Após
o assassinato de crianças em Suzano, pululam explicações
simplistas. O real problema permanece: os mesmos que querem controlar
as armas também querem destruir a família
Por
Flavio
Morgenstern
Tão
logo se teve notícia do horrendo assassinato em massa numa escola em
Suzano (SP), ocorreu a segunda tristeza quase inevitável em uma
sociedade que perdeu a noção de luto e sagrado: a politização e
tentativa de lucro político sobre a tragédia. Após a primeira
eleição descaradamente ideológica do
país, com a segurança determinando o vencedor, a principal
tentativa de dividendos políticos sobre o massacre envolveu a
liberação das armas.
As
principais tentativas de auferir lucrinhos pessoais e políticos
vieram da esquerda, que promoveu o estatuto do desarmamento e as
políticas de foco na “ressocialização” que determinaram o
estado da segurança brasileira nos últimos anos. Mas também nosso
vice-presidente culpou… videogames.
Triste e lamentável! Espero que as crianças sobrevivam. E o governo Bolsonaro propondo liberar armas.— Paulo Teixeira (@pauloteixeira13) March 13, 2019
Oito crianças são baleadas dentro de escola em Suzano, na Grande SP https://t.co/auu1jPHES7
Triste e lamentável! Espero que as crianças sobrevivam. E o governo Bolsonaro propondo liberar armas.— Paulo Teixeira (@pauloteixeira13) March 13, 2019
Oito crianças são baleadas dentro de escola em Suzano, na Grande SP https://t.co/auu1jPHES7
Este terrível atentado na escola em São Paulo é um dos resultados do ódio que vem sendo estimulado no Brasil. Mais armas geram mais violência, e não menos mortes, como dizem.— Maria do Rosario #LulaLivre (@mariadorosario) March 13, 2019
Nós queremos paz. Minha solidariedade às famílias das vítimas.https://t.co/KtZ82oyGnO
Este terrível atentado na escola em São Paulo é um dos resultados do ódio que vem sendo estimulado no Brasil. Mais armas geram mais violência, e não menos mortes, como dizem.— Maria do Rosario #LulaLivre (@mariadorosario) March 13, 2019
Nós queremos paz. Minha solidariedade às famílias das vítimas.https://t.co/KtZ82oyGnO
O debate é manjado, e quase tudo o que poderia ser dito já foi dito (e deveria ser dito em outra hora, não durante o luto). Armas são instrumentos. E, afinal, são praticamente proibidas no Brasil atual: seria como alguém advogar que devemos proibir o crack para melhorar a situação da Cracolândia. Uma sandice que ninguém na esquerda diria – mas que é repetida como um estudo científico irrefutável a cada frase no debate sobre armas.Mascus sanctos já deixaram um comentário no meu blog: "Grande dia, mas dois heróis a menos". Pelo jeito, foi um novo massacre do Realengo sim. Nós avisamos o que iria acontecer se liberassem armas. Bolsonaro, vc tem sangue nas mãos. #Suzano— Lola Aronovich (@lolaescreva) March 13, 2019
É
claro que a culpa primordial de um assassinato é do assassino – ou
melhor, seria claro, não vivêssemos tempos em que a ideologia
surpassa a realidade. Qualquer feminista diz isso no caso de um
estupro – mas imediatamente inverte o discurso no caso de um
assassinato: aí, a única binaridade que consegue entender é a da
luta de classes, colocada no lugar de “homem x mulher” (pensados
sempre como entidades arquetípicas coletivas).
É
notoriamente brilhante a definição de Theodore Dalrymple:
A única causa inquestionável da violência, tanto política como criminosa, é a decisão pessoal de a cometer. (Excluo aqueles casos raros nos quais está em jogo uma malformação neurológica ou distúrbio fisiológico). Deste modo, qualquer estudo sobre a violência que não leve em conta os estados de espírito é incompleto e, na minha opinião, seriamente insuficiente. É Hamlet sem o Príncipe.
Ainda
assim, muitos componentes podem ser colocados como adicionais à
decisão de um indivíduo de puxar o gatilho em termos psicológicos,
de segurança pública, políticas policiais ou mera sociologia
criminológica. São elementos que podem ajudar a entender o
histórico, o ambiente, as circunstâncias e, não raro, a loucura
que leva um ser humano a matar outro – e nunca, como é o vezo da
classe falante atual, serem considerados os elementos determinantes,
excluindo o monólogo interno e o “ser ou não ser”.
Causa
espécie a dificuldade de pessoas adultas, educadas, universitárias,
trabalhadoras e vacinadas em não conseguir entender algo tão óbvio
que qualquer capiau sem instrução domina com rigor absoluto. Livros
são escritos em tons de surpresa, seja sobre um assassinato
específico ou sobre bandos de criminosos, sobre “pobres” que
viram assassinos ou sobre black blocs, abismados pela descoberta de
que tais pessoas muitas vezes apresentam uma racionalidade fria e
ordenada, e que não é possível amacetá-las em platiformas
explicações “sociais”, como pobreza ou, o que é ainda pior na
era da doutrinação ideológica, shibboleths da
lactação como “machismo” ou “discurso de ódio”.
Na
verdade, em comum em quase todos os casos está sempre um fator
simples: a ausência de uma família estruturada. Pais ausentes, mães
sem autoridade, crianças que cresceram sem amor (um sentimento
gratuito, mas que significa sacrifício e entrega absolutas – o que
apenas uma família, e não o Estado, pode dar), sem nenhum sentido
na vida além de uma busca desenfreada por prazeres que, no mais das
vezes, são incapazes de materializar.
