Balanço
do ensino público do DF
Após
seis meses à frente da Secretaria de Educação do Distrito Federal,
secretário avalia os resultados da gestão, esclarece dúvidas e
anuncia os próximos passos da pasta.
Os
alunos podem esperar alguma novidade no retorno às aulas no segundo
semestre do ano? Os novos uniformes anunciados serão distribuídos
para o retorno?
Sobre
os uniformes, não temos certeza ainda porque não foi feita a
licitação. Então, não podemos confirmar se os uniformes já
estarão em uso no segundo semestre. Mas, para além disso, teremos
um novo regimento e algumas escolas mudando de localização. Por
exemplo, a Escola Classe 52 de Taguatinga, que foi construída de
forma temporária há quase 30 anos e era para ter durado só 10,
finalmente fechou para reconstrução e os alunos vão ser atendidos,
temporariamente, em três outras escolas de Taguatinga. Temos também
novas escolas da gestão compartilhada com a (Secretaria de)
Segurança e começaremos a implantar a gestão compartilhada com a
(Secretaria de) Cultura e os centros culturais bilíngue.
Os
estudantes do 3° ano do ensino médio da rede pública poderão
contar com alguma preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio)?
Dois
simulados serão feitos, e os materiais de estudos preparatórios de
português, matemática e ciências finalmente serão entregues.
Vamos começar a produzir aulas digitais, com vídeos, jogos e
quizzes. A substituição de computadores e a instalação de
projetores e televisões nas salas para as aulas digitais já
começaram a ser feitas. Para a elaboração dos materiais de
estudos, foram verificados os conteúdos em que os alunos mais têm
dificuldade, e a construção foi feita a partir daí. Os alunos têm
dificuldade de aprender porque os professores têm dificuldade de
ensinar. Então, os materiais vêm como uma estratégia para que a
aprendizagem seja possível.
Três
alunas do Centro de Ensino Médio Integrado à Educação
Profissional e Técnica do Gama (Cemi Gama) construíram um
refrigerador instantâneo que ficou conhecido como “micro-ondas ao
contrário” e foram convidadas para mostras em Pernambuco e no
Peru. No entanto, lidam com falta de recursos por parte da Secretaria
de Educação tanto para a participação nos eventos quanto para
pesquisa e ciência. O que tem sido feito nesse sentido?
Nós
prometemos para elas que vamos ajudar com a ida ao Peru, mas ainda
não é a solução. Temos conversado com o BRB (Banco Regional de
Brasília) e com a FAP-DF (Fundação de Apoio à Pesquisa do
Distrito Federal). Levamos ao Alexandre Santos, presidente da FAP,
duas questões: a primeira é justamente essa, os alunos precisam de
ajuda financeira para custear eventuais viagens, competições e
olimpíadas. A segunda é o investimento em editais de pesquisa
científica para alunos do ensino médio. Eu estou bem otimista nesse
sentido, creio que a FAP vai conseguir criar meios de ajudar esses
estudantes. Eu chamei as meninas do Cemi Gama para uma reunião no
gabinete e o presidente da FAP vai participar. Vamos tratar
especificamente da viagem ao Peru. Estamos ampliando o Circuito de
Ciências e transformando-o no Festival de Tecnologia, Inovação e
Cultura (Festic). A primeira edição será no segundo semestre, e a
ideia é que impulsione o pensamento, a pesquisa e o fazer científico
nas escolas.
Existe
a possibilidade de criação de outros centros de ensino médio
integrado?
Sim.
Temos pensado na expansão olhando para o novo formato do ensino
médio. Devemos ter 10 escolas piloto em 2020, completamente
integradas e vocacionadas para uma área específica cada.
A
Comunidade de Aprendizagem do Paranoá (CAP) completou um ano em
maio. O senhor pensa em expandir a metodologia e o formato de lá
para outros lugares do DF?
Sim.
Existe um grupo da UnB (Universidade de Brasília) que tem trabalhado
para expandir o modelo (projeto UnB Escola). O professor Pacheco
(José Pacheco é um português, idealizador, coordenador e professor
no projeto Escola da Ponte, inspiração da CAP) também tem
trabalhado conosco, pensando na expansão. Devemos ter algumas
escolas começando o processo de transição já no segundo semestre.
Alguma
fase da educação básica é foco da sua gestão?
Todas
as etapas têm sido priorizadas. Na manhã de sexta-feira (26),
inauguramos cinco creches em Brazlândia. Creio que a Escola Classe
Sol Nascente, a primeira da região, deve ficar pronta antes do prazo
do fim do ano. O Sol Nascente é uma das áreas mais carentes e
vulneráveis em termos de escolas no DF.
A
Prova Brasil será aplicada em outubro. Qual é a expectativa e quais
têm sido os preparos?
A
expectativa é que todas as escolas se empenhem para que os alunos
levem a prova a sério e que haja conscientização de que o Ideb
(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) pode não ser
perfeito, mas é o índice oficial de qualidade da educação, e é
por meio dele que o restante do país conhece a educação do DF.
Esperamos conseguir demonstrar o tamanho e a potência da rede
distrital de educação. Tenho certeza de que vamos melhorar os
índices em todas as etapas.
As
projeções para 2019 do Ideb serão alcançadas?
Eu
não sei se conseguiremos figurar em primeiro lugar em todas as
etapas, mas vamos melhorar bastante, sim. O ensino fundamental 1 tem
apresentado bons resultados. O fundamental 2 e o ensino médio ainda
estão com resultados aquém das capacidades. Temos escolas
incríveis, profissionais maravilhosos, de fato não combina. Temos
que mostrar quem somos para o Brasil.
