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Putin ‘fecha a torneira’ do gás para chantagear Europa

Por Gabriel de Arruda Castro, para a Revista Oeste
A Bolsa de Valores de São Paulo caiu mais de 2% nesta segunda-feira, 20, em parte devido à crise no abastecimento de gás em toda a Europa. As principais bolsas europeias também operaram no vermelho ao longo do dia. E o responsável é o governo de Vladimir Putin.
A Gazprom, companhia estatal sob controle do líder russo, reduziu a exportação de gás natural para a Europa. O volume exportado por meio do gasoduto Yama-Europe, um dos principais do continente, caiu em cerca de 90% no último fim de semana.
Quase metade do gás natural importado pela União Europeia vem da Rússia. Além de ser uma fonte de energia importante, o gás vindo da Rússia tem uma aplicação a mais durante o inverno no hemisfério norte: o aquecimento de casas e prédios. Por isso, a redução no fornecimento tem gerado incertezas. Como não é possível ficar sem o produto, os países da União Europeia precisam adquirir o gás de fontes mais caras, como a Argélia, o que tem um impacto sobre toda a economia.
Em situação econômica fragilizada, como consequência da pandemia, a Rússia tem tentado lucrar mais com o comércio de gás natural — e, para isso, reduziu a oferta de forma a aumentar o custo do produto.
Além disso, analistas enxergam na medida uma tentativa de chantagear os países europeus a firmarem contratos mais vantajosos para os russos. Um dos entraves é a liberação do Nord Stream 2, um gasoduto recém-construído e que atravessa o oceano antes de chegar à Alemanha. O projeto é questionado por seu impacto ambiental e geopolítico (o “desvio” de rota por meio do mar evita que o gasoduto passe por países como Ucrânia e Polônia). A Alemanha tem sido pressionada pela Rússia a oferecer a certificação para o gasoduto de forma célere.
Segundo o professor Argemiro Procópio, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, a tática russa de fechar as torneiras para obter vantagens comerciais e geopolíticas já foi usada outras vezes. “Essa diplomacia energética da Rússia com a União Europeia não é nova, mas tem passado por vários sobressaltos. E, ao contrário de muitos outros produtos que a União Europeia pode boicotar, ela não pode declarar um boicote ao gás russo porque não tem oferta suficiente de outros países”, explica ele.
Nos últimos anos, a leitura dos analistas era a de que dificilmente a Rússia adotaria uma estratégia mais radical (de subir significativamente o preço do gás ou de reduzir radicalmente os envios para a União Europeia) porque o país de Putin depende economicamente das vendas de gás para a Europa. Entretanto, a situação tem mudado nos últimos anos graças à ascensão da China. “Existe outro ator hoje nesse comércio do gás, e de olhos abertos. Se a Europa não quiser, a China compra amanhã. O gás é sumamente importante para o desenvolvimento não só europeu e também o chinês”, afirma o professor Procópio.
Apesar da oscilação na Bolsa de Valores, as repercussões dessa queda-de-braço para o Brasil são menos evidentes. Para o professor, as oscilações na bolsa têm mais a ver com a especulação do que com impactos concretos da queda de braço na Europa — a não ser que a crise se prolongue e se aprofunde, afetando a capacidade de investimento as empresas europeias.
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