Por Flavio Margenstern
O
PT foi o principal responsável pela absoluta banalização da
palavra “fascismo” na língua portuguesa. Entre a esquerda, e
entre os que não possuem muita experiência de vida (categorias com
avantajada intersecção), é muito comum se impressionar com
palavras poderosas, de fortíssimo impacto psicológico, como
“fascismo”, “opressão”, “exploração”, “conservadores”,
“burguesia”, “trabalhadores”, “justiça social” ou
“desigualdade”.
Qualquer
tentativa de definir tais conceitos acima da média de reflexão de
um refrão de funk demonstra as lacunas de pensamento entre jovens e
esquerdistas, que ou vão se atrofiando e formando ideólogos e
massas de manobra, ou vão sendo preenchidas com novos pensamentos
que aclareiam conceitos e afastam as vítimas de reducionismos
propagandísticos.
É
comum ver a confusão da esquerda, que sempre amou tudo do período
mais autoritário da história da Rússia, de repente achar um
absurdo uma falsa (e dada como consensual) intervenção russa nas
eleições americanas (pode-se bem imaginar como pensariam o oposto
se a narrativa fosse de russos intervindo para eleger Bernie
Sanders). Ou vociferando contra Donald Trump por não aderir a
tratados comerciais que o PT e a esquerda tanto criticava no começo
dos anos 2000.
Ou
ainda criticando tanto a direita por defender uma moral
judaico-cristã, e ao mesmo tempo jurando que o nazismo faz parte do
pensamento de direita – o nazismo, derrotado pela Inglaterra e
pela América enquanto Hitler fazia pactos com Stalin, sendo a
própria consubstanciação do que é o ódio a uma moral criada por
judeus e revelada a Moisés no Sinai separando o poder sacerdotal do
poder real. Isto para não falar em temas de absurda complexidade,
como a Terceira Roma, a hégira
islâmica,
o globalismo ou
a Primeira Guerra Mundial.
São
todas conhecidas falhas de pensamento de quem tenta trabalhar com
conceitos soltos e sem uma hierarquia, uma ordem e uma organização.
Com sorte, o paciente cruza com boas leituras ou questiona a
distância entre boas intenções e realidade factual de quem sempre
tentou o convencer com argumentos sentimentais e acaba afastando-se
das ideologias fracas da puberdade.
É
por esta razão que o discurso mavioso da esquerda seduz muito os
jovens e os pouco letrados, mas é comum que a maturidade ou os
estudos tornem as pessoas mais conservadoras depois. Como define o
filósofo Nicolás Gómez Dávila, não se parte de idéias
reacionárias: geralmente chega-se a elas.
E
nada melhor para impressionar desavisados do que usar as palavras
mais pesadas do vocabulário político, como a repetição,
ironicamente goebbelsiana, do termo “fascista” para todo o lado.
Fascistas seriam quem discorda do PT, quem vota pela flexibilização
da CLT (em nova ironia, criada por um fascista, sendo quase cópia
da La
Carta del Lavoro de
Mussolini), quem defende Estado mínimo, quem quer privatizar, quem
defende uma moral criada por judeus, quem faz piada com o Jean
Wyllys, quem fala sério com Jean Wyllys, quem não fala com Jean
Wyllys e quem passou por Jean Wyllys e Jean Wyllus não gostou.
Para
quem conhece a realidade histórica além das platitudes a serem
repetidas pelo sistema federal de educação (mais uma vez, uma
criação curiosamente fascista
de Getúlio Vargas),
é fácil notar que o PT, a versão sindicalista da esquerda que não
tinha os ranços do antigo PCB, é
um partido muito mais próximo do fascismo do que do
socialismo aventado
por alguns de seus defensores.
Apesar
de “fascista” ser o xingamento preferido dos petistas aos
não-petistas, seu modelo de poder e Estado é assustadoramente
próximo ao de Mussolini, Franco, Salazar – e mesmo ao de
um presidente militar brasileiro nada fascista como Dutra.
O
fascismo é um sistema político em que, apesar do famoso moto de
Mussolini, “Tutto
nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato”,
estatiza menos do que o socialismo (este sim, o Estado total). Os
planos econômicos são dirigidos como o PAC. Como define John T.