O
Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2019 mostrou
uma enorme disparidade socioeconômica no acesso à educação no DF.
O que o senhor tem a dizer sobre isso?
As
pesquisas mostram que a desigualdade tem impacto na aprendizagem. Mas
não podemos impulsionar o pensamento de que pobre não aprende.
Existem escolas no Brasil inteiro que fazem excelentes trabalhos
mesmo em situação de vulnerabilidade. Das 100 melhores escolas de
ensino fundamental do Brasil, 80 estão no Ceará. É um dado que
mostra que o aspecto socioeconômico não define, mas interfere. O
que interessa é que precisamos fazer um trabalho ainda melhor quando
estamos lidando com públicos mais vulneráveis. O trabalho contra
esse tipo de desigualdade não é só nosso, mas precisamos lutar
para que as crianças mais pobres consigam aprender e tenham as
mesmas oportunidades de vida que as outras.
Os
desembargadores do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) adiaram, na terça-feira
(23), a decisão sobre a constitucionalidade da lei que prevê a
inclusão da disciplina de educação moral e cívica nas escolas. No
ranking do Enem das escolas do DF, os colégios militares são os
primeiros da rede a aparecer. O desempenho de fato é melhor quando
há gestão militar?
As
escolas militares têm um investimento maior para o quadro de
profissionais, que são selecionados, formados e trabalham muito a
questão da ordem e da disciplina. Eu não acredito que a matéria de
educação moral e cívica seja uma solução. Temos optado pelo
caminho de trabalhar competências socioemocionais para levar os
estudantes a entender a importância da organização, da disciplina,
de fazer a coisa certa, da educação, da escola, da dedicação para
um futuro com maior qualidade de vida, além da mudança do regimento
escolar para enfrentar as questões da violência em disciplinas
dentro das escolas, que são abordagens mais eficientes do que
inserir uma nova disciplina na grade disciplinar que já é inchada.
Eu considero mais importante trabalhar temas transversais, como
cidadania, responsabilidade social, solidariedade, autonomia. Vamos
continuar as avaliações para identificar quais são os melhores
investimentos para os melhores resultados. Existe um investimento
maior nas escolas de gestão compartilhada com a Segurança porque o
custo é maior. Não se sabe, porque não existem pesquisas
suficientes ainda para comprovar, é se esse tipo de investimento é
o melhor ou se existem outros caminhos capazes de obter melhores
resultados com o mesmo, ou até menos, investimento.
A
taxa de analfabetismo por faixa etária no Distrito Federal, de
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
diminuiu de 2000 para 2010. Os dados do decênio 2010-2020 estão
para sair. O senhor acredita q ue essa taxa continuará caindo?
Eu
acredito que os dados vão continuar diminuindo, mas não creio que
estejamos fazendo o suficiente. É preciso fazer mais para acabar
logo, de uma vez por todas, com o analfabetismo. Apesar de o DF ser
uma região teoricamente livre disso, sabemos que ainda temos algumas
dezenas de milhares de analfabetos que nós precisamos cuidar. Sem
contar os analfabetos funcionais, que não são contabilizados por
esse censo do IBGE. É preciso melhorar. Mais da metade das crianças
não é alfabetizada de forma aprofundada.
Existem
capacitações oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) a professores da rede pública de
ensino em parceria com instituições internacionais. Há dois
grupos, agora, participando dos programas, um nos Estados Unidos e
outro no Canadá. Existe a intenção de expandir essas capacitações?
Com
certeza. Temos conversado tanto com instituições públicas, como a
UnB e o IFB (Instituto Federal de Brasília), quanto particulares,
como a FGV (Fundação Getulio Vargas), para melhorar e fortalecer as
nossas formações continuadas. A verdade é que não temos uma
política pública bem estruturada nesse sentido no DF hoje, é
preciso melhorar a qualidade das políticas que já temos. Temos
espaços excepcionais, como as coordenações, que precisam ser mais
bem utilizados. A ideia é criar uma matriz de conhecimentos e
competências para cada profissional, por exemplo, os professores
alfabetizadores. Quando a lista com as características elencadas
estiver pronta, eles passarão por momentos de autoavaliação e,
depois, de reflexão para cada uma dessas características, para que
haja uma trilha de aprendizagem própria, que vai atacar as fraquezas
enquanto professor. Isso deve ocorrer para todos os profissionais da
rede a médio prazo. Além disso, estamos conversando, em parceria
com a UnB e a FGV, sobre a possibilidade de mestrados profissionais.
Quais
são os maiores desafios da Secretaria de Educação agora?
Uma
das minhas prioridades para o próximo semestre é mudar a Lei
Distrital da Gestão Democrática (Lei nº 4.751/2012) para garantir
que os professores com melhor perfil sejam candidatos à gestão em
todas escolas. Essa legislação estabelece que tem como objetivo
garantir a centralidade da escola no sistema e seu caráter público
quanto ao financiamento, à gestão e à destinação. Já estamos
negociando com o Conselho de Educação, com o Fórum de Educação e
com os deputados distritais para que os candidatos passem por um
processo prévio de certificação, com períodos de formação,
avaliação e entrevistas com apresentações para uma banca.
Fonte:
CB
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1 Comentários
Muito boa entrevista, específica e direta aos pontos importantes da educação. O secretário mostrou-se muito capaz e proativo na mujdança de paradigmas de gestão e na proximidade com a sociedade. Pena que o governo do DF não estava à sua altura em termos de coerência e de valores democráticos. Perde com sua saída da secretaria não apenas o DF, mas todo o Brasil, com os exemplos que ele ainda poderia dar à gestao pública da educação no país.
ResponderExcluirObrigado pela sugestão.