Em mais uma declaração polêmica, o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidiário José Dirceu voltou a afirmar que o governo Lula é, na prática, sustentado por uma base política de centro-direita. A declaração foi feita nesta terça-feira (17), em entrevista à GloboNews, e reacendeu o debate sobre a fragilidade da esquerda no atual cenário político brasileiro.
Para Dirceu, um dos principais articuladores do escândalo do Mensalão, essa seria uma “realidade eleitoral” à qual o campo progressista teve que se submeter após anos de declínio político e desgaste junto à opinião pública.
“Todos se lembram que eu disse que era um governo de base de centro-direita. É a realidade eleitoral”, declarou, justificando a aliança com nomes como Geraldo Alckmin como uma estratégia de sobrevivência após a crise política deflagrada desde 2013.
A fala escancara o recuo ideológico do PT, que, após enfrentar processos de impeachment, denúncias de corrupção e a prisão de seus principais líderes, perdeu sua capacidade de liderar uma agenda genuinamente de esquerda. Dirceu, longe de ser uma voz técnica ou neutra, tenta emplacar a narrativa de que a esquerda foi “interditada” — ignorando o papel do próprio partido na derrocada institucional da esquerda no país.
Ao afirmar que a eleição de Lula em 2022 não representou uma vitória do PT, mas sim do “antibolsonarismo”, Dirceu minimiza a legitimidade do discurso petista e evidencia a dependência do partido em alianças pragmáticas que pouco têm a ver com seu ideário original.
“Tivemos que nos defender… eleger Lula presidente, que era quase impossível, mas com a aliança com Alckmin e uma frente ampla foi possível”, reconheceu.
O ex-ministro também não escondeu o incômodo interno no PT com a composição do atual governo. Segundo ele, há “indignação” dentro do partido quando se afirma que Lula montou um governo de centro-direita — mas, ainda assim, o petista insiste em que essa foi a única via possível.
O que Dirceu tenta vender como “realismo político” pode ser visto por muitos como uma confissão de derrota ideológica. A esquerda, que por décadas pregou coerência e confronto com as elites conservadoras, hoje se vê aliada a elas — sob a batuta de um governo que não representa sua agenda histórica.
A declaração, vinda de alguém com histórico comprometido e que carrega a marca dos maiores escândalos de corrupção da história brasileira, lança ainda mais dúvidas sobre os rumos do governo e expõe a crise de identidade da esquerda no Brasil contemporâneo.
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