Flynn no clássico As
We Go Marching,
os gastos são realizados com infinitos empréstimos e dinheiro
jorrando de impressão de moeda em Bancos Centrais, causando
inflação.
Empresas
são “privadas”,
mas controladas por sindicatos e vastos “direitos trabalhistas”,
e acabam não tendo como negociar, senão com o próprio Estado com
seus projetos faraônicos. Grandes empresas do projeto nacional
ganham subsídios e trabalham em esquema de cartel com o governo
(hoje, diríamos, em escambo de propinas por contratos).
Ao
invés de expropriar a burguesia, ela é agraciada e mesmo comprada
com previdência social estatal, educação e saúde gratuitas e
muita propaganda estatal. A censura é obtida quando fascistas chegam
ao poder, mas antes disso já fazem um vigoroso, repetitivo, fanático
e monotemático trabalho de desinformação, que logo se torna a
visão oficial assim que se chega ao poder. Ou seja, com
financiamento para que, mesmo antes de censurar (ou “regular os
meios de comunicação”), possa-se prevalecer uma narrativa
oficial, com termos a serem repetidos roboticamente, cheios
de -ismos,
abstrações, sujeitos coletivos e indefinições, mas forte apelo
sentimental de mobilização.
Comparar
tal cenário ao Brasil do PT não é tão difícil. Não à toa, o
presidente com quem Lula mais gostava de se comparar era o grande
fascista brasileiro, o
ditador assassino Getúlio Vargas.
O
fascismo, portanto, é diferente do socialismo por ser,
curiosamente, menor
e mais fraco.
Menos estatal, mesmo com a divisa de Mussolini. O maior estudioso dos
partidos políticos, o sociólogo Robert
Michels,
começou sua carreira como socialista e, após estudar a
oligarquização das decisões dentro da estrutura partidária da
esquerda, preferiu se filiar ao fascismo por considerá-lo mais
democrático.
Grandes
pensadores sobre o fenômeno fascista, como Erik von
Kuehnelt-Leddihn, Eric Voegelin, Umberto Eco, John T. Flynn,
Friedrich Hayek, Victor Klemperer, Jen Pierre-Faye e tantos outros,
sempre deram destaque óbvio ao caráter mais ostensivamente
assustador do fascismo: seu militarismo exacerbado, que transcendeu o
horror da Primeira Guerra em amalgamar civis e militares, com marchas
desabridas pelas ruas das cidades e que acabou por gerar uma guerra
ainda mais mortífera do que a Grande Guerra.
De
fato, parece ponto pacífico que este elemento é quase oposto no PT,
que tanto horror tem de militares, inclusive dos mais dóceis: nunca
houve ostensiva propaganda ideológica anti-polícia quanto nos
governos petistas. Entretanto, tal aparente contradição, mais uma
vez, é apenas uma confusão com termos.
O
movimento fascista sempre foi paramilitar,
e não militar. Forças militares são conservadoras, como os
militares italianos ainda defendiam o apagado reinado de Vítor
Emanuel III. Não foi dali que surgiu o fascismo, e sim de um
movimento sindical, operário, curiosamente
democrático,
populista e trabalhista que planejava controlar as grandes
corporações através de um Estado forte e centralizador, distinto
dos federalismos e poderes tipicamente regionais da Europa.
Por
conta disso, teve no nacionalismo um outro traço marcante: não por
defesa de sua nação sobre outras
(Mussolini e Hitler se entendiam muito bem), mas por desejar a
construção de um poder nacional central que surpassasse os cantões,
estados federados e outras formas de divisão de poder originais de
países como Alemanha e Itália.
Sendo
nacionalista (reconstrutor de nações) e tendo forças conservadoras
(“retrógradas”, “reacionárias”, “obscurantistas”,
“atrasadas” etc) contra seus intentos, fascistas precisaram criar
uma força paramilitar contra as Forças Armadas oficiais. Deserdados
e toda sorte de aventureiros, jovens idealistas e arruaceiros foram
arregimentados para a Falange espanhola, a Juventude Hitlerista ou os
Camisas Negras de Mussolini. Todas paramilitares, nenhuma parte das
Forças Armadas oficiais.
