O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca nesta segunda-feira (16) para sua nona participação em uma cúpula do G7, agora em Kananaskis, na província de Alberta, no Canadá. Embora trate os convites ao seleto grupo das maiores economias ocidentais como um gesto de prestígio e influência internacional do Brasil, a trajetória de Lula nas reuniões do G7 revela um padrão recorrente: discursos ambiciosos, críticas à ordem global e quase nenhum resultado concreto.
Discursos Repetidos, Resultados Limitados
Desde a sua estreia no G7 em 2003, na França, Lula tem insistido em temas como combate à fome, redução da pobreza, maior apoio à África e reformas na governança internacional. Na ocasião, propôs um fundo global contra a fome — ideia que foi solenemente ignorada pelos líderes do bloco. Em 2005, no Reino Unido, voltou a pressionar por recursos aos países pobres, resultando na promessa de US$ 50 bilhões para a África, dos quais apenas parte foi efetivamente liberada.
O ponto alto das tensões ocorreu em 2008, quando o presidente brasileiro afirmou que o G8 (como era conhecido antes da exclusão da Rússia) estava perdendo relevância e defendeu sua substituição pelo G20 como principal fórum global. Em 2009, chegou a levar para a mesa do G7 a antiga reivindicação pela eliminação dos subsídios agrícolas — tema que arrasta-se desde a Rodada de Doha da OMC — e só viu avanços significativos anos depois, em negociações fora do bloco.
Lula no Século XXI: Mais Retórica do que Influência
De volta ao poder em 2023, Lula manteve o tom crítico nas cúpulas. No Japão, reforçou seu apelo por reformas no Conselho de Segurança da ONU, condenou o multilateralismo “excludente” e criticou a divisão geopolítica entre países ocidentais e orientais. Tentou se encontrar com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, mas a reunião fracassou, expondo a falta de sintonia com o principal conflito da atualidade.
Na cúpula seguinte, em 2024, realizada na Itália, Lula insistiu na inclusão da Rússia nos diálogos de paz sobre a guerra na Ucrânia — uma proposta amplamente rechaçada pelos demais participantes. O documento final da reunião reforçou o apoio à Ucrânia e ignorou completamente as sugestões brasileiras. Lula também criticou o aumento dos gastos militares da Otan, mas sem qualquer repercussão prática: o bloco seguiu discutindo a elevação da meta de investimentos em defesa de 2% para 5% do PIB.
2025: A Mesma Retórica, o Mesmo Isolamento
Agora, em 2025, Lula retorna ao G7 com o mesmo discurso que o acompanha desde seu primeiro mandato. Apesar da crítica reiterada ao modelo de governança global, insiste em participar das cúpulas do G7, talvez na esperança de que sua presença consiga furar a bolha de interesses pré-definidos entre Estados Unidos, Europa e aliados estratégicos.
A agenda oficial da cúpula canadense prevê discussões sobre segurança energética e preservação das florestas — temas nos quais o Brasil poderia exercer protagonismo real. No entanto, com uma postura muitas vezes desalinhada com o grupo e um discurso que insiste mais em críticas do que em soluções práticas, Lula novamente corre o risco de ser apenas mais uma voz solitária no salão.
Além do Brasil, participam como convidados África do Sul, Austrália, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Índia, México e Ucrânia — países que, em geral, adotam uma diplomacia mais pragmática e com resultados mais tangíveis em seus respectivos interesses.
O histórico de Lula nas cúpulas do G7 mostra que prestígio internacional não se traduz, necessariamente, em influência real. O petista tem acumulado convites, discursos e cobranças, mas segue sendo ignorado nos temas centrais pelos líderes das principais economias do mundo.
Na prática, o G7 continua tomando decisões sem considerar o protagonismo que Lula tanto reivindica para o Brasil e os países em desenvolvimento. E, ao que tudo indica, essa realidade não mudará tão cedo — independentemente de quantas vezes o presidente brasileiro volte a discursar nos encontros do grupo.
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