidade que se precisa. Tem que tapar os ralos
e definir prioridades. Mais eficiência e mais prioridades para a
educação. São coisas que o teto vai provocar. Na política, você
tem que ser sério e simpático, tem hora que tem que escolher um ou
outro. Eu escolhi a seriedade.”
Jogatina
no Brasil
Sobre
os jogos de azar a serem votados esta semana no Senado, Cristovam
Buarque foi enfático: “Tenho posição radicalmente contra os
jogos não jogatina. Qualquer jogo mesmo o legal. Acho que ao redor
vem muita coisa ruim. Votarei contra, tentarei impedir a aprovação
e não adianta trazer argumentos de que vai gerar empregos. Vamos
gerar empregos por outros meios. Daqui a pouco porque vai gerar
emprego vamos legalizar a cocaína também”.
Organizações
Sociais
“Sou
favorável às Organizações Sociais porque o mundo hoje não
pode se privar de atuar estado e setor privado respondeu o
senador a uma questão sobre as OS. “Acabou o tempo em que uma
coisa era privada e a outra estatal. Hoje a gente está vendo que tem
coisa estatal que não serve ao público. A saúde estatal no DF
atende ao público. Para mim público é ninguém ficar na fila se
está doente, ninguém sai doente do hospital e não precisa pagar.”
“Se
o Hospital for uma gestão privada qual o problema se o estado
pague? A gente vai ter que enfrentar isso. Porque um médico,
em seu consultório, não poie ser considerado público se eu for lá
e não tiver que pagar a consulta? O estado pagar. ´E público. Acho
que as OS a gente vai ter que fortalecer e ficar em todos os setores.
Público não é sinônimo de estatal. Mas tem que fazer com cuidado.
Sou simpático a ideia de parcerias público privadas.”
O
que faria diferente
Respondendo
sobre o que faria diferente de quando foi governador, respondeu que “
escolheria primeiro os administradores das cidades e não os
secretários. Faria uma consulta à população para escolher os
administradores.”
Outro
ponto que não repetiria é dar aumento de 65% aos professores logo.
Depois chegaram novos professores e eles não tiveram o aumento.
Dando o aumento, incomodei o sindicato que não pode dizer que tinha
conseguido o aumento. Comprometi as finanças com o aumento.”
Outra
coisa que Cristovam não faria “é colocar como meu assessor para
as relações com sindicatos, um sindicalista. Com isso, levei para
dentro do Palácio a briga interna de sindicato com professores.”
Cursos
para Síndicos
O
senador disse que hoje é presidente da fundação Astrogildo
Pereira, do PPS. Vai propor que a fundação realize cursos para
formação de síndicos.
Concluiu
avaliando que “a comunicação hoje é feita através dos blogs,
muito mais que os veículos nacionais. Hoje, o político não pode
ficar esperando as informações do final de semana. A informação
tem que ser instantânea, no minuto que ela acontece. E nisso os
blogueiros cumprem um papel relevante para a sociedade”, finalizou.
Da
Redação do Portal ABBP
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