Presidente do BC defende a autonomia do banco e diz que prêmio de risco aumentou com incertezas sobre a próxima gestão da autarquia
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, rebateu nesta terça-feira, 2, as recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defendeu a atuação independente da instituição. Durante evento de bancos centrais em Sintra, Portugal, Campos Neto enfatizou a importância de separar as decisões técnicas, sublinhando que o BC precisa operar de maneira autônoma para cumprir sua missão.
“Olhando para o futuro próximo, o principal risco para a economia brasileira é fiscal”, afirmou Campos Neto. Ele enfatizou que, para o BC executar bem seu trabalho, é crucial se afastar das discussões políticas e focar decisões técnicas baseadas em dados. “A história vai mostrar que o trabalho foi feito da melhor maneira com os dados que tínhamos à mão, da maneira mais técnica”, disse.
Lula, mais uma vez em entrevista nesta manhã, criticou a postura do BC, afirmando que a autarquia não deve estar a serviço do mercado. Em resposta, Campos Neto destacou que, mesmo durante o último ano de mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, que o indicou ao cargo, o BC tomou decisões difíceis e impopulares, como o aumento significativo da taxa de juros de 2% para 13,75% ao ano. “Foi o maior aumento de juros em um ano de eleição nos mercados emergentes. Se isso não é prova de que somos independentes e agimos com autonomia, quero ver encontrar exemplo melhor”, disse.
A atual turbulência política e a percepção de risco fiscal têm repercutido diretamente nos mercados financeiros. Os depósitos interfinanceiros subiram, refletindo um aumento do prêmio de risco do Brasil, com a taxa para janeiro de 2027 ultrapassando 12%, uma alta de 5 pontos em relação ao dia anterior. Segundo Campos Neto, a elevação da curva reflete a incerteza sobre a futura liderança do BC e suas políticas. O diretor de política econômica do Banco Central, Gabriel Galípolo, é um dos nomes cotados para assumir a presidência da autarquia. Em seus discursos, Galípolo, que foi indicado por Lula para a cadeira no BC, tem demonstrado um alinhamento claro com a postura de Campos Neto, defendendo a atuação independente do BC como essencial para cumprir sua missão de controlar a inflação e cumprir a meta.
Nesse clima de maior aversão a risco, o dólar segue escalando, fechando a segunda-feira cotado a R$ 5,65, o maior patamar desde janeiro de 2022. Por volta das 14h, o dólar comercial encostava nos R$ 5,70.
Campos Neto reconheceu que os ruídos e expectativas desencontradas foram determinantes para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de interromper o ciclo de queda da taxa Selic, e destacou que a decisão foi unânime, incluindo o apoio dos quatro diretores indicados pelo presidente Lula.
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