Com
a glorificação de um líder, funcionavam como uma gigantesca massa
viva que permitia que líderes nem sempre tão representativos entre
o povo pudessem exibir um poder maior do que possuiriam, já que a
mobilização de seus exércitos em desfiles urbanos era muito mais
suicida do que ofensiva: sem o treinamento militar adequado,
significavam muito mais obediência fanática e disposição
a morrer como escudo humano do
que propriamente um poder de invadir um país ou vencer uma guerra.
Era
a Falange, a Juventude Hitlerista, os Camisas Negras que cercavam
seus líderes para que as forças policiais não pudessem aplicar a
lei sobre seus megalomaníacos, ilegais e psicóticos projetos de
poder. Qualquer “agressão” aos jovens e “inocentes”
militantes fascistas seria encarada como uma brutalidade ditatorial
das forças policiais conservadoras de então, e sem precisar ganhar
eleições, propor leis ou ganhar debates, os fascistas logo obtinham
um poder imenso e inspiravam um sentimento de serem pobres idealistas
injustiçados por conservadores elitistas.
O
próprio hino nazista, a Canção de
Horst-Wessel (Horst-Wessel-Lied),
descreve os nazistas em termos vitimistas, marchando sob chumbo de
reacionários:
Alemão original | Tradução para o português |
---|---|
|
|
Quando
se observa o fascismo e o nazismo sob este prisma histórico mais
detalhado, e não apenas invocando “militarismo”, vê-se, na
verdade, que o PT está a um triz de se tornar um partido que pode
ser oficialmente chamado de fascista.
O
PT permaneceu durante todo o seu tempo na presidência com suas
milícias armadas, como MST e MTST, além de militância desarmada
como UNE, CUT e quejandos, simplesmente fazendo pressão por seu
reformismo no Congresso, o que foi encarado com certa precisão como
um “socialismo light”, reformista e não revolucionário –
mesmo com efeitos fortemente contrários ao povo, como o ativismo
judicial do STF (e vide como a Suprema Corte está em descompasso com
a vontade popular).
Ao
menos, era assim
no “reformismo democrático” com o PT no poder. Foi ser apeado, e
os ânimos aumentaram fortemente. Basta ver que o tom da esquerda
deixou de ser “paz & amor” para falar em “pegar em armas”
(após desarmar a população, exatamente como
Mussolini e Hitler fizeram), em “lutar até o fim”, em “não
vai ter arrego”, em enfrentar a PF, o Moro, a lei, em parar o país,
em chamar todo não-petista de criminoso. A história se repete.
Basta olhar por cima como anda a militância.
RADICALIZAÇÃO— Gazeta do Povo (@gazetadopovo) 5 de abril de 2018
“Não tem mais valsa! Agora é porrada! É guerra! É luta”, dispara líder do MST: https://t.co/hIiDVf1RXi
Contrariado com o rumo do julgamento do habeas corpus de Lula no STF, Alexandre Conceição defendeu retomada das invasões de terra.
via @gprepublica
José Rainha conclama militância e fala em ‘guerra civil’ - https://t.co/2SdFMw4qDX pic.twitter.com/rpX87dKQn9— Revista ISTOÉ (@RevistaISTOE) 6 de abril de 2018
A grande mídia que é contra Lula e diz que ele “negociou” e que “vai se entregar”, está equivocada. Lula continua no Sindicato do ABC com o povo. Amanhã, as 9h00 teremos no sindicato dos metalúrgicos uma missa em homenagem a Marisa Letícia #LulaValeALuta #LulaInocente pic.twitter.com/8zQiDtdHQW— Gleisi Hoffmann (@gleisi) 6 de abril de 2018
GRUPO DE TERRORISTAS DE ESQUERDA MST ANUNCIA INTERDIÇÃO DE MAIS DE 50 RODOVIAS EM 24 ESTADOS DIFERENTES.— POLITZ (@PolitzOficial) 6 de abril de 2018
SEIS ESTADOS JÁ ESTÃO COM ESTRADAS BLOQUEADAS.https://t.co/algF6zzRw4 pic.twitter.com/jWg9Ocb1Jc
Para prender Lula ‘vai ter que matar gente’, diz Gleisi a site – GR21 – Gazeta Ribeirinha https://t.co/9hWac4G47v— Gazeta Ribeirinha (@gr21Noticias) 16 de janeiro de 2018
- PRESIDENTE DA CUT— Henrique Olliveira (@henriolliveira) 4 de abril de 2018
"Vamos pegar em armas"
- GLEISI HOFFMANN
"Para prender LULA, vai ter que matar gente"
- LULA
"Vamos por o Exército de Stédile nas ruas"
- BOULOS
"O Brasil será incendiado por greves e ocupaçoes"
Mas a gritaria vermelha só veio com o tuíte do general! pic.twitter.com/Pjkat6JGeO
O BRASIL VAI PARAR!— Iuri K. (@cinefilo_K) 6 de abril de 2018
mataram a Marielle achando que intimidariam quem luta, mas acabaram acordando e unindo a esquerda. PRENDAM O LULA E A REVOLTA VAI COMEÇAR!
