O
2º sargento Charleston
Muniz
do CBMDF, especialista e instrutor de combate a incêndio, como
também e um dos responsáveis pela formação dos cursos de incêndio
da corporação, como o COI
(Curso de Operações em Incêndio) e CICOI
(Curso de Instrutor de Combate a Incêndio Urbano). Também tem
grande contribuição na formação e aperfeiçoamento das praças do
CBMDF. O
estudo realizado pelo Sgt. Chaleston Muniz traz um grande ensinamento
a todos os militares do CBMDF no Resgate a Bombeiros Militares.
Imagine
a seguinte problemática: O chefe da Guarnição de Incêndio,
encontra-se em um incêndio de médio ou grande porte, e no
desenvolvimento da ocorrência, perde um, dois ou mais bombeiros na
edificação, por algum motivo que não se sabe. Ou seja, há
companheiros de serviço com problemas num cenário de incêndio.
Assim, surgem os seguintes questionamentos: o que fazer? De que
forma? Como pode-se dar mais celeridade ao resgate, preservando assim
a saúde do bombeiro? Como fazer este resgate com segurança dos
resgatistas? Entre outras perguntas.
Toda
área operacional em que o bombeiro atua envolve riscos. Porém, com
o aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas técnicas e com novas
tecnologias na elaboração e fabricação dos EPI’s (Equipamentos
de Proteção Individual) estes riscos tornam-se cada vez mais
aceitáveis. Sentindo-se mais seguros e confiantes diante destas
inovações o bombeiros passaram a executar o combate interno com uma
frequência muito maior que no passado, em que a grande maioria dos
incêndios eram combatidos externamente.
Desde
2007, os militares do CBMDF utilizam as técnicas de jato atomizado e
passagem de porta, o que permite acessar ambientes confinados com
alguma segurança. Ainda assim, sabem que há um risco aceitável,
pois estão dentro de uma atmosfera excessivamente quente e sem
visibilidade. Em compensação, tem-se muito mais eficiência na
extinção das chamas (aplicação de pouca água ou espuma) e
salvamento de vítimas (busca rápida e primária).
Reafirmo
que se colocar em risco em um incêndio é próprio da profissão de
bombeiro, contudo, sempre deve-se avaliar se o combate deve ser
interno ou externo com base na filosofia risco versus benefício, ou
seja, arriscar muito para salvar muito; arriscar pouco para salvar
pouco ou arriscar nada para salvar nada, seguindo o Manual Básico de
Combate a Incêndio do CBMDF.
Assim,
com o intuito de dar mais segurança aos bombeiros que realizarão um
combate interno nas edificações do Distrito Federal, a equipe de
instrutores da corporação, começou a vislumbrar a possibilidade de
uma guarnição externa, preservada fisicamente e pronta para
intervir em caso de acidente com os bombeiros atuantes. Já adianto
que esta guarnição estaria designada por área de atuação (no
Distrito Federal seriam apenas duas equipes), sendo que estas equipes
teriam treinamento e material próprio, não se confundindo com a
segunda linha (linha de segurança) ou com a guarnição de
salvamento, bombeiros já desgastados pela ocorrência e muito mais
limitados.
PESQUISA
E TREINAMENTO
Neste
cenário, em 2013 fui designado a realizar uma pesquisa sobre resgate
de bombeiros e fazer os treinamentos e testes necessários para a
utilização de técnicas específicas nesta área de atuação.
Inicialmente, toda esta pesquisa serviria apenas para aprimorar o
conteúdo de uma disciplina do 3º COI (Curso de Operações em
Incêndios) que aconteceria em 2014, mas, para a minha surpresa, foi
algo bem mais amplo.
Iniciei
a minha pesquisa nas corporações irmãs do Brasil, mas não achei
nada a respeito nos sites e artigos dos Corpos de Bombeiros
nacionais. Assim, parti para uma pesquisa estrangeira,
principalmente, na doutrina americana. Fiquei impressionado, pois
encontrei uma gama incrível de artigos, doutrinas e vídeos sobre as
equipes de intervenção rápida. Uma área de atuação com
princípios, técnicas e requisitos próprios, ou seja, bombeiros
mundo afora já estavam vivendo esta realidade e percebi que
precisávamos nos atualizar.
