Em meio a relatos de uma mega-operação policial no Rio de Janeiro — em que quatro agentes perderam a vida no cumprimento do dever e mais de cem suspeitos de facção foram abatidos — o cenário de segurança pública no Brasil volta a acender velas vermelhas. Mas, surpreendentemente, a reação oficial do governo federal se concentrou menos em apoiar quem combate o crime e mais em atacar quem propõe novas ferramentas de enfrentamento.
O que está em jogo
O projeto de lei apelidado de PL Antifacção — oficialmente pensado para endurecer o combate a organizações criminosas — está sob a relatoria do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP).
Derrite, por sua vez, vem de carreira policial e de gestão de segurança pública no estado de São Paulo, e representa um perfil “da linha de frente”.
A controvérsia
- Por um lado, o texto sob relatoria de Derrite propõe equiparação de facções criminosas a organizações paramilitares ou milícias, com aumento de penas.
- Por outro lado, o governo acusa o parlamentar de “tentar enfraquecer a autonomia da Polícia Federal (PF)” ao propor alterações que ele próprio defende como “ajustes técnicos”.
- O resultado: ao invés de concentrar esforços no avanço do combate ao crime, o debate desloca-se para disputas políticas e institucionais — e quem está “na ponta”, no enfrentamento real, se sente ignorado.
O impacto prático
- Agentes que arriscam a vida em operações — como as realizadas nos complexos da Penha e do Alemão — assistem a um cenário em que o apoio institucional e o sistema jurídico parecem estar em segundo plano.
- A percepção pública de “dois pesos e duas medidas” cresce: se o combate ao crime é eficaz, por que o foco se volta para disputas de bastidor em vez de políticas de Estado?
- O trator do discurso ideológico — de que “bandido é vítima da sociedade” — ressurgiu como crítica entre segmentos da segurança pública que se sentem desamparados.
O que observar daqui pra frente
- Se o PL Antifacção for aprovado nos termos atuais, o Brasil pode ter uma nova legislação mais dura contra facções — mas com menor centralização federal.
- Essa mudança move o eixo do combate para estados e forças locais — o que pode fragmentar ou dificultar ações nacionais conjuntas.
- Em ano pré-eleitoral, o tema segurança pública tende a ganhar espaço simbólico e eleitoral, o que pode influenciar decisões políticas mais do que operacionais.

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