Por General Rocha Paiva
No final de 2014, a nação
despertou do ilusório sonho em que fora embalada por lideranças
políticas promotoras de um processo de corrupção sem precedentes.
Corrupção era uma das estratégias para manter o poder e, também,
enriquecer próceres e aliados, que a Lava Jato tornou conhecidos
pela sociedade.
O populismo foi outra estratégia
para manter uma ampla base de dependentes votantes e alimentar a
propaganda do “nunca antes na história desse país se fez tanto
pelas classes menos favorecidas”. A gestão populista enganadora,
eleitoreira e irresponsável implantou programas de bem-estar social
com dinheiro público, sem lograr altos índices de desenvolvimento,
capazes de mantê-los e, ainda, gerar excedentes para garantir o
constante progresso do país. A ascensão das classes pobres foi
apenas temporária.
Enquanto a sociedade se iludia,
as lideranças petistas e peemedebistas, então aliadas, surfaram na
onda da popularidade. Por outro lado, uma oposição desfibrada fazia
jogo de cena sem defender, de fato, a moralidade na política e a
correção do rumo pelo qual o país era conduzido ao caos. Muitos
dos seus membros foram cúmplices na corrupção. Toda liderança
política tem responsabilidade pelo profundo fosso onde empurrou o
Brasil.
Os países do primeiro mundo
puderam manter políticas amplas e duradouras de bem-estar social,
mas só as implantaram após alcançar elevados padrões de riqueza,
progresso sustentável e maturidade política. Hoje, muitos estão
revendo programas sociais, pela dificuldade de financiá-los. O
Brasil, por falta de visão de futuro, covardia moral, gestão
irresponsável e populismo das lideranças políticas, estabeleceu
programas sociais e benefícios previdenciários sem ter atingido
padrões de riqueza e desenvolvimento capazes de sustentá-los. A
realidade veio à tona e querem que o custo da incúria caiba à
população.
A reforma da previdência é,
sem dúvidas, urgente. Porém, a liderança, nos três Poderes, não
esqueça que o exemplo vem de cima e que, sem ele, não convencerá a
nação a aceitar sacrifícios. A sociedade sabe que arcará com um
pesado ônus para o Brasil sair do abismo, mas exige que a liderança
aperte, e muito, o próprio cinto. Nos altos escalões do serviço
público existem megassalários turbinados por benesses
complementares, cuja legalidade sem legitimidade afronta a justiça e
espolia o contribuinte.
Antes de reformar a previdência,
cujas consequências mais pesadas cairão nas classes médias e
inferiores, a liderança nacional tem que cortar na própria carne.
Congele, temporariamente, os salários nos mais altos escalões,
diminua a diferença salarial entre os graus hierárquicos e
estabeleça a isonomia entre servidores de mesmo nível lotados em
diferentes Poderes.
Normatize a concessão de
direitos especiais, mantendo apenas os justificáveis pela
necessidade e legitimidade. Reestude a concessão e o valor de
direitos especiais como: passagem aérea gratuita; transporte em
aeronave oficial; cota gratuita de combustível; transporte terrestre
gratuito; indenização para pagamento de auxiliares de gabinete;
indenização para remessa de correspondência; aposentadoria após
dois mandatos legislativos; planos de saúde privilegiados; auxílios
paletó, ensino e moradia, este último a quem tenha residência
própria ou disponibilizada; e outras mordomias inexplicáveis.
São vencimentos indiretos a
quem já se encontra no topo da pirâmide salarial, a maioria pagos
em todos os estados. A economia feita com a revisão desses
megavencimentos e privilégios não resolverá a crise econômica,
mas é a única forma de conferir base moral para impor sacrifícios
a setores da sociedade, alguns sem mais reservas para cortar.
Isso é utopia, dirão muitos,
pois a liderança pensa apenas em seus interesses e não no bem da
nação. Ninguém espera espírito público da antiga liderança
patrimonialista corrompida, que afronta a nação com mentiras ao
explicar suas manobras para usurpar o tesouro nacional em benefício
próprio. Infelizmente, essa doença moral contaminou a sociedade,
que perdeu referenciais de dignidade ao ser submetida aos maus
exemplos impunes e a uma sistemática orquestração contra os
valores morais, sociais e cívicos.
Porém, há uma nova liderança
e a nação reagiu. Tudo pode estar mudando. No entanto, a cura não
virá de partidos desmoralizados e descompromissados ou de eleições
incapazes de aperfeiçoar, por si só, a democracia como se tenta
iludir a nação. Um choque de valores terá de vir da sociedade, ser
aplicado nela própria, assimilado pelas famílias e por um sistema
educacional moral e profissionalmente recuperado, capaz de formar
cidadãos íntegros e cientes de suas responsabilidades cívicas.
A liderança falida não tem
mais certeza da impunidade e a sociedade, não mais omissa, exige
moralidade, transparência, espírito público e exemplo dos três
Poderes, ciente de que só assim teremos um país digno e justo.
A mensagem tem que ser bem
clara: querem sacrifícios? Deem-nos exemplos!
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