O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO, O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!!
Ideli Salvatti diz que prisão de Lula “não será pacífica”. Leia mais: https://t.co/XizrgyYU5D— Notícias do Dia (@ND_Online) 6 de abril de 2018
Uma mulher - JORNALISTA - levar UM TAPA no meio de um link E SER INTIMADA DEPOIS. Que país bosta https://t.co/1bU2mstfDO— sarubo (@sarubo) 7 de abril de 2018
Cala a boca seu safado canalha!, vem para são Bernardo nos enfrentar, vem para a guerra— LUCAS GOMES (@mark21249171) 7 de abril de 2018
Não fica difícil entender, portanto, que o PT ultrapassou uma escala que Mussolini, Franco, Salazar e Hitler atravessaram mais ou menos na mesma duração. Agora, a lei, a polícia, as Forças Armadas, a população – todos são obrigados a se sujeitar aos desejos de Lula e do PT à força, sem soberania, divorciados do desejo popular, com os petistas colocando-se acima das leis, em pura atitude de enfrentamento da polícia.
Isto
para não falar do próprio crime organizado, que funciona como
milícia anti-Forças Armadas e anti-ordem e que ataca justamente os
inimigos do PT. O que os paramilitares faziam ligados ao Estado, o PT
terceirizou. E quem não se lembra das escutas do PCC ordenando todos
os seus membros e familiares a “votar
no Genoino”?
Com 64 mil homicídios por ano e juízes coitadistas penais, o Brasil
já tem um sexto de Holocausto por década.
O
PT, fora do poder, só fala em “regulamentação da mídia”
(censura) e deixa suas milícias paramilitares tocando o terror pelo
país.
Os
fascistas também estiveram longe do poder e com a mesma atuação.
Fora o clima bélico e militarista da Europa pós-Primeira Guerra,
também queriam um sistema econômico/político quase idêntico ao do
PT em tempos de paz. Hugo Chávez é muito mais parecido com um
fascista do que com um socialista, apesar de se declarar um
“socialista do século XXI”. Nicolás Maduro, que fechou ainda
mais o país, já é mais próximo de um socialista, apesar de ainda
estar no nível fascista de não decretar totalmente a socialização
dos meios de produção.
O
PT de Lula, acuado, mostrou finalmente suas garras. Deixou de ser um
partido com a roupagem “paz & amor” conferida por Duda
Mendonça (que aboliu o lema “A luta continua, companheiros”, já
que luta lembra baderna) para ser um partido não mais de greve e
piquete, mas de confundir o Estado consigo próprio, de hegemonia
absoluta conquistada na força, de adoração absoluta e
incondicional ao líder.
E,
claro, de milícias paramilitares, usadas en
masse pela
força, para não cumprir leis e tentar voltar ao poder para impor
censura, uma prometida “Assembléia Constituinte” e criar o
Partido-Estado promovendo a Gleichschaltung,
a homogeneidade social total, e agora paramilitar.
Não
importa o quanto o PT chame os outros de “fascistas”: como diz o
famoso pronunciamento de Huey “The Kingfish” Long, governador da
Louisiana de 1928 a 1932, em frase erroneamente atribuída a Winston
Churchill, “[O] fascismo nos Estados Unidos só seria vitorioso se
se auto-intitulasse ‘anti-fascismo’ ou ‘democracia'”.
O
fascismo 2.0 é o PT cuspido e escarrado.
Fonte: Senso In Comum
Fonte: Senso In Comum
1 Comentários
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