Comecei
a estudar o assunto, trazendo-o para a realidade do CBMDF e fui
desenvolvendo uma apostila. No entanto, precisava treinar e aplicar
as técnicas de resgate à nossa realidade. Mas, sozinho não era
possível, pois como o nome já diz, trata-se de uma equipe de
resgate de bombeiros. Então, eu precisava de voluntários para
realizar um trabalho desconhecido, pois não sabia se seria adequado
ao CBMDF ou se nossos esforços seriam em vão. Por isto, convidei os
instrutores do GPCIN
(Grupamento de Prevenção e Combate a Incêndios)
1º
SGT Valdeci Nogueira de Aquino, 1º SGT Marcos Antônio Queiroz, 1º
SGT Carlos Henrique Lopes Ribeiro, ST Marcelo de Oliveira
do
CETOP
(Centro de Treinamento Operacional) que prontamente aceitaram o
convite para que realizássemos esta missão.
Relacionamos
várias técnicas de resgate de bombeiros e começamos os
treinamentos. Algumas técnicas eram perfeitamente aplicáveis à
nossa realidade, outras poderiam ser facilmente adaptadas, e algumas
não tinham aplicabilidade aos nossos socorros, que prontamente foram
descartadas. A proposta inicial era que as técnicas não fossem
complexas e que não dependêssemos de excesso de material de
salvamento. Percebemos, então, que um bombeiro de incêndio, com
apenas o seu EPI e EPR (Equipamento de Proteção Respiratória),
material de arrombamento, uma fita, um mosquetão, conhecimento e
muito preparo físico seria capaz de realizar ações de resgate de
bombeiro extremamente eficientes.
Sgt. Charleston Munizr / Especialista em Resgate |
HISTÓRICO DA ERB/RIT
A
ideia de uma ERB (Equipe
de Intervenção Rápida)
ou RIT (Rapid
Intervention Team)
iniciou na década de 1960, em Londres, período em que as roupas de
combate a incêndio e os equipamentos de proteção respiratória
autônomos tiveram um grande desenvolvimento tecnológico. Nesta
época, os bombeiros começaram a acessar os incêndios, se colocando
em risco com frequência, sendo que, não raras vezes, ficavam
inconscientes ou aprisionados em ambientes grandes e
compartimentados, podendo chegar a óbito.
Assim,
os chefes de equipes começaram a perceber a necessidade de ter uma
equipe em condições (equipados com EPI e EPR) de acessar o ambiente
sinistrado para resgatar bombeiros que viessem a tombar (termo
utilizado na ERB para bombeiro caído ou perdido na cena). Um dos
legados deste período é a técnica two
in-two out,
que preconiza que sempre que uma dupla estiver trabalhando em uma
zona perigosa é necessário que se tenham pelo menos dois bombeiros
equipados e prontos para resgatar a dupla do interior da edificação.
Deve-se ressaltar que a técnica two
in-two out
não é um procedimento exclusivo da atividade bombeiro, ela serve
para qualquer trabalho em atmosferas perigosas, como a atividade
industrial, por exemplo, cita a USFA (United States Fire
Administration).
Desta
maneira, a técnica two
in-two out
serviu como fundamento para a criação da segunda linha que é a
segurança da primeira linha (de combate). Contudo, quando falamos em
ERB (termo adotado pelo CBMDF) enfatizamos que trata-se de uma equipe
externa à ocorrência não participou da montagem das linhas e
estabelecimento do socorro, ou seja, não está desgastada
fisicamente) e pronta para entrar em ação a qualquer momento. O que
também não se confunde com as técnicas de resgate de canga, pois
nesta situação um bombeiro resgata o outro no momento do fato
(acidente ou mal súbito). É importante ressaltar que a ERB também
não se confunde com a equipe de salvamento de vítimas, pois, como o
próprio nome diz, esta é uma equipe para busca e resgate de
vítimas, e assim foram treinadas. A ERB é uma equipe de elite
treinada exclusivamente para resgatar bombeiros.
REQUISITOS
GERAIS
Frisamos
que no CBMDF preferimos utilizar o termo ERB (Equipe de Resgate de
Bombeiros) em vez de RIT (Rapid Intervention Team) para facilitar a
didática nos cursos da corporação. Também podem ser encontrados
outros nomes em língua estrangeira para as equipes de resgate de
bombeiros.
Conceituamos
a ERB como “uma equipe composta por seis bombeiros (cinco da
guarnição mais o condutor), com funções próprias, ferramentas
adequadas, capazes de acessar um ambiente confinado para resgatar um
bombeiro em situação de perigo”.