Como
escreveu Fernanda
Takitani:
Posse de armas, segurança nas escolas, bullyng, isto tudo é superficial. O massacre de Suzano vai pra conta de quem passou as últimas décadas defendendo o divórcio, a fragmentação da família, o envenenamento do tecido social com desdobramentos do modelo de luta de classes (feminismo, gayzismo, racialismo etc) e, sobretudo, pra quem faz guerra contra a presença de Deus em nossa cultura e sociedade.Desconsiderar estes fatores na hora de entender o ocorrido é fechar os olhos para o tamanho do problema.
É
ainda mais chocante notar que uma mãe usuária de crack que larga o
filho para ser cuidado pela avó, que faleceu recentemente, não
chame a atenção de nossos esquerdistas, tão ávidos a falar em
“ódio” e armas – e como se todo ódio, de aversão o comunismo
até assassinar crianças, fosse o mesmo sentimento, e como se
esquerdistas que votam no PSOL, o partido de Adélio Bispo, fossem
integralmente desprovidos de sentimentos de repulsa.
Enquanto
a mente esquerdista, que funciona apenas preenchendo slots de
0 e 1, não encontra uma dicotomia maniqueísta, como “pobre x
rico” ou “mulher x homem” ou “gay x hétero”, não
entenderão a complexa estrutura do mal, que qualquer beata
analfabeta domina e vence.
Uma
vitima do mal, apreendemos com o narrativa da queda dos anjos, é
muito mais propensa a praticar o mal ela mesma. O mal não existe
como uma falta de controle, o objetivo final da esquerda:
ninguém atira com uma arma por falta de controle total sobre as
armas, uma impossibilidade material e ontológica, e sim porque
alguém decide cometer o mal. É uma decisão também muitas vezes
completamente racional (por isso seria interessante que nosso
Direito abolisse expressões abobalhadas como “crime
de ódio”). O sujeito argumenta em sua mente perturbada, reflete,
prometida – e apenas depois de muito cálculo, decide de estro
próprio que irá descer no vórtex do mal, com freqüência
preferindo abandonar uma vida vazia, sem esperança, sem fé e sem
caridade (sem nem mesmo ter alguém para ter conhecido a caridade e
praticá-la com o próximo da fila) a enfrentar mais um dia em nossa
curta passagem por este vale de lágrimas.
O
ser humano é o animal mais frágil quando nasce de toda a natureza.
Precisa de cuidados, ou não sobrevive. Em suma, precisa de uma
família: a estrutura basilar de toda a sociedade, antes de Estados,
antes de tribos, antes de ideologias. O ser humano sabe reconhecer
como natural o afeto pela mãe, pelo pai, pelo irmão, pela avó, até
pelo primo ou tio ou cunhado: tudo isso vem antes de leis, de planos
de governo, de ideologias de controle, seja de armas ou da economia,
em nome da planificação.
Retire
a família, a figura do pai provedor e da mãe como autoridade, dos
laços de afeto mútuo, e o animal humano será criado pelos lobos.
Será instinto sem auto-controle, será prazer imediato sem limites e
disciplina para o futuro, será um pária e, do choque com
desconhecidos, só trará uma carga psíquica de desarranjo. De
“falho”.
Os
jovens que cometem o mal, muito mais do que armas, tinham falta de
sentido em suas vidas. “O ser humano carrega um buraco do tamanho
de Deus dentro de si”, como definiu Dostoievsky. Queriam meninas
bonitas sem terem se preparado para o cortejo cavalheirístico,
queriam glória sem entenderem o que é sacrifício, queriam ser
aceitos por um grupo sem terem antes sido acolhidos por uma família.
Queriam fugir das frustrações da vida em fóruns anônimos de
internet, sem desenvolverem sua masculinidade, sua busca de sentido,
seu status de protetores e provedores, que é o que as mulheres
esperam de homens. Queriam sexo só como resposta às paixões e
hormônios, não buscando, afinal, construir uma família como
patriarcas, já que não possuíram uma. Como disse Gustavo Corção,
citando um amigo:
“Quando a onda do sexo passar, e os impotentes de amor descobrirem a enjoada monotonia do sexo sem amor, sem grande amor, passarão a matar. A matar em grupos. Comunitariamente. Haverá cursilhos para ensinar a matar sem ódio, como hoje se ensina o sexo sem amor”.
Aqueles
que falam em controle sobre armas, aqueles que ferem o luto, aqueles
que buscam explicações baseadas em “masculinidade tóxica” ou
“videogames”, são binários platiformes (e totalitários) do
mesmo matiz. Enquanto juram que algum dia vão “controlar” todo o
mal impondo sua ideologia, a maldade, desde Caim e Abel, segue a
mesma estrutura arquetípica: aqueles mesmos que falam em
“irracionalidade” e criticam instrumentos e papéis sociais são
os primeiros a destruir a família e pregar um hedonismo doentio, só
satisfeito nas entranhas do abismo da deep
web.
O
mal não acontece porque escaparam do controle de armas e de aulas de
feminismo: o mal acontece precisamente por causa deles.
Fonte: Senso In Comum
Leia também: APÓS DECISÃO DO STF, CPI DA LAVA TOGA ALCANÇA AS 27 ASSINATURAS NECESSÁRIAS
Fonte: Senso In Comum
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