Há
várias configurações para uma ERB, contudo, após nossas pesquisas
e treinamentos, levando em consideração também a capacidade de
pessoal das nossas viaturas, achamos este número ideal para a equipe
funcionar.
Dentro
de uma equipe com seis bombeiros, sugere-se que esta tenha dois
especialistas em incêndio, dois especialistas em salvamento, um
condutor com noções básicas nas duas áreas citadas e um chefe com
experiência e especialização em incêndio ou salvamento (se for
especialista em uma área, que tenha conhecimento avançado na
outra). Todos os componentes da equipe possuem funções próprias
sendo que há um revezamento a cada serviço, ou seja, é uma equipe
multidisciplinar.
As
funções da ERB são: Chefe ERB (comanda a equipe determinando a
estratégia e a tática), Condutor (responsável pelo corpo de bomba
e ações acessórias externas), 01 e 02 (chefe e ajudante da
primeira linha, dupla que inicia as buscas e resgate), 03
(responsável pelos acessos e rotas de fuga e ações acessórias
externas e internas) e 04 (organiza o palco de materiais e ações
acessórias externas e internas).
Percebemos
que a atividade de resgate de bombeiros é muito complexa, assim,
instruímos que uma equipe ERB não pode ser formada por bombeiros
inexperientes, pois como alguém poderia resgatar um bombeiro (uma
vítima equipada com EPI e EPR) de um incêndio se não tem
experiência neste tipo de ocorrência? O risco deste bombeiro novato
entrar em pânico e se tornar uma vítima seria muito grande, o que
colocaria toda a operação em risco.
Frisamos,
também, a necessidade dos membros ERB manterem o preparo físico
sempre acima da média, pois entendemos que, com toda certeza, é a
atividade operacional que mais desgasta fisicamente o bombeiro
militar.
Deste
modo, observamos que o bombeiro ERB precisa de um treinamento
diferenciado, voltado para a missão fim, como comportamento do fogo,
tipos de estruturas construtivas, técnicas de busca em diversos
cenários, câmera térmica, entre outros.
ACIONAMENTO
Sabe-se
que uma Corporação Bombeiro Militar é um órgão muito
dispendioso, assim, seria totalmente inviável ter várias equipes de
resgate de bombeiro em uma instituição, tendo em vista, que seria
uma equipe que, teoricamente, atuaria pouco nas ocorrências. Logo,
sugerimos que a área de atuação seja dividida em quadrantes com
uma guarnição ERB ativada em cada setor. Caso ela não seja
acionada, os militares devem estar em permanente treinamento, pelo
menos de duas a três horas por serviço.
O
acionamento da equipe ERB seria realizado pelo Comandante de
Incidente ou por deliberação do Chefe ERB, caso perceba que a
ocorrência pode colocar em risco os bombeiros atuantes. A ERB pode
ser acionada em diversos tipos de ocorrências, entre elas,
estruturas com risco de colapso ou incêndios em grandes edifícios,
entre outras situações, como na segurança das equipes de
salvamento de vítimas, que, muitas vezes, estão realizando buscas
sem uma mangueira ou um cabo guia para se orientarem. Por esta razão,
a ERB também pode ser acionada para ambientes com risco de
aprisionamento das guarnições ou risco de queda em fosso de
elevador.
CBMDF
E O CURSO
A
ERB ainda não é uma realidade no Distrito Federal, contudo, temos
certeza que no futuro será um tipo de equipe imprescindível no
socorro, pois, a cada dia, os nossos EPIs ficam mais resistentes e
eficientes, o que, por sua vez, nos dá segurança para acessar os
incêndios mais perigosos, nos colocando constantemente em risco.
Durante
nossas pesquisas, notamos que o motivo da implantação da ERB em
vários países foi acidentes com bombeiros em serviço que vieram a
óbito, como, por exemplo, os três bombeiros que morreram no
incêndio em Bricelyn Street, Pittsburgh, em 1995. Assim, afirmamos
que é melhor aprender com os erros de outras corporações do que
esperar que acidentes aconteçam com os nossos pares em incêndios
estruturais
Atualmente,
o Grupamento Especializado de Prevenção e Combate a Incêndios
(GPCIN/CBMDF) possui uma viatura piloto de observação e apoio
tático às ocorrências de incêndio. Contudo, o GPCIN já dispõe
de um projeto do Curso de Resgate de Bombeiros (CRB), quando então
formaremos os especialistas da área e implantaremos gradativamente a
ERB no Distrito Federal, até que esta seja uma realidade da
corporação.
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